‘Caso Carrefour’: Você já pensou nisso?  

Fonte: Fernando A. 

Fernando Alves

Existe uma frase muito peculiar que diz: enquanto uns choram, outros vendem lenços.

É a lógica da oferta e da demanda.

É a ideia da necessidade, de dar uma resposta à necessidade.

Hoje, impreterivelmente hoje, gostaria de fazer uma análise bem superficial acerca de alguns cenários, um pouco ocultos à grande parcela de nossa sociedade – por enquanto.

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A análise é simples. Você está disposto a lucrar – tirar proveito – com o sofrimento do seu próximo?

Antes que esta pergunta seja respondida. Leia-me primeiro.

Navegue comigo nas linhas rudes e confusa dos meus pensamentos.

Você é meu convidado mais que especial.

Já te adianto que farei um link entre o ocorrido em uma loja do Carrefour, na Zona Norte de Porto Alegre, e o desastre de Brumadinho. E outros tantos desastres.

Caso você ache que não há ligação entre os dois fatos, deixa-me tentar te convencer do contrário e, quem sabe, te assustar com esta análise.

Voltemos à data de 25 de janeiro de 2019. Sexta-feira. Brumadinho.

A barragem da Mina Córrego do Feijão, classificada como “baixo risco”, que acumulava aproximadamente 12,7 milhões de metros cúbicos de rejeitos de uma mina ferro se rompeu.

No momento do rompimento, uma onda de rejeitos varreu tudo que estava à sua frente, ceifando a vida de 259 pessoas.

Por trás de toda essa tragédia, eis o nome de uma empresa. VALE S.A.

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Ponto. Agora vou tratar um pouco do mercado financeiro, mas especificamente sobre as ações da VALE S.A.

Dia 28 de janeiro de 2019 – segunda-feira. As ações da Vale caem 24% e a empresa perde R$ 72 bilhões de reais em valor de mercado. Se você é leigo no assunto, é semelhante a um carro que sofreu um acidente, e já não vale mais tanto quanto antes.

VALE3 no dia 24/01/2019 = R$ 56,15 = preço por ação, um dia antes de Brumadinho.

VALE3 no dia 28/01/2019 = R$ 42,38 = queda de 24,52% em relação à sexta.

VALE3 no dia 30/01/2019 = R$ 46,60 = valorização de 9,9% em 2 dias.

Muitas pessoas não entendem o mercado de ações, porém a título de comparação, no ano de 2019 a poupança rendeu 4,26%.

Logo, quem comprou as ações da VALE3 na segunda (28/01/2019), na queda, LUCROU 2x mais, em dois dias, do que quem deixou o dinheiro na poupança o ano todo.

Está bom para você?

Vou citar a ação do Bradespar, braço do Banco Bradesco só que em participações.

O Bradespar tinha uma das duas maiores posições em VALE3, sendo diretamente impactado pela tragédia.

BRAP4 no dia 24/01/2019 = R$ 35,00 = preço da ação um dia antes de Brumadinho.

BRAP4 no dia 28/01/2019 = R$ 26,43 = queda de 24,49% em relação à sexta.

BRAP4 no dia 30/01/2019 = R$ 28,72 = valorização de 8,6%.

Mesma coisa da VALE3. Quem comprou na queda, esperando a valorização, ganhou 2x mais em dois dias do que aqueles que “investiram” na poupança durante o ano de 2019.

Vocês são curiosos como eu?

Hoje a ação da VALE3 está cotada em R$ 68,44. Da Bradespar, R$ 51,04. Respectivamente, R$ 12 reais e R$ 16 reais, mais valiosas que o preço do dia anterior ao desastre de Brumadinho.

Será que o mercado esqueceu? Será que as famílias esqueceram?

Alguém lucrou.

Aquele carro batido que citei, hoje vale mais do que antes do acidente. É basicamente isso.

Caso do Carrefour – CRFB3

Em 2009 – Unidade Carrefour Osasco, um vigia e técnico em eletrônica foi confundido com ladrão e agredido pelos seguranças do estabelecimento, pois o homem estaria “roubando” um carro, que é dele.

Em 2017 – Unidade Carrefour Sorocaba, um homem foi impedido de andar pela loja, além de ser humilhado na frente de outros clientes. Quando questionou o motivo, ouviu que era “Por causa da sua cor e porque você está de camiseta, chinelo e bermuda. Os clientes não vão gostar. Saia daqui”.

Em 28 de novembro de 2018 – Unidade Carrefour Osasco, um segurança matou cachorro conhecido pelo nome Manchinha com uma barra de ferro.

Em 19 de agosto de 2020 – Unidade Carrefour Recife, um representante de vendas falece dentro da loja em razão de um infarto, corpo foi coberto com guarda-sóis. Loja continuou a funcionar.

Em 19 de novembro de 2020 – O senhor João Aberto é espancado até a morte por seguranças do Carrefour, na unidade da Zona Norte de Porto Alegre.

Como o mercado financeiro precificou isso?

As ações do Carrefour abriram a R$ 20,06, passou pela mínima de R$ 19,81, subiu até a máxima R$ 20,65, e fechou valendo R$ 20,39, ou seja, com valorização de 0,49%

Isso mesmo, as ações deste estabelecimento terminaram o dia positivo! Por quê?

Do mesmo modo como ocorreram com as ações da Vale e Bradespar, pessoas viram uma oportunidade no desastre.

Um lucro rápido. Dinheiro no bolso.

Alguém lucrou. Com certeza alguém lucrou.

Quando alguém compra uma ação de uma empresa, com o intuito de investir, quer se tornar SÓCIO DELA, no médio ou longo prazo.

No curto prazo, existem aqueles que especulam se a ação vai subir ou descer. Mas, no final do dia, no final do dia da morte de João Alberto, a força compradora (para se tornar sócio ou apenas especular) venceu, pois, de algum modo viram uma OPORTUNIDADE aqui.

Os lenços sempre serão necessários para aqueles que choram, secar suas lágrimas. Mas a questão aqui reside em: até onde irá os escrúpulos dos vendedores de lenços?

Mas será que isso acontece apenas no mercado financeiro? As tais oportunidades?

Senão, vejamos:

07 de março de 2018 – Homem morre eletrocutado e tem pertences roubados.

08 de setembro de 2020 – Caminhão frigorífico tomba e tem carga de carnes saqueada.

23 de novembro – Casas próximas a prédio tombado em Betim, Minas Gerais, são arrombadas e em uma delas há registro de furto.

Deixarei apenas estes exemplos. De que isto não acontece apenas no mercado financeiro.

Adiante, quero fazer um crossover – que é uma mistura muito doida e que só faz sentido na minha cabeça.

Já dizia meu amigo, Hobbes – o matemático, não o do Velozes e Furiosos: O homem é lobo do homem.

E, dizia Lord Cutler Beckett – aquele de Piratas do Caribe 3: São apenas negócios.

Antes de afundar com seu navio.

Assim vejo que a natureza humana – de alguns, afunda, afunda sem empatia pelo próximo, depois de tudo quanto eu disse aqui. Seja licitamente ou ilicitamente.

Todavia, o que é empatia?

Empatia

Em breve pesquisa ao Google, encontramos que o significado de empatia é “faculdade de compreender emocionalmente um objeto”. Popularmente conhecido como a “habilidade de se colocar no lugar do outro”.

Entretanto é importante mencionar que a empatia é o ato de se colocar no lugar do outro, e se perguntar: e se você comigo, o que eu sentiria? O que eu gostaria? O que eu não gostaria? Como eu reagiria?

Porém, apesar de parecer algo maravilhoso este conceito, ele não é o ideal – a meu ver. Trata-se apenas de um exercício de autoconhecimento, mas não de conhecimento dos sentimentos do outro.

Em um curso que eu ministro – sim, além de escrever estes artigos mega longos, eu falo um monte de coisa por um longo tempo. Recomendo, inclusive! Contratem-me! E lá eu digo que o interessante seria trabalharmos a “escuta empática”, que é a postura de estar um passo acima da empatia.

A Escuta Empática é o exercício de se colocar no lugar do outro, mas pelos olhos, conceitos, experiências e referências do outro. Ficou confuso? Acalme-se, irei exemplificar.

É por este motivo que estar sozinho para você pode significar solidão, e para outra pessoa é um sentimento de paz.

O que eu quero dizer com tudo isso.

Sempre haverá aqueles que serão pagos pela tragédia, pela dor do outro. E isso é fundamental. Ainda precisamos dos lenços.

Todavia, ver oportunidade nas tragédias que citei acima, será que não diz algo sobre o ser humano?

Mais um exemplo.

Sabe o apagão do Amapá? Então, segundo o portal de notícias do Governo do Amapá, no dia 07 de novembro, foi realizada, pelo Procon, a Operação “Apagão”, tendo a missão de fiscalizar e coibir a prática de preços abusivos nas distribuidoras, mercearias e postos.

Para se ter uma ideia, meu querido leitor(a), um frasco de 200ml de água estava sendo comercializado por R$ 4,00 reais.

Isso facilita ou dificulta a vida dos que mais precisam?

Empatia ou oportunidade?

Como as pessoas diretamente afetas por tudo isso se sentem?

Imagino que deve ser difícil ser cristão nesses momentos. Amar ao próximo ou ao bolso. Já dizia o Evangelho de Mateus lá no capítulo 6, versículo 24. Joga aí no Google.

Por último, gostaria de desenvolver um pouco mais esta questão do Carrefour.

Vou introduzir o pensamento – mais um.

Para isso, vou falar um pouco da dificuldade do goleiro Bruno de encontrar uma equipe de futebol para trabalhar como goleiro.

Até o Operário de Vegê tentou contratar o goleiro, mas após perder patrocinadores e ser alvo de vários protestos, desistiu desta empreitada.

Foi assim com Barbalha, do interior do Ceará, do Fluminense de Feira de Santana, da Bahia, Boa Esporte, de Minas Gerais etc.

A decisão se pautou pelo bolso, basicamente. Patrocinadores. Patrocinadores que não “queriam ver a sua marca vinculada à imagem do goleiro”.

O que eu quero dizer é. Às vezes o dinheiro fala mais alto – dificilmente falará baixo. Fazendo os clubes desistirem da contratação.

E, em relação ao caso Carrefour, que foi alvo de inúmeros protestos, venho lançar a reflexão.

O mercado Carrefour invariavelmente deu e poderá dar lucros, não apenas aos donos – acionistas. Como também as empresas que lá vendem os seus produtos.

O que será que aquela famosa marca de refrigerante diria sobre sua marca estar sendo vinculada ao Carrefour. As famosas marcas de cervejas. As marcas do setor alimentício em geral. As marcas de produtos de limpeza, higiene, entre outros.

Ou vão fazer a egípcia?

Ou o que estou falando aqui não faz sentido? Porque eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, buscando um novo rumo que faça sentido nesse mundo louco.

Um crossover entre Raul Seixas com Charlie Brown Jr. para finalizar o artigo.

Importante: 1. O estudo do preço das ações citadas neste artigo foi feito na data de 22 de novembro. 2. Nenhuma ação aqui citada foi analisada com o intuito de ser uma indicação de compra ou venda, tratando-se apenas uma análise social do mercado financeiro por meio de informações amplamente divulgadas em inumeráveis sites especializados.

Fernando é acadêmico de Direito, pendente ao Direito Penal e ávido leitor das notícias regionais. Técnico em eletrônica por formação, todavia, é fascinado por escrever, seja qual for o assunto.