Um ano após a privatização da Sabesp, a maior companhia de saneamento do país, a empresa acumula aumento na receita, maior fluxo de dividendos e redução significativa no quadro de funcionários.
Concluída em 23 de julho de 2024, a venda de 32% das ações gerou R$ 14,7 bilhões aos cofres públicos. A Equatorial Participações e Investimentos adquiriu 15% das ações, tornando-se investidora de referência sem concorrência. Os demais 17% foram vendidos a pessoas físicas, jurídicas e funcionários. O preço de cada ação foi fixado em R$ 67, abaixo do valor de mercado da época. Atualmente, os papéis são negociados a cerca de R$ 110.
Desde a desestatização, foram investidos R$ 10,6 bilhões pela companhia, que promete universalizar os serviços de água e esgoto até 2029, antecipando a meta em quatro anos. A expectativa é captar até R$ 70 bilhões em investimentos nesse período, parte deles via emissão de debêntures e financiamento no mercado.
Do ponto de vista trabalhista, o impacto é considerável. Mais de 2 mil funcionários foram desligados, sendo metade apenas no primeiro trimestre deste ano. A redução representa cerca de 10% do quadro. O Sindicato dos Trabalhadores em Água e Esgoto de São Paulo (Sintaema) alerta para o avanço da terceirização e o enfraquecimento do controle público, além de riscos à qualidade dos serviços, especialmente em áreas periféricas e com maior vulnerabilidade.
Duas ocorrências graves de vazamentos em vias fluviais e denúncias de cobrança abusiva em contas de água motivaram, inclusive, o pedido de abertura de CPIs. Enquanto a Câmara de São Paulo rejeitou a proposta, em Carapicuíba uma comissão foi instaurada e ainda analisa os casos.
A nova gestão da Sabesp alega estar modernizando processos e investindo em tecnologia. A empresa menciona uso de inteligência artificial e satélites para localizar vazamentos, além de estimar a criação de até 40 mil empregos diretos e indiretos por meio de serviços terceirizados.
O lucro líquido e o capital social da empresa também cresceram. O fluxo de caixa passou de R$ 1,18 bilhão no fim de 2024 para R$ 1,95 bilhão no primeiro trimestre de 2025. A política de dividendos também mudou: a distribuição que antes era de 25% do lucro líquido pode chegar a 100% a partir de 2030.
Paralelamente, o número de beneficiados pela tarifa social subiu 70%. Nesta semana, o governo de São Paulo anunciou o programa Tarifa Social Paulista, com descontos entre 22% e 78% nas contas de água e esgoto para famílias em situação de vulnerabilidade.
Desde a privatização, a fiscalização dos serviços passou à responsabilidade da Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo (Arsesp), que promete entregar o primeiro relatório sobre a nova concessão no fim de 2025.