O maior incômodo do intelectual é ter a consciência de que a maioria não tem plena consciência

Um mundo um pouco solitário e de míngua partilha. É querer externar as suas ideias e sentir que ninguém se mostra verdadeiramente interessado ou, então, perceber que muitos não compreendem nem interiorizam com a mesma lógica ou com a mesma rapidez.

Fonte: Fabiano de Abreu

800x450crop60 20200529 5ed1551a14ab2
Reprodução / MF Press Global

Todos nós, enquanto seres pensantes, nos debatemos com questões existenciais, de conhecimento ou lógica, que nos afetam de determinada maneira, embora em graus diferentes.

O intelectual vive num mundo que pode ser duro para com ele. Um mundo um pouco solitário e de míngua partilha. É querer externar as suas ideias e sentir que ninguém se mostra verdadeiramente interessado ou, então, perceber que muitos não compreendem nem interiorizam com a mesma lógica ou com a mesma rapidez.

É difícil não ter com quem dialogar e ser compreendido e respondido de forma nivelada; é difícil não sentir que há uma partilha efetiva e sólida. Estas questões podem tornar as pessoas mais inteligentes, em seres solitários a optar (consciente ou não) por ter poucos amigos, pois a maioria das pessoas não os compreendem ou acabam atrapalhando na realização das suas metas.

A questão aqui é que serão poucos os que efetivamente conseguem penetrar no seu mundo e caminhar ao seu lado. A mente do intelectual é esquiva e desacompanhada como se estivesse talhada a percorrer sozinha caminhos que muitos não querem pisar.

[Continua depois da Publicidade]

Aprender a filtrar essas diferenças, nos traz sofrimento por ter que lidar com nossas dúvidas e incertezas.

“O intelectual liberta-se a partir do momento em que tem a consciência de que é mais inteligente que a maioria das pessoas.”

A realidade deve assumir-se exatamente como é. Esse processo não torna alguém menos humilde ou mais arrogante, é antes admitir a veracidade da situação sem que esta lhe pese no íntimo. É um processo de aceitação.

Tomar posse de si mesmo aumenta a chance de nos aprimorarmos. Quando assumimos que ignoramos determinados conhecimentos, já estamos, de certa forma colocando a cognição em funcionamento, na busca da solução. Trazendo informação, aumentando o potencial criativo e ampliando conhecimento.

Ter a capacidade de reconhecer que não se sabe tudo e tentar aprender sempre mais, demonstrando a sua sede de conhecimento é a base da intelectualidade. Para o intelectual, quando determinado assunto não está nos seus domínios, isso não o torna agressivo ou irritado, funciona antes como uma alavanca de procura para que mais tarde possa debater o assunto e ter a capacidade de argumentar e posicionar-se. É viver com a noção de que a consciência que tem sobre as coisas não é a mesma do que a maioria, é pensar e desconstruir realidades que nem todos têm acesso.

“Ser intelectual é ser curioso, humilde e observador.”

Por oposição, existem muitas pessoas que pensam ter razão dentro de uma razão inexistente, uma razão criada, e justificam os seus pensamentos e atos com raciocínios sem lógica, não compreendendo nem aceitando quando alguém lhes mostra o contrário.

Quando as provas óbvias são dispostas diante deles, mesmo assim, tentam arranjar justificativas para algo que está demonstrando não ser como pensam. São pessoas incapazes de dar argumentos plausíveis sobre a questão e em vez de discutir e tentar articular um pensamento, essas pessoas ofendem-se e desconversam. Não têm a capacidade de ouvir.

Pessoas que têm uma limitação intelectual, cognitiva, quando não têm formação teórica nem informação, não possuem a intuição da inteligência matricial e então negam. Na negação da informação daquilo que o outro fala, elas criam uma carapaça, uma blindagem para com a humilhação que é o outro ter conhecimento. Mas este tipo de reação dá apenas uma falsa sensação de proteção, quando devemos fazer exatamente o contrário: ouvir a opinião do outro, abrir a mente e enriquecer a própria visão do mundo com outras ideias e pontos de vista e assim ampliar horizontes.

A discussão deve permitir criar o terceiro ponto de vista baseado no diálogo. Duas opiniões divergentes que trabalham para criar uma terceira onde convergem. Quando não existe capacidade de discussão entra o processo de negação. Nega-se o conhecimento do outro e, essencial e especialmente, nega-se a possibilidade de aprender e absorver conhecimentos, cristalizando assim seus limites cognitivos.

[Continua depois da Publicidade]

Para alguém que se posiciona num direcionamento contrário, torna-se extremamente perturbador que as pessoas ajam dessa forma. Existem ainda pessoas que falam sem ter conhecimento amplo sobre os temas. Quando não se conhece, temos apenas uma opção válida e enriquecedora: conversar, escutar, discutir o tema sabendo quais os limites do próprio conhecimento e, no final, tirar as suas conclusões assentes em discursos e informações válidos.

Para os intelectuais, a noção da falta de conhecimento e lógica da maioria das pessoas, sendo que, a falta de um deles interfere, inevitavelmente, no outro, pode ser um transtorno.

Quando a perspectiva sobre a vivência é vista através do prisma de alguém com capacidades acima da média, os detalhes são muito importantes. Eles fazem a diferença. As partes são sempre “maior” que o todo.

O intelectual sabe qual o limite do outro e choca-o quando esse alguém não faz nada para o ultrapassar. O conformismo mata.

Não somos todos iguais na forma como pensamos o mundo, e enfrentar isso como uma realidade auxilia no nosso posicionamento. Seremos melhores em todos os níveis conosco próprio e no tratamento e entendimento dos outros.

“Uma pessoa com um alto QI (inteligência lógica), e sem qualquer desvio que possa afetar a sua amplitude intelectual, pode aprimorar a sua inteligência emocional (QE) já que a sua inteligência lógica dará a racionalidade para alcançar o aprimoramento comportamental.”

Há um exemplo que posso usar para demonstrar esta questão da consciência da realidade e das diferenças que nos marcam.

Imaginemos que estamos numa sala de cinema. Há quem entre e se concentre no filme que passa na tela. Nada mais. Por outro lado, há quem entre e observe o espaço, veja o filme, esteja atento às reações e expressões das pessoas que partilham com ele aquele mesmo lugar e experiência assim como perceba a mensagem do filme e todas as nuances nele existentes nos mínimos detalhes. Toda a vivência é mais encorpada assim como a simetria do lugar é reparada.

As perspectivas são diferentes e as pessoas funcionam de forma diferenciada. Não podemos exigir e querer que todos tenham a mesma capacidade de observação e absorção.

Aqui entra a aceitação. Saber entender as diferenças. Saber que, por vezes, há pessoas que veem além da maioria, pensam e racionalizam mais do que a maioria, que o óbvio não é sempre assim tão óbvio, e que a lógica pela qual se regem não está ao alcance de todos.

Para finalizar, o expoente máximo é unir sabedoria e usar em toda a sua extensão a intelectualidade e a inteligência que nasce conosco. Unir a nossa inteligência inata a uma procura constante de conhecimento, de absorção de informação. O cultivo do intelecto para se ter base, saber posicionar-se, saber de si e do outro. Ser a nossa melhor versão. Buscando por novas atualizações que permitam um funcionamento cognitivo mais apurado e afinado com o que temos de melhor: conhecimento.

A associação Mensa, de pessoas mais inteligentes do mundo, constatou que apenas 2% da população mundial têm o percentil maior que 98, considerando-as como superdotadas.

Sobre o autor do texto: Dr. Fabiano de Abreu
Registro e currí­culo como pesquisador: http://lattes.cnpq.br/1428461891222558

Facebook:https://www.facebook.com/FabianodeAbreuOficial/
Instagram:https://www.instagram.com/fabianodeabreuoficial/
Twitter:https://twitter.com/fabianodeabreur

instagramfabiano

Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues, Colunista do Cenário MT é um Pós-doutor e PhD em neurociências eleito membro da Sigma Xi, The Scientific Research Honor Society e Membro da Society for Neuroscience (USA) e da APA - American Philosophical Association, Mestre em Psicologia, Licenciado em Biologia e História; também Tecnólogo em Antropologia com várias formações nacionais e internacionais em Neurociências e Neuropsicologia. É diretor do Centro de Pesquisas e Análises Heráclito (CPAH), Cientista no Hospital Universitário Martin Dockweiler, Chefe do Departamento de Ciências e Tecnologia da Logos University International, Membro ativo da Redilat, membro-sócio da APBE - Associação Portuguesa de Biologia Evolutiva e da SPCE - Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação. Membro Mensa, Intertel e Triple Nine Society, sociedades de pessoas com alto QI.