Violência nas favelas do Rio deixa traumas e expõe crise na saúde pública

Operações policiais e disputas entre facções no Rio de Janeiro têm causado impactos profundos na saúde física e mental de moradores das favelas, revelando um cenário de medo e adoecimento coletivo.

Fonte: CenárioMT

Violência nas favelas do Rio deixa traumas e expõe crise na saúde pública
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Moradores de favelas do Rio de Janeiro enfrentam traumas e adoecimento causados por operações policiais de grande escala, como a recente Operação Contenção, considerada uma das mais letais dos últimos anos. A ação, realizada nos complexos do Alemão e da Penha, deixou ao menos 121 mortos e gerou pânico, com o fechamento de comércios, escolas e postos de saúde, além de ônibus queimados e vias interditadas.

O professor José Claudio Sousa Alves, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), descreve os efeitos dessas ações como uma “bomba invisível”, destacando o aumento de doenças como diabetes, hipertensão e distúrbios emocionais entre os moradores. “As pessoas não dormem, sofrem AVCs e vivem sob estresse constante”, afirmou o especialista.

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Pesquisa do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec) confirma o impacto. Segundo o levantamento, moradores de favelas expostas a tiroteios têm o dobro de chances de desenvolver depressão e ansiedade em comparação a comunidades mais pacíficas. Também há índices elevados de insônia (73%) e hipertensão (42%).

Entre os relatos, está o de Raimunda de Jesus, que participou de protestos após a operação. “O Estado precisa cuidar do seu povo, não tratá-lo como inimigo”, disse. Liliane Santos, moradora do Alemão, perdeu o filho de 17 anos em uma ação policial e afirmou reviver a dor a cada novo confronto.

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Complexos sob tensão

De acordo com a Secretaria de Segurança do Rio, os complexos do Alemão e da Penha são redutos estratégicos do Comando Vermelho. A pesquisadora Carolina Grillo, da Universidade Federal Fluminense (UFF), explica que líderes do tráfico utilizam esses territórios como refúgio. Apesar das 113 prisões realizadas na Operação Contenção, Grillo avalia que as ações “não afetam a estrutura do crime, mas deixam comunidades traumatizadas”.

O avanço do Comando Vermelho

Originado nos presídios do Rio nos anos 1970, o Comando Vermelho é hoje uma das maiores facções do país, presente em 24 estados e no Distrito Federal. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a facção ampliou seu domínio em 2023, controlando 51,9% das áreas sob influência criminosa na região metropolitana do Rio, superando as milícias.

Estudos apontam que o grupo expandiu principalmente na Baixada Fluminense e no Leste Metropolitano. Já as milícias perderam quase 20% dos territórios que dominavam. Para Grillo, o crescimento do crime organizado se sustenta na falta de oportunidades para jovens em situação de vulnerabilidade. “Há uma oferta inesgotável de mão de obra para o crime por causa da desigualdade estrutural”, afirma.

Exploração e economia do crime

As facções passaram a lucrar não apenas com drogas, mas também com a exploração econômica dos territórios, cobrando por serviços como gás, internet e segurança. O secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, reconheceu que o tráfico representa apenas 10% a 15% da receita dessas organizações.

Alternativas ao confronto

Especialistas defendem que operações policiais violentas não reduzem o poder do crime organizado. O estudo do Geni e do Instituto Fogo Cruzado mostra que mais de 7 milhões de pessoas vivem em áreas controladas por milícias ou facções. Grillo cita operações como a Carbono Oculto, que desmantelou esquemas financeiros do PCC sem confrontos armados, como exemplo de ações eficazes.

Ela ressalta que o combate deve incluir políticas sociais e geração de oportunidades. “É preciso oferecer alternativas aos jovens das favelas para quebrar o ciclo de violência e exclusão”, reforça. Programas como o Pronasci Juventude, do Ministério da Justiça, são apontados como caminhos para reduzir o aliciamento de jovens pelo crime.

O desafio, segundo os especialistas, é construir políticas públicas que tratem segurança e inclusão social de forma integrada, rompendo o padrão de violência que há décadas marca as favelas cariocas.

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Gabriela Cordeiro Revirth, independente jornalista e escritora, é uma pesquisadora apaixonada de astrologia, filmes, curiosidades. Ela escreve diariamente para o Portal de Notícias CenárioMT para partilhar as suas descobertas e orientar outras pessoas sobre esses assuntos. A autora está sempre à procura de novas descobertas para se manter atualizada.