O recente comunicado do governo dos Estados Unidos, que ofereceu qualquer apoio necessário à Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro, foi considerado por especialistas como inadequado e incomum, apesar de o país manter histórico de relações com governos subnacionais estrangeiros.
Segundo o cientista político e professor Bruno Lima Rocha, episódios similares ocorreram durante a Lava Jato, quando o Brasil manteve contatos diretos com o FBI, envolvendo autoridades do Ministério Público e do Judiciário. “Todo o imbróglio da Lava Jato se deu devido a essas relações diretas”, lembrou Rocha.
Raphael Lana Seabra, professor do Departamento de Estudos Latino-americanos da UnB, reforçou que o gesto americano viola a soberania. A carta enviada pelo representante da Divisão Antidrogas dos EUA, James Sparks, manifestou condolências pela morte de quatro policiais na Operação Contenção, mas também se colocou à disposição para apoio adicional, o que, segundo Seabra, não cabe ao governo americano.
Bruno Rocha relacionou a atitude dos EUA ao período da Guerra Fria, quando o país influenciava a estrutura policial brasileira por meio de programas pan-americanos. Ele explica que tais ações, conhecidas como “paradiplomacia”, podem contornar canais diplomáticos formais, criando vínculos diretos com governos subnacionais.
Ambos especialistas criticaram a tentativa de classificar facções do tráfico como grupos terroristas. Segundo Rocha, o terrorismo possui motivações ideológicas ou políticas, não econômicas, e a reclassificação representaria um risco, especialmente no contexto pré-eleitoral da América Latina.
Seabra apontou precedentes recentes, como as operações autorizadas por Donald Trump na Venezuela, evidenciando a postura dos EUA de violar soberanias em nome do combate ao narcotráfico, prática que também pressiona o México. Ele recomenda que Brasil e Rio de Janeiro busquem soluções nacionais, focando na raiz do crime organizado e evitando depender de apoio externo.
Para Rocha, a resposta ideal ao comunicado americano seria coordenada pelas autoridades federais, incluindo a Polícia Federal e o Itamaraty, reforçando a soberania e responsabilizando políticas locais que tentem se subordinar a governos estrangeiros. Ele sugere ainda que tais ações sejam tipificadas como violação de soberania e traição à pátria.














