Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos e ativista ambiental, qualificou a postura do país diante da crise climática como “esquizofrênica”. Segundo ele, o compromisso norte-americano com a redução de gases de efeito estufa varia de acordo com quem ocupa a presidência.
Entre 2017 e 2020, Donald Trump retirou os EUA do Acordo de Paris, que visa limitar o aquecimento global a 1,5°C. Com a vitória de Joe Biden, o país voltou ao acordo, apenas para registrar nova saída no início do segundo mandato de Trump.
“É lamentável que os Estados Unidos tenham alternado sua abordagem entre presidentes democratas e republicanos. Isso está longe de ser ideal”, afirmou Gore.
“Historicamente, os EUA tiveram papel de liderança responsável na comunidade internacional, o que torna essa inconsistência ainda mais preocupante. A União Europeia tem se destacado nesse sentido, mas seria melhor se os EUA mantivessem seu compromisso com valores humanos e climáticos”, completou.
Gore falou com jornalistas ao final de atividades do The Climate Reality Project, evento no Rio de Janeiro voltado à mobilização política em ações climáticas.
COP30 em Belém
O democrata também criticou a política comercial e internacional de Trump em relação ao Brasil, afirmando que ela não deve afetar a participação de governos estaduais e municipais dos EUA na COP30, marcada para novembro em Belém.
“É ofensivo que Trump distorça dados, afirmando um déficit comercial inexistente com o Brasil e atribuindo responsabilidades falsas em conflitos internacionais. São declarações falsas sobre carvão, energia e até sobre sua honestidade”, disse Gore.
Capitalismo e clima
Durante o evento, Gore destacou a necessidade de repensar modelos econômicos para reduzir emissões de gases do efeito estufa, abordando transição energética, substituição de combustíveis fósseis e financiamento climático.
Ele defendeu que o capitalismo pode colaborar com soluções climáticas. “Grande parte do avanço em energias renováveis no último ano veio de capital privado. A transição energética é inevitável, mas há desafios para realizá-la a tempo, principalmente devido à resistência de poluidores de combustíveis fósseis”, explicou.
Plásticos
Em Genebra, 185 países discutiram um tratado para combater a poluição por plásticos, sem chegar a consenso. Para Gore, o episódio evidencia o poder político da indústria de combustíveis fósseis, que influencia decisões globais.
“Por isso dedico esforços à construção de movimentos populares para reafirmar a capacidade da humanidade de controlar seu destino. Não podemos permitir que os poluidores determinem regras e limites para a sociedade”, concluiu.