O Banco Central (BC) divulgou nesta quinta-feira (10) uma carta aberta explicando os motivos para o IPCA ter estourado o teto da meta no primeiro semestre. O órgão atribuiu a alta da inflação ao aquecimento econômico, ao aumento nos preços de bens industrializados como o café e à bandeira tarifária de energia elétrica.
De acordo com o sistema de meta contínua, em vigor desde o início do ano, o BC é obrigado a publicar uma carta sempre que o IPCA ultrapassar o teto de 4,5% por seis meses seguidos. Em junho, o índice acumulou 5,35% em 12 meses, acima do limite definido pelo Conselho Monetário Nacional, que fixa a meta em 3% com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
A carta destacou pressões inesperadas em itens como gasolina, serviços, alimentos industrializados (especialmente café) e bens industriais como vestuário e automóveis. Em contrapartida, a alimentação no domicílio teve variação mais baixa do que o previsto. Já os preços administrados, principalmente a energia elétrica residencial, ficaram acima do esperado devido ao cenário hídrico desfavorável.
Entre os fatores que contribuíram para o desvio de 2,35 pontos percentuais em relação ao centro da meta de 3%, o BC detalhou: inércia da inflação anterior (0,69 p.p.), expectativas inflacionárias (0,58 p.p.), economia operando acima da capacidade (0,47 p.p.), inflação importada (0,46 p.p.) e bandeira tarifária de energia elétrica (0,27 p.p.).
Para os próximos meses, o BC projeta que a inflação acumulada em quatro trimestres ficará entre 5,4% e 5,5% nos três primeiros trimestres de 2025, caindo para 4,9% no final do ano e atingindo 4,2% no primeiro trimestre de 2026. Essa trajetória colocaria a inflação novamente dentro do intervalo de tolerância.
Em relação aos juros, a Taxa Selic está em 15% ao ano desde junho, o maior patamar desde 2006. O BC sinalizou que manterá a política monetária em nível contracionista por um período prolongado para conter a inflação e ancorar expectativas. O Comitê de Política Monetária indicou que seguirá vigilante e poderá ajustar os juros conforme necessário para garantir a convergência da inflação à meta.