Uma pesquisa liderada por professores da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) revelou que as queimadas ocorridas no Brasil entre janeiro e agosto de 2024 geraram perdas e custos superiores a 25 bilhões de dólares. O estudo, publicado na renomada revista internacional Perspectives in Ecology and Conservation, quantifica os impactos econômicos provocados pelo fogo em áreas como biodiversidade, saúde pública, agricultura familiar e infraestrutura.
O artigo científico, intitulado “Wildfires and their toll on Brazil: Who’s counting the cost?” (Incêndios florestais e seu impacto no Brasil: quem está contabilizando os custos?), foi conduzido pelos professores visitantes Ernandes Sobreira, Juliano Bogoni e Wilkinson Lopes Lázaro, vinculados ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais (PPGCA) da Unemat. Ernandes e Wilkinson também atuam no Mestrado Profissional em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos (ProfÁgua).
Uma conta que não fecha: impactos incalculáveis
Os pesquisadores explicam que, embora o levantamento indique perdas bilionárias, os dados são conservadores, já que muitos efeitos das queimadas — especialmente os ecológicos e sociais — não podem ser quantificados. “As queimadas no Brasil não são apenas uma tragédia ambiental, constituem também um grave problema econômico e de saúde pública, com repercussões nacionais e internacionais”, afirma o pesquisador Claumir César Muniz, um dos colaboradores do estudo.
O trabalho chama atenção também para a baixa visibilidade das regiões do Sul Global nas pautas internacionais, mesmo sendo as mais afetadas pelos eventos extremos como os incêndios florestais.
Ciência regional com impacto global
Além da relevância dos dados, a publicação internacional consolida o papel da Unemat como referência nacional em pesquisas ambientais. “A publicação reforça o papel estratégico da Unemat na pesquisa ambiental brasileira e destaca sua contribuição para o avanço da ciência em temas críticos para o Estado, para o País e para o mundo”, destaca o professor Dionei José da Silva, também coautor do estudo.
A pesquisa mobilizou uma equipe interdisciplinar composta por professores, alunos, técnicos e egressos de diversos programas de pós-graduação da universidade: PPGCA, ProfÁgua, PPGasp (Ambiente e Sistemas de Produção Agrícola), Bionorte (Biodiversidade e Biotecnologia da Amazônia Legal) e do Centro de Pesquisa de Limnologia, Biodiversidade e Etnobiologia do Pantanal (Celbe).
Um alerta para a sociedade e para os formuladores de políticas
“Os incêndios florestais no Brasil e em outros países geram perdas significativas para a biodiversidade, afetando todos os seres vivos, incluindo fauna, flora e os próprios seres humanos. Além disso, provocam a contaminação do solo e dos corpos d’água, com impactos diretos na economia das regiões atingidas”, explica a pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação da Unemat, Áurea Ignácio.
Ela destaca que o estudo pretende sensibilizar a sociedade e os formuladores de políticas públicas sobre os custos reais das queimadas e subsidiar ações de mitigação. A expectativa é que o trabalho também sirva como base para decisões de agências de fomento, como a Capes e o CNPq, reafirmando o papel da ciência produzida nas universidades públicas brasileiras.
O estudo da Unemat chega em um momento crítico, diante do aumento das queimadas em diferentes biomas brasileiros e da urgência por políticas ambientais mais eficazes. A pesquisa não apenas escancara o tamanho da tragédia, mas também propõe um novo olhar sobre a ciência como instrumento de transformação social e ambiental.