O Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, ganha relevância ao refletir sobre a violência e a letalidade policial no país. Mais de um século após a abolição da escravatura, a data propicia discussões sobre racismo estrutural e desigualdade social.
Especialistas lembram que a recente Operação Contenção, realizada em 28 de outubro nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, resultou na morte de 121 pessoas, incluindo dois policiais civis e dois militares, sem que nenhuma das vítimas tivesse sido denunciada pelo Ministério Público. A Ordem dos Advogados do Rio de Janeiro criou um observatório para monitorar a operação.
O principal alvo, Edgar Alves de Andrade, líder do Comando Vermelho, segue em liberdade. Estudos indicam que 79% dos moradores do Complexo do Alemão são negros, evidenciando a desigualdade racial na região.
“Esta data é importante para discutir os temas que afetam a população negra, como a perda de direitos e a violência estrutural”, afirma Mônica Sacramento, pedagoga e coordenadora da ONG Criola.
Segundo o economista Daniel Cerqueira, do Atlas da Violência do Ipea, a ação policial reflete um legado colonial que ainda influencia o país, ressaltando que operações semelhantes seriam impensáveis em bairros nobres do Rio de Janeiro, como Copacabana e Ipanema.
“A guerra às drogas acontece apenas em áreas onde vivem negros e pobres”, observa Cerqueira.
Dados do Atlas da Violência apontam que a probabilidade de um negro ser assassinado é quase três vezes maior que a de uma pessoa branca. A advogada Raquel Guerra reforça que a escravidão de mais de 300 anos deixou uma marca profunda, sem reparação de direitos básicos como terra, educação e propriedade.
“A violência atual contra pessoas negras é apenas a ponta de um iceberg histórico”, afirma Guerra.
Para a promotora Lívia Sant’Anna, o Dia da Consciência Negra também serve como denúncia, mostrando que políticas de segurança normalizam a letalidade contra negros. Juliana Kaizer, da UFRJ e PUC-Rio, alerta que operações como a Contenção prejudicam o acesso à educação e geram impactos socioeconômicos de longo prazo.
“O Estado precisa estar presente na educação, cultura e assistência social, e não apenas na repressão”, completa Sant’Anna.
O Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (UFF) evidencia que a polícia prioriza confrontos em áreas de facção, como Penha e Alemão, em vez de locais dominados por milícias, refletindo uma política de segurança desigual. Entre 2017 e 2023, 70% das localidades com facções tiveram confronto policial, contra 31,6% em áreas de milícia.
















