Filme retrata violência com coragem e destaca resistência materna

Longa de Anna Muylaert estreia no Festival Cinesur, em Bonito, e mostra a trajetória de uma mãe que foge de um lar abusivo para proteger seus filhos.

Fonte: CenárioMT

Ouro Preto (MG), 26/06/2025 - Cena do filme A melhor mãe do mundo. Foto: Universo Produção/Divulgação
Foto: Universo Produção/Divulgação

Uma mãe preta, catadora de recicláveis, enfrenta a violência doméstica e a exclusão social ao fugir com os filhos pelas ruas de São Paulo. Essa é a história de Gal, personagem central do novo filme de Anna Muylaert, A Melhor Mãe do Mundo, que será exibido no Festival de Cinema Sul Americano de Bonito (Cinesur).

Protagonizado por Shirley Cruz e Seu Jorge, o longa teve sua estreia mundial no Festival de Berlim e vem sendo reconhecido internacionalmente por sua força narrativa. Já conquistou prêmios importantes nas categorias de atuação, roteiro, fotografia e edição.

Segundo a atriz Shirley Cruz, Gal representa a figura da mãe brasileira em sua essência: “Ela é a leoa que carrega os filhos e o mundo nas costas. Ama incondicionalmente, mesmo diante da dor”.

O filme aborda a violência doméstica sob a perspectiva da sobrevivência, da maternidade e da dignidade. A fuga se transforma em uma aventura para proteger os filhos da realidade dura do lar e das ruas. Ao longo da trama, Gal encontra apoio em uma ocupação em São Paulo, destacando a importância das redes de solidariedade.

“A ocupação oferece a ela dignidade e pertencimento. Se políticas públicas institucionalizassem essas redes, muitas mães poderiam recomeçar”, afirma Muylaert.

Shirley Cruz, premiada nos festivais de Guadalajara e Recife, destaca o impacto pessoal do papel. “É um papel que esperei a vida inteira. Como mulher, mãe e mulher preta, esse trabalho é profundamente simbólico”, disse.

Com mais de duas décadas de carreira, a atriz lembra sua trajetória desde Cidade de Deus e destaca a importância de dar visibilidade às múltiplas violências enfrentadas pelas mulheres. “São violências primitivas, normalizadas, e o Brasil tem estatísticas alarmantes nesse sentido”, alerta.

Anna Muylaert, também diretora de Que Horas Ela Volta?, volta a tratar das desigualdades sociais e do papel político das mães. Para ela, Gal representa o abandono institucional, mas também a possibilidade de transformação por meio do coletivo.

Ao longo da narrativa, a personagem finge que a dura realidade das ruas é apenas uma brincadeira, protegendo a inocência dos filhos. “Ela decide romper com o ciclo de violência para evitar que sua filha repita esse sofrimento”, explica a diretora.

O filme, em formato de road movie, se desenvolve como uma jornada de descobertas e transformação. Muylaert espera que a obra gere reflexão e empatia: “Gal representa a mulher preta, a mãe solo, a catadora, e merece reconhecimento, não apenas como personagem, mas como símbolo de resistência”.

O Festival Cinesur, onde o filme será exibido em 31 de julho, contará com 63 filmes de nove países sul-americanos. Além das exibições, o evento promove oficinas, debates e seminários com entrada gratuita.