O etanol hidratado completou a quarta semana consecutiva de alta em Mato Grosso, consolidando uma sequência de reajustes que começa a afetar a rotina de motoristas e o equilíbrio financeiro dos postos de combustíveis.
De acordo com dados do CEPEA/ESALQ-USP, o indicador referente ao período de 3 a 7 de novembro de 2025 atingiu R$ 3.447,16 por metro cúbico, o equivalente a R$ 3,44 por litro — o maior valor das últimas cinco semanas e 3,2% acima do registrado no início de outubro.
Equipe do CenárioMT percorre postos na capital e no interior
A equipe jornalística do CenárioMT percorreu postos de combustíveis em Cuiabá, Várzea Grande, Sorriso, Sinop, Lucas do Rio Verde e Tangará da Serra para verificar os preços praticados e ouvir revendedores sobre o impacto do reajuste.
Nos estabelecimentos visitados, o litro do etanol variava entre R$ 3,59 e R$ 3,79, dependendo da cidade e da política de cada bandeira. Em alguns casos, os gerentes confirmaram que o repasse total ainda não chegou às bombas, mas alertaram que a margem de lucro está no limite.
“Estamos segurando o aumento o quanto podemos. A distribuidora já subiu o preço duas vezes neste mês e, se continuar assim, não teremos como manter o valor atual por muito tempo”, relatou um gerente de posto da capital ouvido pela reportagem.
Em Lucas do Rio Verde, o cenário é semelhante. Revendedores afirmam que o preço do etanol no atacado subiu cerca de 10 centavos por litro em menos de um mês, pressionando as margens de operação. “Tentamos evitar reajustes sucessivos, mas estamos chegando a um ponto em que o custo operacional ultrapassa o ganho”, explicou outro entrevistado.
Por que o preço segue subindo?
Segundo o Sindipetróleo-MT, o aumento é reflexo direto da elevação dos custos nas usinas e do maior repasse das distribuidoras. O setor de revenda, último elo da cadeia, tenta conter o impacto, mas não tem controle sobre a formação do preço nas origens.
“Quando a alta é contínua, o repasse ao consumidor torna-se inevitável. As revendas estão operando com margens reduzidas para evitar uma escalada nas bombas”, informou o sindicato.
O cenário é influenciado também por fatores de mercado: a produção de açúcar está mais rentável no mercado internacional, reduzindo a oferta de etanol, enquanto a demanda interestadual tem aumentado, com outros estados buscando o produto mato-grossense pela competitividade logística.
Mato Grosso, potência do biocombustível
Mesmo diante das oscilações, Mato Grosso segue como referência nacional na produção de biocombustíveis, combinando etanol de cana-de-açúcar e de milho em escala crescente. O Estado é um dos poucos do país que mantém autossuficiência energética no abastecimento interno, ainda que os preços possam variar conforme a dinâmica das distribuidoras.
Em Sinop e Nova Mutum, produtores apontam que a demanda aquecida e o transporte para outros estados estão entre os principais motivos para a elevação recente. “O mercado interno disputa o mesmo volume com exportações e vendas interestaduais, o que reduz a oferta local e eleva os preços”, analisou um técnico do setor ouvido pela reportagem.
Expectativa para as próximas semanas
Com o fim do ano se aproximando e o aumento sazonal no consumo de combustíveis, especialistas preveem novas oscilações. A equipe do CenárioMT apurou que muitos postos aguardam novas tabelas de preços das distribuidoras para decidir se reajustam o valor ao consumidor até o final de novembro.
O Sindipetróleo-MT afirmou que continuará monitorando semanalmente as variações do etanol e outros combustíveis, divulgando boletins públicos com base em dados do CEPEA/ESALQ e da Agência Nacional do Petróleo (ANP).
A entidade reforçou que o objetivo é garantir transparência nas informações e equilíbrio entre produtores, revendedores e consumidores.


















