Familiares de vítimas de feminicídio sabiam da situação de violência, alerta delegada

Em palestra proferida em Lucas do Rio Verde, Judá Marcondes citou que 80% das vítimas não solicitaram medidas protetivas junto à justiça

Fonte: CenárioMT

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(Foto: Ascom Prefeitura/Andrew Aragão)

Lucas do Rio Verde sedia nesta sexta-feira (15) uma audiência pública do Senado Federal para discutir mecanismos de proteção a mulheres vítimas de violência doméstica. A audiência foi idealizada pela senadora Margareth Buzetti, primeira-dama e secretária de Assistência Social e Habitação, Janice Ribeiro e presidente da Câmara Municipal Sandra Barzotto. O evento será transmitido pela TV Senado e contará com autoridades nacionais, estaduais e municipais.

Durante esta semana o assunto foi tema de uma palestra com a delegada Judá Marcondes, titular da Delegacia da Mulher de Cuiabá. Ela foi responsável por um levantamento feito com vítimas de violência no Estado em 2023. A delegada trouxe informações sobre essa apuração.

Conforme a delegada, cerca de 80% das vítimas de feminicídio não haviam solicitado medidas protetivas da justiça, um mecanismo que restringe a abordagem do acusado de violência doméstica com a vítima.

Outro dado apresentado é relacionado ao comportamento de pessoas próximas às vítimas. “A família (da vítima) sabia que ela estava sofrendo violência. A família poderia ter ajudado, poderia ter denunciado, poderia ter ido à delegacia, nos procurado, poderia ter procurado a rede de proteção, a prefeitura, em outros setores que poderia chamar essa mulher, convencê-la a registrar a ocorrência, solicitar medidas protetivas”, enfatizou a delegada.

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O saldo da tragédia é a destruição da família, pois geralmente as vítimas de feminicídio têm filhos, que acabam órfãos. “Geralmente o pai da criança, vai preso, a mulher morta e a criança extremamente vulnerável, e uma criança que presenciou a violência por muitos anos. Então é importante que toda sociedade se sensibilize e denuncie nesses casos de violência”.

Durante a palestra, Judá Marcondes falou que os casos de violência física iniciam com violência psicológica, de forma sorrateira. “Só que ela é um agente facilitador para outras violências. Ela está presente em praticamente todas as outras violências, porque facilita, porque ela ocorre de uma forma que as pessoas não percebem. É, como por exemplo, aquele homem que fala mal do corpo da mulher, ele começa a falar as vezes com brincadeiras, durante o almoço, perante as outras pessoas ou isoladamente com ela”, descreve a delegada, citando que o agressor usa estratégias para manipular a vítima. “A ponto de ela perder a percepção da realidade, dela achar que ela é tudo aquilo que ele fala a ponto de sofrer violências e suportar por acreditar merecer aquelas violências”.

Por fim, a delegada orienta eventuais vítimas de violência psicológica a procurarem apoio na rede de proteção. “Em 2023 foram 46 e apenas 8 mulheres solicitaram medidas protetivas. Isso demonstra que quando a mulher se cala, ela abre um caminho pro feminicídio. Por isso é importante a denúncia”, reforça.

É formado em Jornalismo. Possui experiência em produção textual e, atualmente, dedica-se à redação do CenárioMT produzindo conteúdo sobre política, economia e esporte regional.