No bairro do Andaraí, zona norte do Rio de Janeiro, as ruas ficaram tomadas por crianças com mochilas e sacolas, ansiosas para garantir o máximo de guloseimas no Dia de Cosme e Damião. A cena se repetiu em diferentes esquinas: carros e moradores distribuíram saquinhos de doces em meio a correria, risadas e até disputas de maria-mole.
Entre os devotos, estava o comerciante José Henrique Nunes, que cumpre uma promessa após a cura do filho. “Esse menino teve meningite com apenas 20 dias de vida. Fiz o compromisso de, por sete anos, participar da missa e entregar doces”, contou, emocionado.
A aposentada Tânia Ponciano, 65 anos, também chamou a atenção. Ela preparou maçãs cobertas de chocolate para a distribuição. “Minha devoção vem da família, ligada à umbanda. É uma missão que seguimos com muito amor”, disse, enquanto era cercada pelas crianças.
A festa, marcada por doces e fé, tem origem cristã, mas no Brasil se uniu às tradições de matriz africana. No sincretismo religioso, os Ibejis, orixás associados à infância, são representados por Cosme e Damião, médicos que viveram no século III na Ásia Menor. Assim, a data ganhou o simbolismo da infância e das guloseimas.
Na paróquia local, o padre Walter Almeida Peixoto destacou a diferença de visões entre religiões. “Para o catolicismo, Cosme e Damião são homens, médicos. Nas religiões de matriz africana, eles são identificados como crianças. Não é a nossa fé, mas existe uma conexão”, explicou.
Além da celebração religiosa, a programação do Encontro de Povos de Terreiro segue até 5 de outubro no Rio, com distribuição de doces, atividades infantis e contação de histórias. Para os pequenos, o dia é pura festa e alegria.