Governança no Agro: pilar para a segurança alimentar e climática

Fonte: Cristhiane Brandão

Participar do Global Agribusiness Festival (GAFFFF) 2025, um megaevento internacional que reuniu os principais segmentos do agronegócio, foi uma experiência inesquecível. Além de fortalecer conexões e abrir espaço para debates estratégicos, reforçou uma convicção que já tínhamos: o protagonismo do agronegócio brasileiro como pilar mundial da segurança alimentar e climática.

Os números apresentados no evento são no mínimo interessantes. O mundo terá 2,4 bilhões de habitantes a mais até 2050, saltando dos atuais 6,8 bilhões para 9,2 bilhões. Paralelamente, a expectativa de vida aumentará para 75 anos. Surge então um impasse: como atender a demanda crescente por alimentos sem comprometer o equilíbrio socioambiental?

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A resposta está na produtividade com responsabilidade e na governança, que sustenta todo esse processo. Nesse cenário, o Brasil se destaca como um dos poucos países capazes de garantir alimentos em grande volume e alta qualidade, sem precisar expandir suas fronteiras agrícolas.

Durante o evento, a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) apresentou soluções inovadoras para atender ao aumento do consumo mundial de carne bovina, especialmente na América do Norte e na Ásia. Entre elas estão os sistemas integrados de Lavoura-Pecuária (ILP) e Lavoura-Floresta (ILF), que permitem até três safras por ano em algumas regiões, com expectativa de alcançar 35 milhões de hectares integrados até 2030.

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Esse modelo promove benefícios expressivos, tais como eficiência no uso da terra aumentada em até 6 vezes; qualidade do solo melhorada em 74%; e fortalecimento da biodiversidade, com ganhos de 41%. Além disso, o Plano ABC+, do governo federal, projeta uma mitigação de 1,1 bilhão de toneladas de CO₂ equivalente até 2030 com ações que incluem a recuperação de 30 milhões de hectares de pastagens degradadas; expansão de florestas plantadas; e o uso de bioinsumos e manejo sustentável de resíduos.

Atualmente, o rebanho bovino brasileiro soma 238 milhões de cabeças, com 65 milhões de matrizes aptas à reprodução. No entanto, 53% dessas matrizes ainda não utilizam genética de qualidade, representando um potencial inexplorado. O avanço do setor exige planejamento estratégico, inovação e rastreabilidade, garantindo que o agronegócio brasileiro cumpra seu papel sem comprometer recursos naturais.

Neste contexto, a governança se torna essencial, já que organiza decisões, conecta sustentabilidade à visão empresarial e garante coerência entre discurso e ação. No mês em que celebramos o Dia Mundial do Meio Ambiente, é fundamental reforçar: sem governança, não há transição justa nem prosperidade duradoura.

O impacto das mudanças climáticas sobre a economia é real e urgente. Reportagens recentes destacam como eventos extremos estão afetando o país. A Folha de S. Paulo (setembro de 2024) destacou: “Crise climática afeta logística do país, e empresas relatam prejuízo milionário”; já a Fecomércio-SP (abril de 2025): “Seis em cada dez empresas paulistas sentem impactos climáticos.”

A seca severa de 2024 foi a pior desde 1982, afetando 60% das cidades do estado de São Paulo. Em outubro do mesmo ano, chuvas intensas deixaram a capital paulista sem energia por vários dias, resultando em um prejuízo de R$ 2 bilhões para as empresas.
Mato Grosso também enfrenta desafios. No Pantanal, a estiagem e a baixa umidade ampliam o risco de incêndios florestais, afetando biodiversidade, economia e qualidade de vida da população. Cuiabá, por sua vez, registrou temperaturas recordes de 43°C em setembro de 2024, figurando entre as cidades mais quentes do mundo.

A pesquisadora Ana Paula Paes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), alertou: “Se nada for feito, entre 2030 e 2050, algumas regiões do Centro-Oeste podem se tornar inabitáveis. O clima está se deteriorando rapidamente, criando condições extremas.”

O agravamento dos eventos climáticos reforça que esta não é mais uma pauta opcional, mas uma exigência de sobrevivência econômica, social e ambiental. Os riscos concretos para os negócios incluem: perdas operacionais e ruptura de cadeias logísticas; pressão regulatória e impactos na reputação corporativa.

Neste cenário, empresas familiares desempenham um papel estratégico. Seu propósito, legado e cultura empresarial podem ser direcionados para um impacto positivo. Quando uma família empresária alinha seu legado à sustentabilidade, o negócio cresce e fortalece o ambiente ao redor, construindo um futuro próspero para todos!

Cristhiane Brandão, Conselheira de Administração, Consultora em Governança para Empresas Familiares e Vice-Coordenadora Geral do Núcleo Centro-Oeste do IBGC.

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Formado em Jornalismo, possui sólida experiência em produção textual. Atualmente, dedica-se à redação do CenárioMT, onde é responsável por criar conteúdos sobre política, economia e esporte regional. Além disso, foca em temas relacionados ao setor agro, contribuindo com análises e reportagens que abordam a importância e os desafios desse segmento essencial para Mato Grosso. Cargo: Jornalista, DRT: 0001781-MT