Apesar de políticas como as cotas raciais e a demarcação de territórios quilombolas, a violência racial e a negação do racismo ainda marcam o cotidiano brasileiro. Para ativistas ouvidas no Dia da Consciência Negra, a igualdade racial permanece um objetivo a ser conquistado, embora haja avanços importantes na luta da população negra.
Carmela Zigoni, assessora política do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), afirma que o Brasil ainda enfrenta enormes desafios. “Estamos longe de alcançar equidade racial de fato em um país marcado pelo racismo, e o avanço de ideologias conservadoras trouxe práticas discriminatórias mais diretas e violentas”, explicou.
Ela citou a invasão da Emei Antônio Bento, em São Paulo, onde policiais militares intervieram após queixa de um pai sobre o ensino da cultura afro-brasileira. O episódio, ocorrido em 12 de novembro, gerou repúdio de parlamentares e entidades e evidencia retrocessos recentes na proteção da igualdade racial.
Segundo Carmela, o retorno da política de igualdade racial ao plano plurianual e a retomada de recursos para o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Sinapir) são passos positivos. Ainda assim, ela reforça que há muito a ser feito para consolidar direitos.
Lúcia Xavier, fundadora da ONG Criola, destaca que a mudança de um governo conservador para outro mais democrático trouxe melhorias no ambiente para a população negra, mas não significa avanços concretos em igualdade racial ou nas condições das mulheres negras. “A ação afirmativa na educação é positiva, mas a violência policial e a dificuldade de acesso a melhores oportunidades persistem”, afirma.
Conquistas
Alane Reis, coordenadora da Revista Afirmativa e ativista da Articulação de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB), ressalta que algumas conquistas históricas devem ser celebradas, como políticas afirmativas em universidades e concursos públicos, e o direito constitucional às terras quilombolas. Entretanto, a implementação plena desses direitos ainda enfrenta obstáculos.
Segundo Alane, políticas e programas de incentivo são essenciais para ampliar oportunidades e reduzir desigualdades. Ela observa que mulheres negras ocupam os piores indicadores sociais e têm pouca representatividade política. “Hoje, a juventude negra se orgulha de sua negritude, algo que não acontecia há 20 ou 30 anos”, afirmou.
Denúncias
Dados do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania mostram que, de janeiro a 16 de novembro de 2025, o Disque 100 registrou 13.813 denúncias relacionadas à igualdade racial, abrangendo racismo, injúria racial e violência étnico-racial, totalizando 26.901 violações. São Paulo lidera as denúncias, seguido por Rio de Janeiro e Minas Gerais, com mulheres sendo as principais vítimas, representando 51,51% dos casos.

















