O Brasil deve agir com rapidez para aproveitar a reabertura do diálogo com os Estados Unidos após o encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, avaliou Abrão Neto, CEO da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil).
Segundo ele, o país disputa atenção em uma agenda comercial americana bastante competitiva, que inclui temas de alta prioridade para Washington, como as negociações com a China e a revisão do Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA).
“As prioridades do Brasil não são as mesmas dos Estados Unidos”, afirmou Neto ao Valor Econômico. “Se o Brasil está competindo com várias outras questões na agenda americana, quanto mais essa negociação se arrastar, mais incerto se torna o resultado.”
Missão brasileira a Washington
Nesse contexto, o executivo destacou a viagem de uma delegação de alto nível a Washington, prevista para a próxima semana, como um passo positivo no avanço das tratativas bilaterais. A comitiva deve incluir o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin.
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Embora veja a visita como um sinal de progresso, Neto alertou que isso não garante celeridade nas negociações.
“O setor privado tem mantido um diálogo constante nos Estados Unidos e pretende intensificar seus esforços diante dessa nova fase de contato entre governos”, explicou.
“Estivemos em Washington na semana passada reunidos com autoridades americanas. Nosso foco é apresentar argumentos que façam sentido tanto para os Estados Unidos quanto para o Brasil.”
Obstáculo político superado
Para o CEO da Amcham, o encontro entre Lula e Trump representou um marco importante por remover barreiras políticas que travavam as conversas bilaterais.
“Há dois meses, o governo americano se recusava a dialogar com o Brasil por determinação presidencial”, lembrou. “Agora, o cenário mudou. Recebemos um sinal verde para retomar as discussões econômicas e comerciais.”
Segundo ele, a mudança de postura criou um ambiente mais técnico e previsível, permitindo que os negociadores retomem pautas de interesse mútuo.
“Ouvimos claramente o presidente Trump instruir sua equipe a buscar um acordo com o Brasil”, disse Neto.
Pautas complexas e próximos passos
As negociações, no entanto, devem ser longas e complexas. De acordo com Neto, os Estados Unidos demonstram interesse em temas como acesso ao mercado de etanol, regulação de grandes empresas de tecnologia, marcos regulatórios para minerais críticos e terras raras, além de investimentos brasileiros em território americano.
“Estamos entrando em uma fase de negociação em que ambos os governos precisarão definir até onde estão dispostos a ir. Esse será o fator que determinará o resultado”, afirmou.
“Não será algo resolvido em apenas algumas reuniões.”
Entre as demandas brasileiras, destaca-se o pedido de suspensão temporária das tarifas de 40% sobre exportações, gesto visto por Neto como possível, mas ainda incerto.













