Mercado de carbono enfrenta desafios para acelerar transição energética

Especialista da Unicamp alerta que o mercado de carbono, sozinho, não consegue substituir combustíveis fósseis por fontes renováveis rapidamente.

Fonte: CenárioMT

Mercado de carbono enfrenta desafios para acelerar transição energética
Foto: Antoninho Perri/SEC Unicamp

O mercado de carbono, idealizado para incentivar empresas a substituírem combustíveis fósseis por fontes renováveis, não consegue acelerar a transição energética na velocidade necessária para evitar impactos climáticos graves.

O alerta é do economista Pedro Paulo Zahluth Bastos, do Instituto de Economia da Unicamp, em artigo publicado na Phenomenal World.

Segundo ele, a iniciativa global, coordenada pela ONU e concluída na COP29 em Baku, tem servido mais para desviar a atenção do que para implementar soluções efetivas contra a crise climática.

Zahluth Bastos afirma que sem planejamento estatal robusto, o mercado de carbono não é suficiente para substituir os combustíveis fósseis.

“Os mercados de carbono têm estado no centro da diplomacia multilateralista, mas a solução aprovada em Baku não resolverá o problema”, destaca o especialista.

Funcionamento do mercado de carbono

O sistema estabelece cotas de emissão de gases de efeito estufa, permitindo que empresas com emissão abaixo do limite vendam créditos às que ultrapassam a meta. A ideia é que o aumento do custo do carbono incentive investimentos em energia limpa.

Porém, Zahluth Bastos explica que a dificuldade de definir um preço global do carbono atrasa os investimentos verdes. A divergência nos preços internacionais compromete a eficácia do mecanismo, alerta o economista.

Ele defende que o Estado deve primeiro oferecer tecnologias verdes acessíveis, para que o aumento do preço do carbono possa realmente induzir uma substituição eficiente de fontes poluentes.

Desafios das energias renováveis

Mesmo com preços altos de emissão, empresas ainda podem recorrer a combustíveis fósseis, devido à falta de alternativas viáveis e infraestrutura adequada.

“Não existem tecnologias substitutivas facilmente acessíveis, muito menos com custos comparáveis aos fósseis”, ressalta Zahluth Bastos.

A baixa lucratividade das empresas de energia renovável, em comparação com o setor de combustíveis fósseis, também limita a descarbonização. O retorno médio da energia verde é de 6% a 8%, enquanto bancos buscam investimentos acima de 10%, normalmente alcançados por combustíveis fósseis.

Além disso, o alto custo de armazenamento e a necessidade de grandes áreas para geração renovável criam desafios logísticos e financeiros, afetando a competitividade do setor.

Impacto histórico e concentração de emissões

Desde o Protocolo de Kyoto, em 1997, o consumo de combustíveis fósseis cresceu 58%, representando ainda 81% da matriz energética global em 2024. A concentração das emissões também é elevada: 90 instituições foram responsáveis por 63% das emissões até 2010, e entre 2016 e 2022, 80% das emissões vieram de 57 corporações.

O economista destaca ainda o financiamento de campanhas políticas por empresas de combustíveis fósseis, influenciando políticas públicas que priorizam energia suja.

Limites da compensação florestal

Outra alternativa citada é a compensação de carbono por meio da conservação e reflorestamento. Porém, Zahluth Bastos aponta que a disponibilidade limitada de terras torna essa estratégia insuficiente para neutralizar as emissões globais atuais.

“É possível reflorestar cerca de 900 milhões de hectares, absorvendo apenas cinco anos de emissões na taxa atual”, pondera.

O especialista conclui que, embora o mercado de carbono e a compensação florestal possam contribuir, não substituem a necessidade de planejamento público para a transição energética e tecnológica.