Em um cenário de alta inadimplência e dificuldade no acesso ao crédito, muitos consumidores têm recorrido a uma solução arriscada: usar o nome de amigos ou familiares para realizar compras e financiamentos. É o que aponta uma pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em parceria com a Offerwise Pesquisas. De acordo com o levantamento, 29% dos entrevistados afirmaram ter feito algum tipo de transação nos últimos 12 meses com o nome de outra pessoa — principalmente por meio de cartão de crédito (21%), empréstimos (4%) e crediários (4%).
A prática, conhecida como “empréstimo de nome”, é impulsionada por motivos como nunca ter tentado acesso ao crédito (24%), estouro do limite do cartão ou cheque especial (24%) e não ter conseguido aprovação (18%). Embora possa parecer um gesto de ajuda, o presidente da CNDL, José César da Costa, alerta para os riscos: “A responsabilidade legal da dívida é sempre de quem emprestou o nome. Se a pessoa não paga, é o nome dela que vai para os cadastros de inadimplentes.”
Segundo a pesquisa, cônjuges (26%), irmãos (18%) e pais (18%) são os mais acionados para emprestar o nome. Amigos e outros parentes aparecem logo em seguida, com 17% cada. Os motivos variam: desde a necessidade de fazer supermercado (25%), pagar uma dívida (18%), comprar itens para os filhos (17%) até adquirir presentes em datas comemorativas (15%).
Ainda que 84% dos que pediram o nome afirmem estar pagando as parcelas em dia, a maioria dos consumidores não retribuiria o favor. Cerca de 64% afirmam que não emprestariam o nome a ninguém, enquanto 36% dizem que sim, principalmente para compras com cartão de crédito (24%).
Supermercado (16%), roupas e calçados (15%) e eletrônicos (15%) lideram a lista de itens comprados em nome de terceiros. Embora a maioria não enfrente objeções, 37% disseram ter encontrado dificuldades, sendo 20% em lojas físicas e 17% em compras online.
José César da Costa destaca que, apesar da pressão emocional envolvida quando um parente faz esse tipo de pedido, o consumidor precisa considerar alternativas menos arriscadas. “Em casos de consumo supérfluo, saber dizer ‘não’ também é um ato de responsabilidade, especialmente para evitar prejuízos financeiros e abalos nas relações pessoais”, orienta o dirigente.