Escritor marfinense GauZ compara violência em Gaza à colonização e discute desigualdade no Brasil

O escritor GauZ, em sua primeira visita ao Brasil, destaca a persistência da desigualdade social e faz uma analogia entre o conflito em Gaza e a história colonial brasileira.

Fonte: CenárioMT

Salvador (BA), 09/08/2025 - O escritor marfinense GauZ' fala sobre seu primeiro livro De pé, tá pago na mesa Com a palavra o escritor na Casa Motiva durante a Festa Literária Internacional do Pelourin
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

O escritor marfinense Armand Patrick Gbaka-Brédé, conhecido como GauZ, esteve pela primeira vez no Brasil e compartilhou suas impressões sobre o país, ressaltando tanto a riqueza da cultura negra quanto os desafios da desigualdade social. Em entrevista exclusiva, ele afirmou que a ideia que tinha do Brasil antes da chegada se transformou diante da realidade vivida no país.

GauZ destacou a complexidade da miscigenação brasileira, reconhecendo que, embora ela tenha se iniciado de forma violenta, continuará acontecendo de maneira natural e humanista. Para ele, o Brasil serve como exemplo de um futuro inevitável onde as populações se misturam sem imposição.

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“Em 100 anos, será obrigatório que o mundo seja como o Brasil porque as pessoas vão se misturar pela vontade e não pela violência”, afirmou.

Um dos choques para o escritor foi constatar a desigualdade social no Brasil, especialmente o fato de que brancos e negros pobres convivem na mesma condição de vulnerabilidade. Essa percepção reforça que as divisões são, acima de tudo, sociais e não exclusivamente raciais.

Participando da Festa Literária Internacional do Pelourinho (Flipelô), em Salvador, GauZ falou sobre escravidão, imigração e colonialismo. Ele explicou que o conceito de África como continente foi moldado pela violência da escravidão, que uniu diferentes povos no navio negreiro.

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“A violência moral e cultural da escravidão criou a África como a conhecemos hoje”, disse o escritor.

Ao comparar a escravidão histórica com o atual conflito em Gaza, GauZ apontou que ambas as situações são frutos da colonização europeia. Para ele, a solução para o conflito palestino não reside em Israel, mas nos países europeus que deram origem a essa violência.

“O que está acontecendo em Gaza é o mesmo processo colonial que aconteceu na América Latina e no Brasil”, destacou, ressaltando que a consciência do passado é fundamental para buscar justiça verdadeira.

O escritor defende que os países europeus assumam a responsabilidade histórica por suas ações e que não é justo que outros povos paguem por esses erros atuais. Ele citou o princípio jurídico do paralelismo das formas para sustentar essa ideia.

Experiência e obra

Na Casa Motiva, no Pelourinho, GauZ apresentou seu livro De pé, tá pago, lançado no Brasil após 11 anos da publicação original. A obra retrata a realidade dos imigrantes africanos em Paris, frequentemente relegados a trabalhos precários, especialmente na função de segurança de lojas.

“Na França, quase todos os seguranças são homens negros, o que revela uma relação direta entre pigmentação da pele, situação social e geografia”, explicou.

Ele criticou o sistema capitalista ao destacar que a ideia de segurança nas lojas é uma construção que justifica o controle social, criando uma falsa sensação de perigo para impulsionar o consumo.

Além de abordar o racismo e a imigração, o livro questiona o capitalismo e sua influência nas relações sociais, usando ironia e humor como ferramentas para provocar reflexão e conexão com o leitor.

GauZ afirma que sua escrita propõe uma nova literatura, que foge ao formato tradicional e utiliza a inteligência compartilhada como base para o humor presente na obra.

O evento Flipelô, que contou com a participação do escritor, encerrou sua programação no domingo.

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Gustavo Praiado é jornalista com foco em notícias de agricultura. Com uma sólida formação acadêmica e vasta experiência no setor, Gustavo se destaca na cobertura de temas relacionados ao agronegócio, desde insumos até tendências e desafios do setor. Atualmente, ele contribui com análises e reportagens detalhadas sobre o mercado agrícola, oferecendo informações relevantes para produtores, investidores e demais profissionais da área.