Santa ignorância

Fonte: Por Luciano Vacari

Foto Vacari
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Que o atual governo brasileiro não tem proximidade com o agronegócio nacional não é novidade para ninguém, afinal tirando um pouco menos de meia dúzia de hiper megas conglomerados do campo, desde o 1º dia a interlocução entre a esplanada dos ministérios e o campo foi terrível, ou melhor, não existiu.

Essa relação tão distante poderia se justificar pelo fato de que, os produtores rurais do Brasil sempre deixaram claro a preferência por outro governante, e isso fica mais claro ainda quando observamos os resultados das eleições nas principais regiões produtoras da terrinha. Até poderia, mas não deveria, afinal as escolhas políticas fazem parte da democracia, e passado o dia da eleição todos fazem parte de um único Brasil. Alguns dizem “estamos todos no mesmo barco!”, ou seria mais correto dizer que estamos todos na mesma tempestade?

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Mas com todo o respeito, alguém precisa dizer para o pessoal da esplanada e da praça dos 3 poderes que o agronegócio brasileiro é a galinha dos ovos de ouro do país. Dizer que somos o maior produtor de alimentos, fibras e energia do planeta. Que colocamos comida na mesa de mais de 180 países. Que é o agronegócio que sustenta a balança comercial brasileira há mais de uma década, e que tudo isso foi feito com muito trabalho, dedicação e ousadia.

Mas a ignorância de alguns iluminados próximos ao poder tem tirado o sono do setor. A relação que não foi próxima tomou ares de conflito, e nos últimos meses  volte e meia tomam as manchetes notícias de que o governo pretende fazer alguma coisa que, sem intenção é lógico, irá prejudicar a produção agropecuária verde e amarela de alguma forma seja no curto ou no longo prazo. Exemplo? Vários.

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A taxa de juros que não para de subir. A insegurança sobre o marco temporal. A burocracia estatal em simples operações administrativas. Taxar as exportações para conter os preços no mercado interno. E por fim enterrar o plano safra exatos 7 meses após seu lançamento. Sim, é isso mesmo. O plano safra 2024/2025 foi lançado com toda a pompa e circunstância no dia 03 de julho de 2024, e deveria valer até o dia 30 de junho de 2025.

No dia do lançamento autoridades políticas, militares, eclesiásticas e representantes de toda a imprensa falada, escrita e televisada lotavam o salão do Palácio do Planalto para o anúncio do maior plano safra da história desse país, eram mais de 400 bilhões de reais destinados para os médios e grandes produtores rurais.

Porém, se lembram, sempre existe um porém?

No dia seguinte começaram os mesmos problemas de sempre. Os juros caros, a burocracia ao acesso às linhas de crédito complicadas, o atraso nos repasses e o Banco do Brasil querendo vender seguro de vida e título de capitalização. Mas o que ninguém esperava é que 7 meses após seu lançamento, ou se você preferir 4 meses antes do seu término, as mesmas autoridades vêm à público noticiar a suspensão do plano safra 2024/2025.

Na prática, estão suspensas todas as novas contratações de financiamentos com subvenção federal na esfera do plano agrícola o que certamente trará graves consequências ao setor, ao Brasil e é lógico, aos brasileiros, já que sem crédito não há contratações, sem contratações não há safra, sem safra não há produção, sem produção a oferta fica menor e com a oferta menor os preços sobem.

Muito simples não? É simples mesmo, e qualquer pessoa com o poder na mão deveria saber isso de cor e salteado, mas parece que esse tipo de pessoa não tem frequentado as reuniões do governo, ou não tem coragem de se levantar contra o poder.

*Luciano Vacari é gestor de agronegócios e CEO da NeoAgro Consultoria.

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