O Jongo, manifestação cultural afro-brasileira reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil desde 2005, completa 20 anos de reconhecimento oficial com uma série de celebrações e homenagens às raízes negras no sudeste do país. A tradição é preservada por comunidades descendentes de africanos escravizados da etnia Bantu, vindos principalmente do Congo, Angola e Moçambique.
Caracterizado pelo ritmo marcado dos tambores, dança e cantos conhecidos como pontos, o Jongo é transmitido por meio da oralidade, gestos e instrumentos musicais entre gerações. Esse saber ancestral, cultivado nas comunidades tradicionais, é mantido vivo mesmo diante da modernização e da perda de espaços culturais urbanos.
Mestra Fatinha, de 69 anos, liderança do Jongo do Pinheiral, destaca a importância do envolvimento das crianças para a continuidade da tradição. “Hoje trabalhamos com os pequenos para preservar nossas raízes. O Jongo faz parte do nosso cotidiano e da nossa luta”, afirmou.
A tradição se mantém especialmente forte no Vale do Rio Paraíba, com destaque para cinco comunidades centenárias nos municípios de Barra do Piraí, Piraí, Valença, Pinheiral e Vassouras, todas no sul fluminense. O Jongo do Pinheiral, originado na antiga Fazenda São José dos Pinheiros, é considerado um dos berços da manifestação.
Em celebração ao Dia Estadual do Jongo, comemorado em 26 de julho, será realizado o 4º Encontro de Jongos do Vale do Café, reunindo cerca de 400 representantes de mais de 18 comunidades e quilombos do Rio de Janeiro e de São Paulo. O evento acontece no Parque das Ruínas de Pinheiral, local onde surgiu o Jongo na época da escravidão.
Segundo o coordenador do encontro, o músico e pesquisador Marcos André Carvalho, o espaço será transformado em um parque temático dedicado à história negra da região. “Será construído ali o Museu do Jongo, uma escola, restaurante de comidas étnicas e um centro de visitação turística”, disse. O projeto foi selecionado pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e deve ser inaugurado em 2027.
As comemorações continuam em agosto, com o Encontro de Jongueiros entre os dias 14 e 16, no centro do Rio. A Praça Tiradentes será palco de rodas de jongo, oficinas, shows e o lançamento do portal digital Museu do Jongo, que reunirá mais de cinco mil fotos e vídeos. Também serão exibidos dois curtas dirigidos por Carvalho: “Jongo do Vale do Café” e “Mestres do Patrimônio Imaterial do Estado do Rio”.
Reconhecido por seu papel na formação do samba carioca, o Jongo também carrega um importante valor simbólico e espiritual, sendo praticado em comunidades como Madureira, Salgueiro, Estácio e outras regiões do Rio de Janeiro. “É uma herança ancestral que construiu as bases da cultura brasileira”, destacou a professora Martha Abreu, da Universidade Federal Fluminense (UFF).