Facções criminosas assumiram o comando direto do garimpo ilegal na Terra Indígena Sararé, em Mato Grosso, conforme relatório divulgado nesta quarta-feira (19). O documento indica que grupos armados passaram a definir regras, controlar trabalhadores e gerenciar toda a estrutura de exploração mineral.
Segundo o estudo, a facção Comando Vermelho deixou de atuar apenas como fornecedora de armas e proteção e passou a administrar a atividade como verdadeira gestora, determinando quem entra na área, quais máquinas podem operar e como deve funcionar a logística de combustível, insumos e mão de obra.
O relatório detalha que a facção também impõe cobranças mensais em ouro, que variam entre 10 a 100 gramas, de acordo com o tipo de extração utilizada. A prática funciona como espécie de taxa obrigatória para permitir que grupos e trabalhadores permaneçam nos garimpos sob o domínio criminoso.
A Terra Indígena Sararé aparece hoje como o principal foco de garimpo ilegal no estado, apresentando estruturas amplas, com escavadeiras pesadas, acampamentos e balsas espalhadas por áreas remotas. Conforme o relatório, esse nível de organização só se sustenta graças ao suporte logístico fornecido pelas facções, interessadas em ampliar lucros e expandir influência territorial.
Entre 2023 e 2024, a área destruída pelo garimpo na região aumentou 93%, enquanto outras terras indígenas da Amazônia registraram redução. O avanço coincide com o fortalecimento da presença criminosa, que encontrou na extração de ouro uma fonte permanente de renda e um caminho para ampliar seu domínio sobre áreas pouco fiscalizadas.
Operações recentes mostram a escala da atividade
Entre agosto e outubro deste ano, ações de desintrusão coordenadas por órgãos federais destruíram ou apreenderam bens avaliados em R$ 237,5 milhões. As operações envolveram o Ministério dos Povos Indígenas, Ibama, Funai, Polícia Federal, Abin e Força Nacional, atingindo desde máquinas de grande porte até estruturas de apoio e equipamentos de alto valor.
Os pesquisadores descrevem o cenário como uma integração inédita entre crime organizado e crimes ambientais, na qual rotas de tráfico, desmatamento e mineração ilegal se sobrepõem. Esse arranjo cria um modelo de governança ilícita que concentra poder econômico e territorial nas mãos das facções, dificultando o enfrentamento e expondo indígenas, trabalhadores e comunidades da região a riscos crescentes.
Desafios e próximos passos
A Terra Indígena Sararé é apontada como uma das áreas mais impactadas do país pela mineração ilegal e pela atuação direta de organizações criminosas. Pesquisadores reforçam que ações isoladas não são suficientes para desarticular a estrutura instalada, defendendo medidas permanentes de fiscalização e políticas de proteção territorial.
As conclusões integram o relatório Cartografias da Violência na Amazônia, divulgado nesta quarta-feira.


















