Ações de resgate de animais atingidos pelo fogo são intensificadas no Pantanal

A estrutura foi iniciada no dia 30 de agosto e desde então já recebeu mais de 13 animais de pequeno e grande porte

Fonte: CenárioMT

09Ações de resgate de animais atingidos pelo fogo são intensificadas no Pantanal2020 09 11 17:43:39
Resgate e tratamento de animais durante as queimadas no Pantanal - Foto por: Mayke Toscano - SECOM/MT

Para reforçar a tentativa de preservação das espécies e manutenção do ciclo da cadeia alimentar, o Comitê Estadual de Gestão do Fogo, gerenciado pelo Governo de Mato Grosso tem realizado uma força-tarefa diária no resgate dos animais que apresentam ferimentos causados pelas queimadas ou lesões sofridas durante o trajeto para escapar.

Localizado no quilômetro 17 da Transpantaneira, que liga o município de Poconé a Porto Jofre, o Posto de Atendimento a Animais Silvestres (PAEAS) foi montado para fazer os primeiros socorros e tratá-los para que possam retornar ao habitat natural com segurança. O PAEAS Pantanal integra as ações do Centro Integrado Multiagências (Ciman-MT).

“O Comitê tem como missão fortalecer as ações de prevenção, preparação e resposta, a fim de reduzir os danos econômicos, sociais e ambientais causados pelos incêndios florestais. Para isso, ele interage com algumas agências e exerce papel fundamental neste cenário de combate.  Agora, devido a gravidade, focamos também no salvamento e resgate de animais silvestres”, explicou Paulo André da Silva Barroso, secretário executivo do Comitê Estadual de Gestão do Fogo (CGF) e coordenador do PAEAS.

A estrutura foi iniciada no dia 30 de agosto de 2020 e desde então já recebeu mais de 13 animais de pequeno e grande porte, como onças, lobetes, iguana, anta, jabuti, garça, jaguatirica; entre outros. Em casos de cirurgia ou atendimentos mais graves, os animais são encaminhados para clínicas parceiras ou instituições ecológicas de outros Estados do Brasil.

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Esta semana estão em acompanhamento um tuiuiú que foi encontrado próximo a uma pousada com fratura em uma das asas, uma maritaca machucada e com dificuldades para voar, e um pequeno roedor com queimadura nas patas e que foi resgatado próximo a uma fazenda atingida pelas queimadas.

O posto funciona com apoio das secretarias estaduais de Meio Ambiente, Segurança Pública, Saúde, universidades federais (UFMT e IFMT), Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, Polícia Ambiental, Marinha, Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-MT), Ordem dos Advogados do Brasil, ONG Ampara Silvestre, Clínicas Veterinárias, Ibama, Prefeitura Municipal, trabalho voluntário e doações.

A estrutura para abrigar os animais conta com ambulatório, almoxarifado, armário com medicamentos, alojamentos, cozinha, banheiro e recintos específicos para os bichos. Os recintos para transporte animal e tratamento foram feitos com a mão de obra de reeducandos e uso de madeira apreendida.

A equipe de resgate é formada por veterinários, biólogos, e estagiários que se revezam na operação realizada em períodos alternados em áreas queimadas ou que o fogo pode chegar, seja durante o dia ou noite. Eles são responsáveis por resgatar e também distribuir alimentos em pontos estratégicos para que os bichos consigam localizar e se alimentar. O grupo conta com o suporte do Corpo de Bombeiros em todas as ações, devido ao perigo dos incêndios ou animais maiores que apresentam riscos.

Assim como os ferimentos, os sinais de desidratação e falta de alimentação também preocupam. A dimensão dos incêndios tem surpreendido e entristece até os mais experientes.

“Eu não imaginava a gravidade do que está acontecendo aqui e o tamanho da área afetada por esses incêndios. Aparentava ser um controle simples de só apagar as chamas, mas quando o fogo termina em uma parte, já percebemos ele começando em outra”, relatou o médico veterinário e voluntário, Fernando Rogério, que está há quase uma semana no Pantanal para auxiliar nos resgates.

O biólogo Kairo Rodrigues, passou três dias no PAEAS atuando como voluntário e destacou como foi a experiência.

“A minha sensação é de fazer parte de algo muito maior, porque a biodiversidade que existe aqui é única no mundo. Essa vivência tem um valor imensurável e não tem como explicar o que sentimos com palavras. Por mais que passamos por fumaça, seca, calor intenso –  a gente dá o nosso melhor”, contou o biólogo.

A identificação dos pontos para distribuição de frutas e legumes é feita com base em localização de corixos (ambientes com poças de água). Estes são localizados com uso de aplicativo e monitoramento das equipes que avaliam também a questão do consumo dos alimentos, conforme explicou a médica veterinária Karen Ramos. Ela é responsável por liderar as equipes de trabalho em campo do PAEAS.

“Temos monitorados os corixos. Normalmente os animais que sofreram vão para essas regiões e fazemos uma ronda para possivelmente encontrar os animais queimados. Não há uma quantidade exata de alimento colocado, mas deixamos uma caixa de frutas e um cocho de 140 litros de água. Conforme acontece a redução do insumo, fazemos a reposição”, disse.

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O trabalho segue sem previsão para terminar e a expectativa é de que as chuvas previstas para o mês de outubro possam contribuir para amenizar os impactos no meio ambiente e na vida animal. Ainda não há um levantamento sobre a porcentagem de animais encontrados mortos ou quantos estariam ameaçados pelos incêndios.

Refúgio

As equipes do Corpo de Bombeiros com o apoio de tratores estão fazendo demarcações em uma área de 50 quilômetros para criar uma espécie de aceiro (faixas ao longo das cercas onde a vegetação foi completamente eliminada da superfície do solo). A finalidade é prevenir a passagem do fogo para área de vegetação, evitando-se assim queimadas e criando também espaços para que os animais como onças e outras espécies menores possam escapar do fogo.

Como ajudar

A população pode apoiar o resgate dos animais doando utensílios e medicamentos veterinários conforme lista disponível no site do Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-MT) ou pela vaquinha virtual organizada pela ONG Ampara Silvestre.

Os medicamentos e utensílio veterinários podem ser entregues na sede do CRMV-MT localizada na Rua Choffi (Ten. Tavares), 178, Santa Rosa – Cuiabá-MT. (Atrás do supermercado Extra da Miguel Sutil) de segunda a sexta-feira das 8h às 17h. O cadastramento de voluntários também pode ser feito pelo site.

Combate aos incêndios

Cinco equipes atuam nas regiões incendiadas no Pantanal durante a Operação Pantanal II. As queimadas já duram mais de 70 dias e se propagaram na estrada Transpantaneira Setor Norte e Sul (Porto Jofre) e áreas próximas a reserva Sesc Porto Cercado.

Seis aeronaves são utilizadas para monitorar e reconhecer os novos focos de calor. A região do Parque Encontro das Águas já teve mais de 50% de sua área danificada. Este ponto é considerado um dos mais preocupantes pelo plano operacional. A localidade é conhecida pela alta concentração de onças pintadas e teve 51 mil hectares, do total de 108 mil hectares, queimados pelo fogo iniciado há cerca de oito dias.