Um levantamento da Rede de Observatórios da Segurança apontou que, em 2024, 11 pessoas foram mortas por dia por ações policiais em nove estados brasileiros. Do total de 4.068 mortes registradas, 3.066 eram pessoas pretas ou pardas. Os dados abrangem Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo.
O estudo indica que, na maioria dos casos, não houve registro da cor ou raça das vítimas em mais de 500 ocorrências, o que pode fazer os números de vítimas negras serem ainda maiores. A análise mostra que pessoas negras têm 4,2 vezes mais chances de morrer em operações policiais do que pessoas brancas, quando comparadas as taxas por 100 mil habitantes.
Entre os exemplos destacados, a Bahia apresentou taxa de 11,5 mortes entre negros para cada 100 mil habitantes, enquanto entre brancos o índice foi de 2 para o mesmo grupo populacional. No Pará, a mortalidade entre negros foi de 8,1 por 100 mil, contra 3,2 entre brancos. No Rio de Janeiro, foram 5,9 contra 1,3.
Outro dado marcante é o recorte etário. Mais da metade das vítimas, cerca de 57%, tinha entre 18 e 29 anos. Além disso, 297 mortos eram adolescentes entre 12 e 17 anos, representando aumento de 22,1% em relação ao ano anterior.
A pesquisadora Francine Ribeiro avalia que as forças de segurança atuam sob uma lógica de confronto direto, sem integração com políticas de prevenção. Segundo ela, a ausência de estratégias articuladas com outros setores públicos impede uma redução consistente da violência.
O levantamento também destaca que a letalidade em São Paulo aumentou 93,8% desde 2022, após mudanças no uso de câmeras corporais, que passaram a ser acionadas manualmente. Já na Bahia, o estado registrou 1.556 mortes, o equivalente a 38% do total, com predominância de vítimas negras.
Entre as recomendações apresentadas estão a obrigatoriedade do uso de câmeras corporais em todas as operações, a divulgação transparente de protocolos policiais, investimentos em formação voltada à redução da violência e a criação de um programa de acompanhamento psicológico permanente para agentes de segurança.
















