Pesquisadores da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) e da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) investigam o potencial anticoagulante da planta amazônica Psychotria ipecacuanha, conhecida como poaia ou ipecacuanha. O estudo, divulgado pela Fapemat por meio do Edital nº 018/2022-Biológicas, busca desenvolver um novo fitoterápico brasileiro capaz de atuar na prevenção de tromboses e outras doenças cardiovasculares.
Pesquisa com base na biodiversidade brasileira
Coordenado pela professora Celice Alexandre Silva, o projeto analisa os alcaloides da espécie — especialmente a emetina e a cefalina —, compostos reconhecidos por suas propriedades antiparasitárias e citotóxicas. Conforme apurado pela reportagem, experimentos in vitro indicaram que esses compostos reduzem a formação de coágulos de forma dose-dependente, sugerindo potencial para uso em terapias antitrombóticas.
O grupo de pesquisa propõe o fracionamento dos extratos da planta para identificar as frações e moléculas responsáveis pela atividade anticoagulante. Essa etapa poderá determinar se a ação biológica é resultado de um único princípio ativo ou de uma combinação sinérgica entre os alcaloides.
Contexto e relevância farmacológica
Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e do Ministério da Saúde, doenças cardiovasculares continuam entre as principais causas de mortalidade no Brasil e no mundo. Embora existam medicamentos eficazes, o custo elevado e os efeitos colaterais ainda limitam o acesso de parte da população. O estudo da Unemat busca uma alternativa natural e acessível com base na flora amazônica.
A Psychotria ipecacuanha é tradicionalmente utilizada há mais de 300 anos na medicina popular brasileira, especialmente nas regiões Norte e Centro-Oeste. Além de suas propriedades terapêuticas conhecidas, a planta está ameaçada de extinção em algumas áreas do país, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Riscos e precauções
Apesar do potencial farmacológico, a professora Celice Silva alerta para os riscos da automedicação. “A emetina, principal alcaloide ativo, é tóxica em doses elevadas. Pode causar náusea intensa, arritmias cardíacas e insuficiência respiratória. Seu uso deve ser restrito a estudos científicos e controle médico”, afirmou.
O grupo de pesquisa agora se concentra no desenvolvimento de uma formulação in vivo, que poderá resultar em um novo fitoterápico nacional para o tratamento de doenças cardiovasculares.
Saiba mais
- Espécie: Psychotria ipecacuanha (Rubiaceae)
- Principais compostos: Emetina e Cefalina
- Edital de fomento: Fapemat nº 018/2022-Biológicas
- Instituições envolvidas: Unemat e UFRRJ
Reportagem baseada em informações da Fapemat, Unemat e entrevistas com pesquisadores envolvidos no estudo.

















