Quilombolas lançam NDC própria e reivindicam inclusão na política climática

A Conaq apresentou a NDC Quilombola, documento que propõe metas, prazos e reconhecimento dos territórios para a política climática nacional.

Fonte: CenárioMT

Quilombolas lançam NDC própria e reivindicam inclusão na política climática
Quilombolas lançam NDC própria e reivindicam inclusão na política climática - Foto: CONAQ/Divulgação

A Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) lançou nesta quarta-feira (16) a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) Quilombola, documento que detalha demandas específicas a serem incorporadas nos compromissos brasileiros de redução das emissões de gases de efeito estufa até 2035.

O lançamento representa um marco histórico de justiça climática e reparação racial, ao integrar saberes ancestrais e ciência ambiental em um plano de ação com metas, prazos e indicadores claros. O documento propõe que o Estado reconheça os territórios quilombolas como parte essencial da política climática.

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“Os quilombos não são apenas afetados pela crise climática, mas são também parte central da solução climática. Ao protegermos nossos territórios, nós quilombolas fazemos uma boa parte do trabalho de mitigação e conservação”, afirmou Selma Dealdina, articuladora política da Conaq.

Territórios quilombolas são considerados barreiras eficazes contra o desmatamento. A titulação dessas áreas é apontada como uma das políticas climáticas mais baratas e eficientes do país. Dados do MapBiomas indicam que territórios quilombolas titulados perderam 3,2% da vegetação nativa entre 1985 e 2022, menos da metade da taxa observada em áreas privadas (17%).

A NDC Quilombola também destaca avanços da Organização das Nações Unidas, como o reconhecimento de afrodescendentes nas convenções sobre Biodiversidade e Mudança do Clima, abrindo caminho para acesso direto a financiamentos climáticos e participação ativa na COP30, em Belém. O documento reivindica que 40% dos recursos climáticos nacionais e internacionais sejam destinados diretamente às comunidades quilombolas.

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Eixos estratégicos

A NDC Quilombola está organizada em três eixos:

  • Ordenamento Territorial e Fundiário: titular 44 territórios até 2026 e 536 até 2030, garantindo segurança jurídica e preservação de 1 bilhão de toneladas de carbono;
  • Transição Energética Justa e Consulta Prévia: assegurar a consulta das comunidades em 1.385 projetos de mineração e infraestrutura, conforme a Convenção 169 da OIT;
  • Desenvolvimento Sustentável com Justiça Social, Racial e Climática: implementar planos de adaptação, manejo tradicional, restauração florestal e fortalecer a Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental Quilombola (PNGTAQ).

Milene Maia, coordenadora do Programa de Política e Direito Socioambiental do Instituto Socioambiental (ISA), afirma que reconhecer o racismo ambiental é fundamental para que o poder público atue de forma efetiva, destacando a importância da NDC Quilombola para dar visibilidade aos territórios na Amazônia Legal.

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Gustavo Praiado é jornalista com foco em notícias de agricultura. Com uma sólida formação acadêmica e vasta experiência no setor, Gustavo se destaca na cobertura de temas relacionados ao agronegócio, desde insumos até tendências e desafios do setor. Atualmente, ele contribui com análises e reportagens detalhadas sobre o mercado agrícola, oferecendo informações relevantes para produtores, investidores e demais profissionais da área.