Honestino, novo filme de Aurélio Michiles, emocionou o público na abertura do Festival do Rio nesta quinta-feira (10), no Cine Odeon, no centro da capital fluminense. A obra revisita a trajetória de Honestino Guimarães, líder estudantil desaparecido na ditadura militar, unindo documentário e ficção em uma narrativa sensível e potente.
Amigo pessoal do homenageado e ex-integrante do movimento estudantil, Michiles contou que a decisão de dirigir o filme foi difícil. “O Honestino sempre esteve no horizonte das minhas realizações, mas faltava coragem. É uma história que também fala de um Brasil injusto e violento”, afirmou.
Produzido por Nilson Rodrigues, o documentário mistura entrevistas, arquivos históricos e encenações com o ator Bruno Gagliasso no papel principal. Essa abordagem aproxima o personagem do presente e reforça a atualidade da sua luta. “Nosso propósito é não deixar o personagem congelado numa fotografia antiga, mas torná-lo vivo. O ontem é hoje e o hoje pode ser o futuro”, disse o diretor.
A inspiração definitiva para o projeto veio quando Michiles assistiu a um vídeo da neta de Honestino durante a reinauguração da ponte que leva o nome do líder em Brasília. “Ela dizia que queria ouvir a história do avô contada por ele mesmo. Aí percebi que era hora de contar essa história”, recordou.
O resultado é um docudrama que reconstitui a trajetória de Honestino desde 1968, quando liderava a UNE, até seu desaparecimento em 1973, aos 26 anos. Para Gagliasso, o projeto é mais do que um tributo: “Tentaram silenciar o Honestino há 50 anos, mas o silêncio não venceu. Ele defendia educação, liberdade e democracia. É um filme sobre o presente.”
Rodrigues destaca que o longa encerra uma trilogia sobre a ditadura, iniciada com O Outro Lado do Paraíso (2014) e seguida por O Pastor e o Guerrilheiro (2022). “O Honestino merecia ter sua história contada. Temos um compromisso com a memória de quem lutou pela democracia”, ressaltou o produtor.
A trilha sonora, assinada por Flávia Tygel, reforça o tom emocional. “Precisava transmitir repressão e perigo, mas também poesia e esperança. Honestino é liberdade”, explicou. A canção final, O Coro dos Canalhas, interpretada por Fafá de Belém, encerra o filme com intensidade.
Durante a sessão de estreia, o público reagiu com emoção. A professora de História Maria Solange Melo Lins destacou a importância do longa para as novas gerações. “Precisamos resgatar essas histórias para que nossos alunos entendam o que foi a ditadura. O cinema é uma ferramenta poderosa para isso.”
Competindo na mostra principal do Festival do Rio, o filme deve estrear nos cinemas em maio de 2026. “É uma obra sobre memória, coragem e verdade. Sobre o Brasil que fomos e o que ainda somos”, concluiu Michiles.