O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) estuda suspender temporariamente o pagamento de dívidas de empresas brasileiras impactadas pelas sobretaxas impostas pelos Estados Unidos. A proposta, anunciada pelo presidente da instituição, Aloizio Mercadante, priorizaria setores que trabalham com produtos perecíveis.
A estratégia, conhecida como stand-still, já foi aplicada em 2024 para apoiar companhias atingidas pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Segundo Mercadante, a medida será discutida com o Ministério da Fazenda e bancos comerciais. “Em alguns complexos regionais, especialmente ligados a perecíveis, enquanto as compras públicas não avançarem, podemos adotar essa suspensão”, afirmou.
O anúncio foi feito durante encontro no Rio de Janeiro com prefeitos de 15 cidades, no qual foram detalhadas as ações do Plano Brasil Soberano, programa criado pelo governo federal para amparar exportadores e trabalhadores prejudicados pelo tarifaço norte-americano.
Linhas de crédito
O BNDES já havia divulgado, na semana anterior, um pacote de R$ 40 bilhões em crédito para empresas que registraram queda superior a 5% no faturamento bruto. Desse montante, R$ 30 bilhões vêm do Fundo Garantidor de Exportações (FGE) e R$ 10 bilhões de recursos próprios do banco. As linhas estão divididas em Capital de Giro, Giro Diversificação, Bens de Capital e Investimento.
Municípios afetados
Prefeitos relataram impactos graves em regiões exportadoras. Em Petrolina (PE), onde a economia depende fortemente da fruticultura irrigada, o prefeito Simão Durando destacou que há uma janela crítica entre agosto e outubro para envio de 2.500 contêineres de manga e 700 de uva aos EUA. Segundo ele, mais de 1 milhão de pessoas no Vale do São Francisco dependem diretamente dessas exportações.
No interior de São Paulo, o prefeito de Franca, Alexandre Ferreira, apontou que as sobretaxas afetam principalmente a indústria calçadista, responsável por até 14 mil empregos diretos. Algumas empresas exportam 100% da produção para os Estados Unidos, o que pode deixar um milhão de pares de sapatos sem destino no mercado internacional.
Tarifaço e tensões políticas
As tarifas de até 50% impostas pelo governo Donald Trump sobre produtos brasileiros são consideradas entre as mais altas em vigor. A medida integra uma série de ações contra o Brasil, incluindo investigações comerciais sobre o Pix e sanções financeiras ao ministro do STF Alexandre de Moraes, relator do processo sobre a tentativa de golpe em 2023.
As sanções também envolveram aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, indiciado junto ao deputado Eduardo Bolsonaro por crimes relacionados à tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito.
