O enfrentamento ao feminicídio em Mato Grosso exige, antes de tudo, quebrar o silêncio que cerca as vítimas de violência doméstica. Essa foi a principal conclusão de um encontro promovido pelo projeto Diálogos com a Sociedade, do Ministério Público de Mato Grosso (MPMT), que reuniu especialistas para debater o tema.
Participaram do evento a promotora de Justiça Ana Flávia de Assis Ribeiro e as delegadas da Polícia Civil Juliana Buzeti e Anna Paula Marien. A promotora ressaltou que, com o estado tendo a maior taxa de feminicídios do país em 2023, é crucial que as vítimas sintam confiança no sistema de Justiça para denunciar.
“A maioria das mulheres assassinadas não havia solicitado proteção anteriormente. Para mudar esse cenário, elas precisam se sentir acolhidas”, afirmou.
Dificuldades na investigação e a honra da vítima
As delegadas da Polícia Civil destacaram que as investigações de feminicídio enfrentam obstáculos técnicos. Dados do Observatório Caliandra do MPMT mostram que mais de 70% dos casos são cometidos dentro de casa, sem testemunhas.
A polícia, portanto, precisa contar com provas técnicas e vestígios para reconstruir a história, enquanto os autores muitas vezes tentam desqualificar as vítimas.
A delegada Anna Paula Marien reforçou que a violência não termina com a morte, já que a dignidade da vítima é frequentemente atacada mais uma vez.
Engajamento dos homens e mobilização social
Para as especialistas, a conscientização sobre a violência de gênero deve incluir também os homens, uma vez que o problema é um reflexo de uma cultura machista que só pode ser mudada com a participação de todos.
Elas reforçaram que a sociedade precisa estar atenta aos sinais de violência para apoiar as vítimas. “Cada denúncia pode salvar uma vida”, lembraram as convidadas, destacando que o diálogo, a informação e a mobilização social são fundamentais na luta contra o feminicídio.