O Dia do Orgulho Lésbico, celebrado em 19 de agosto, destaca a luta por direitos e contra o preconceito. Ativistas reforçam a importância da mobilização coletiva e da memória das pioneiras do movimento.
Caroline Fernandes, idealizadora da livraria Pulsa, primeira dedicada a autoras LGBTQIAPN+, ressalta: “Se o caminho está mais pavimentado é por causa das pessoas que vieram antes. Continuamos esse caminho”.
O evento remete ao Levante do Ferro’s Bar, ocorrido em 19 de agosto de 1983 em São Paulo, conhecido como o ‘Stonewall brasileiro’. Mulheres lésbicas, lideradas por Rosely Roth, enfrentaram censura e violência policial ao distribuir o jornal Chanacomchana, com apoio de organizações de direitos humanos, movimento negro e feminista.
Fernandes destaca que a ação coletiva evidencia a força da união. “As datas importantes do movimento lésbico estão ligadas à rede e à comunidade. Estar juntas é essencial para qualquer forma de revolução, pequena ou grande”.
Caminhada do Orgulho
No Rio de Janeiro, a quinta Caminhada do Orgulho Lésbico reuniu mulheres no centro da cidade. A jornalista Camila Marins, editora da Revista Brejeiras e idealizadora do Projeto de Lei Luana Barbosa, afirma que a caminhada é um momento de reivindicação de direitos e combate ao lesbocídio, promovendo ações de não violência contra mulheres lésbicas.
O projeto de lei, que institui 13 de abril como Dia Municipal de Enfrentamento ao Lesbocídio, já foi aprovado em cidades como Niterói e tramita na Câmara dos Deputados. O nome homenageia Luana Barbosa, mulher negra, lésbica e periférica, vítima de violência policial em 2016, em Ribeirão Preto.
Marins reforça que, embora haja avanços na legislação, ainda é necessária maior implementação de políticas públicas e orçamento específico para lésbicas.
Visibilidade e luta por direitos
Agosto é o Mês da Visibilidade Lésbica. Além do Dia do Orgulho, o dia 29 de agosto marca o primeiro Seminário Nacional de Lésbicas (Senale), ocorrido em 1996 no Rio de Janeiro.
No Rio, o projeto 10 Dias de Ação Sapatão promove atividades entre 19 e 29 de agosto. A Câmara Municipal concede a medalha Chiquinha Gonzaga a mulheres lésbicas, incluindo a cantora Cátia de França e o casal Nicinha (in memoriam) e Jurema, conhecido pela série da Netflix.
Vereadora Monica Benicio destaca que o orgulho lésbico é uma ferramenta política de afirmação e memória, lembrando a importância de mulheres lésbicas na história e sociedade.
O Ocupa Sapatão realiza sua nona edição em homenagem a Marielle Franco, promovendo intervenção política, artística e cultural voltada para mulheres lésbicas.
Discriminação
Segundo o IBGE, 0,9% das mulheres brasileiras se declaram lésbicas e 0,8% bissexuais, número possivelmente subestimado devido ao estigma social. O Lesbocenso Nacional revelou que 78,61% das mulheres entrevistadas sofreram lesbofobia.
O Dossiê sobre Lesbocídio no Brasil registra pelo menos 135 mortes entre 1983 e 2013. Entre 2016 e 2017, os casos aumentaram 80%, de 30 para 54. Em 2023, nove mulheres lésbicas foram vítimas de morte violenta.