Em alusão ao ‘Setembro Amarelo’, campanha nacional de prevenção ao suicídio, o Ministério Público de Mato Grosso realizou, nesta segunda-feira (30), a palestra “CVV – Centro de Valorização da Vida e o Setembro Amarelo”, voltada à conscientização e ao fortalecimento da cultura de cuidado e acolhimento. O evento híbrido aconteceu no auditório da Procuradoria-Geral de Justiça e foi transmitido também pela plataforma teams.
Na abertura, a subprocuradora-geral de Justiça de Planejamento e Gestão, Anne Karine Louzich Hugueney Wiegert, trouxe uma reflexão sobre o papel do Ministério Público na valorização da vida. “A modernidade bate à nossa porta, e falar sobre o tema e refletir sobre a valorização da vida e da existência humana é sempre uma oportunidade de auxiliar, estendendo as mãos, os ouvidos e o coração a todos aqueles que nos cercam. Olhar para cada ser humano, para a sua singularidade, reconhecer suas dores, suas potencialidades e fortalecer a rede de apoio que pode transformar medo em esperança.”
A promotora de Justiça Gileade Souza Maia, coordenadora do Núcleo de Qualidade de Vida no Trabalho – Vida Plena, destacou a urgência do tema e apresentou dados alarmantes. “Quando falamos de prevenir suicídio, estamos falando de salvar vidas, de cuidar uns dos outros. Segundo a OMS, mais de 700 mil suicídios são registrados anualmente no mundo. No Brasil, são cerca de 15.507 casos por ano, uma média de 42 mortes por dia. Em Mato Grosso, os casos também cresceram: foram 256% em dez anos, comparado com o período anterior. Em Cuiabá, houve aumento de 30% nos primeiros quatro meses deste ano em comparação com o mesmo período do ano anterior.”
A coordenadora do Vida Plena também mencionou os riscos elevados de adoecimento mental entre membros e servidores do Ministério Público, com base em estudo realizado pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “Os percentuais chegam a 92% entre membros e 87,5% entre servidores.”
A palestra foi ministrada por Ana Rosa Ramos Nunes, coordenadora do Serviço Comunidade Cuiabá do Centro de Valorização da Vida (CVV), e mediada pela psicóloga Luciana Auxiliadora Fontes Kalix, especialista em saúde mental e atenção psicossocial.
Ana Rosa trouxe uma abordagem sensível sobre a importância da escuta ativa. “Vivemos em sociedade, interagimos com pessoas. Precisamos aprender a prestar atenção nelas. Às vezes, tornamos as pessoas invisíveis perto de nós. O medo do julgamento faz com que muitos escondam seu sofrimento. Precisamos quebrar esse silêncio e abrir espaços de escuta confiáveis, onde a pessoa possa ser quem ela é, sem críticas, sem conselhos prontos, mas com acolhimento verdadeiro.”
Ela comparou a luta contra o suicídio com outras campanhas de saúde pública bem-sucedidas, a exemplo do câncer e da Covid-19. “A conscientização salva vidas. Com o suicídio não pode ser diferente. Precisamos de espaços de escuta que sejam ambientes confiáveis, impermeáveis, onde a pessoa possa se expressar sem medo.”
A palestrante ainda falou sobre a desconstrução de mitos sobre o tema e os sinais que possibilitam identificar grupos de risco, a exemplo de familiares de pessoas que cometeram suicídio. “Cada número representa uma vida. E uma vida perdida afeta famílias, amigos, comunidades inteiras. A valorização da vida tem que acontecer todos os dias e em todos os momentos. Podemos fazer parte deste movimento pela vida conversando com quem está ao nosso redor.”
A palestra foi promovida por meio do Núcleo Vida Plena com apoio do Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional (Ceaf) – Escola Institucional, e foi destinada a servidores e membros do MPMT, com o objetivo de promover a reflexão sobre a valorização da vida, saúde mental e prevenção ao suicídio, fortalecendo o autocuidado e a cultura institucional de apoio mútuo.