O Sistema Integrado de Produção de Alimentos, conhecido por Sisteminha, é uma tecnologia social voltada para a agricultura familiar e a produção de alimentos – piscicultura, agricultura e criação de pequenos animais – em pequenos espaços, como quintais rurais e urbanos, garantindo a segurança e a soberania alimentar e nutricional de famílias e/ou comunidades de baixa renda de forma sustentável, versátil e com baixo custo, e o desenvolvimento rural sustentável.
A tecnologia foi aprimorada para incluir uma abordagem de produção com foco comunitário e escalabilidade: o Sisteminha Comunidades, versão em que a produção é incrementada para atender ao mercado local, podendo se tornar modelo de empreendedorismo e desenvolvimento comunitário. Essa evolução contribui para o escalonamento da redução da pobreza e da fome, impactando ainda mais positivamente o desenvolvimento social de milhares de famílias.
Desenvolvida pelo pesquisador da Embrapa Maranhão Luiz Carlos Guilherme durante seu doutorado na Universidade Federal de Uberlândia – UFU com recursos da Fundação Amparo de Pesquisa do Estado de Minas Gerais – Fapemig e aperfeiçoada na Embrapa, a tecnologia, funciona em torno do tanque de peixes – o coração do Sisteminha – construído por meio de estruturas simples montadas com recursos disponíveis localmente. A lógica do Sisteminha é promover a ciclagem de nutrientes, o uso eficiente da água do tanque para irrigação e do solo e técnicas como compostagem e vermicompostagem para transformar resíduos em adubo, reduzindo a necessidade de insumos externos e os impactos ambientais, criando um ciclo sustentável.
“A partir dos resíduos gerados nesses módulos é possível produzir o composto orgânico que serve como adubo do módulo vegetal, que pode envolver o cultivo de frutas, verduras e hortaliças ou outros produtos de acordo com o interesse da família e a vocação da região, explica o pesquisador. O Sisteminha se mostra viável justamente porque é modular, adaptável – sendo possível adicionar ou retirar elementos do projeto original para adaptar às diferentes realidades – e centrado no aproveitamento de recursos disponíveis”, completa o pesquisador Luiz Carlos Guiherme”.
O resultado é menos fome e êxodo rural, mais segurança alimentar, geração de renda e autonomia, especialmente em áreas urbanas e rurais do Nordeste do Brasil e mais preservação de culturas quilombolas, indígenas, ribeirinhas e extrativistas e do meio ambiente circundante.

Sisteminha para adaptação às mudanças climáticas no campo
O Sisteminha será destaque da COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), que ocorrerá em Belém, no Pará. Um Sisteminha completo foi instalado na sede da Embrapa Amazônia Oriental, em Belém, na AgriZone (espaço da Embrapa e parceiros que reúne tecnologias de baixo carbono com foco em adaptação, resiliência climática e segurança alimentar), como vitrine tecnológica para os participantes do evento. A tecnologia foi ainda destaque na COP 29. A Unidade de Referência Tecnológica recém-instalada também será polo irradiador da tecnologia social na região Norte, ferramenta para a capacitação de mais produtores rurais, comunidades, multiplicadores e outros segmentos.
A importância do Sisteminha no contexto da COP30 se dá por ele ser apresentado como uma tecnologia social que contribui para:
A COP30 terá foco em temas como justiça climática, transição energética justa para a Amazônia e financiamento climático. O debate sobre sistemas alimentares e agricultura familiar sustentável está previsto na agenda. O Sisteminha se encaixa nesse debate como uma solução viável economicamente alinhada com práticas de sustentabilidade no campo para o combate à fome e o fortalecimento da autonomia das comunidades.

Práticas sustentáveis para pessoas e meio ambiente
O Sisteminha combina tecnologia e saberes tradicionais das comunidades para enfrentar desafios como a insegurança alimentar e a fome e, ainda, a serem mais resilientes às mudanças climáticas, pois também contribuiu para fortalecer a adaptação das comunidades aos efeitos das alterações climáticas por meio de práticas sustentáveis e conhecimento local. “O Sisteminha atua integrando tecnologias adaptativas e os saberes das comunidades, especialmente agrícolas, para enfrentar o impacto das mudanças climáticas, promovendo a resiliência nos sistemas produtivos e sociais. Essa abordagem é um exemplo prático de como enfrentar desafios climáticos com soluções locais e sustentáveis, valorizando o conhecimento tradicional aliado à inovação tecnológica”, destaca Luiz Carlos Guilherme.
Segundo explica o pesquisador, a tecnologia objetiva o uso de recursos naturais, como água e nutrientes, além de tratar resíduos por meio de técnicas inteligentes de cultivo escalonado e diversificado. “Essas práticas sustentáveis não só minimizam o impacto ambiental, mas também aumentam a produtividade a longo prazo. Socialmente, o sistema empodera comunidades vulneráveis, proporcionando autonomia na produção de alimentos e na geração de renda. Esse é o tripé da sustentabilidade”.
Aldeia Atikum, sertão da Bahia
Foi o que ocorreu em comunidades do semiárido da Bahia, em parceria com a Universidade Federal do Vale do São Francisco – Univasf. O professor Renê Cordeiro destaca os impactos positivos da experiência com o Sisteminha no Semiárido. “A tecnologia vem gerando renda para as comunidades, porque permite que as famílias produzam peixes, hortaliças e ovos tanto para o consumo próprio quanto para a venda em feiras locais. Isso garante segurança alimentar e, ao mesmo tempo, abre uma fonte de renda estável, mesmo em áreas de difícil produção agrícola. Do ponto de vista ambiental, o Sisteminha tem uma característica muito importante: ele se retroalimenta. A água dos peixes serve de biofertilizante para a horta, os restos orgânicos alimentam os animais e nada se perde. Essa lógica de reaproveitamento reduz o uso de insumos externos, economiza água e contribui para a diminuição da emissão de gases de efeito estufa, já que funciona em base de economia circular. Também há o impacto social. Mulheres e jovens têm encontrado no projeto uma oportunidade de participar ativamente da produção, assumindo papéis importantes dentro da comunidade e ampliando a autonomia das famílias”.
Na Aldeia Atikum, foi realizada oficina prática, em Sento Sé-BA, com foco na construção de aviários para aves de postura. A atividade teve como objetivo capacitar indígenas sobre a construção de aviários, promovendo a autonomia na criação de aves. Durante a oficina, cerca de 15 indígenas aprenderam a medir e construir os aviários com materiais como madeira e palha. Segundo o professor, a abordagem prática é fundamental para garantir que os conhecimentos possam ser aplicados. “Foi uma dinâmica que surtiu efeito imediato. Eles conseguiram captar bem os conteúdos e os resultados práticos”, completou Renê. Ele observou que, apesar da complexidade do programa, os participantes captam as instruções com eficácia, beneficiados por sua experiência prévia na construção de ocas, que envolve o uso de madeira e palha. Os participantes também foram incentivados a formar grupos para se tornarem multiplicadores populares do Sisteminha Comunidades, promovendo a cooperação entre as famílias na construção em mutirão. São realizadas continuamente para que os participantes possam trocar experiências e se integrarem mutuamente na construção e na criação, mantendo um ciclo de aprendizado e desenvolvimento comunitário.
Quilombo São Martins, sertão do Piauí
Na comunidade quilombola São Martins, em Paulistana, sudoeste do Piauí, o impacto da produção coletiva viabilizada pelo Sisteminha Comunidades alterou positivamente os índices de desenvolvimento humano. Diversas oportunidades de negócios ocorreram, transformando a comunidade em exemplo de sucesso. As famílias já lidam bem, e coletivamente, com o mercado de insumos, os produtos e a gestão das atividades.
A comunidade conheceu o Sisteminha em 2015; implementado inicialmente por uma única família, ele serviu de modelo para as demais. A experiência vingou e, em novembro de 2020, a comunidade recebeu apoio de projetos governamentais que contemplaram 25 das 103 famílias. Divididos em cinco grupos, os moradores montaram uma fábrica de placas de cimento para construir os 25 tanques em regime de mutirão. Também dessa forma foram montados os 25 galinheiros. O foco são os peixes e as galinhas de postura. De um modo geral, cada família produz de 18 a 20 ovos por dia e cerca de 30 a 40 quilos de tilápia a cada três meses. Para inovar, estão introduzindo o frango de corte branco de peito duplo, uma linhagem industrial.
Foram observadas mudanças como o empoderamento das mulheres, a ocupação dos homens desempregados, a diminuição do êxodo rural e a melhoria geral da qualidade de vida das pessoas. A comunidade compra os insumos e compartilha e intercambia a produção entre si e comercializa o excedente.
“Hoje conseguimos produzir o nosso próprio alimento. Vejo, orgulhosa, a minha comadre fazendo bolo sem precisar comprar ovos. Já podemos vender batatas para comprar açúcar e vender uma dúzia de ovos para comprar manteiga. A minha avaliação é totalmente positiva”, conta Milena Martins, da Associação de Quilombolas e coordenadora de Apoio das Comunidades Quilombolas do Estado do Piauí.
O Sisteminha Comunidades estimulou a produção e a comercialização com qualidade, variou e melhorou o hábito alimentar com a inserção comercial dos produtos vindos dos nossos quintais. Antes só se consumia peixe na quaresma ou na semana santa; frutas, verduras e hortaliças vinham de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA); ovos eram sempre comprados em Paulistana (PI). Hoje temos tudo isso na comunidade, com qualidade, e ainda podemos incrementar a produção com mais estrutura”, conta Ivanete Pereira Rosa, presidente da Associação da Comunidade Quilombola São Martins.
Agostinho Orlando Pereira é representante de mais uma família impactada pela tecnologia. Para ele, transformação e conhecimento são sinônimos do Sisteminha. “Nossa vida mudou, e muito. O que se via de ano em ano agora temos em casa todos os dias. A cada dia aprendemos mais com o cultivo da agricultura familiar e somos multiplicadores populares na região. Ajudamos mais famílias a se alimentar verdadeiramente e se articular coletivamente para que mais pessoas alcancem esses benefícios.”
Como manejo adequado, o módulo de piscicultura pode produzir 30 quilos de peixe a cada 3 ou 4 meses. Já no galinheiro a tecnologia preconiza galinhas de postura para o consumo dos ovos, com potencial de produção de 18 ovos por dia durante um ano.
Sisteminha e mudanças climáticas

Resiliência Climática e Segurança Alimentar: O Sisteminha é considerado uma tecnologia de defesa e fortalecimento de territórios, especialmente aqueles mais impactados por emergências climáticas. Ele promove a autossuficiência alimentar e a produção diversificada em pequenas áreas, tornando as famílias menos vulneráveis à quebra de safras ou à escassez causada por eventos climáticos extremos (como secas intensas ou inundações).
Sustentabilidade e Uso Eficiente de Recursos: O sistema é baseado na ciclagem de nutrientes e no uso eficiente da água e de outros recursos. Geralmente inclui módulos como tanque de piscicultura (com recirculação de água), horta fertirrigada com a água do tanque, galinheiro, compostagem e minhocário. Essa integração e o aproveitamento de resíduos reduzem a necessidade de insumos externos (como fertilizantes industriais), que muitas vezes estão ligados a emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) ou que podem ter a produção ou distribuição afetada por crises climáticas.
Adaptação: Ao permitir a produção de diversos alimentos (peixes, ovos, carne, hortaliças) em um sistema integrado e modular, o Sisteminha facilita a adaptação a diferentes realidades e condições ambientais, contribuindo para que os agricultores familiares e comunidades tradicionais possam lidar melhor com as alterações no clima.
Contribuição para a Mitigação: Por adotar práticas de agricultura sustentável, reduzir o uso de insumos químicos e favorecer a produção local, ele se alinha a modelos que buscam diminuir a contribuição da agricultura para as emissões de GEE (como as provenientes de desmatamento, fertilizantes nitrogenados e transporte de alimentos).
Sisteminha e Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
Em 2015, a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que compõem a Agenda 2030, agenda mundial para a construção e implementação de políticas públicas para erradicar a pobreza, garantir direitos humanos, promover, até essa datra, a sustentabilidade ambiental, social e econômica, tripé no qual se sustenta o Sisteminha. “Ao se adaptar e expandir a diferentes realidades de famílias e comunidades e se alinhar com os ODS da ONU, o Sisteminha pode vir a ser um modelo de agricultura sustentável que contribui significativamente para um futuro melhor para o Brasil”, diz o criador da tecnologia, Luiz Carlos Guilherme.
Atualmente o Sisteminha Comunidades é uma tecnologia que já atende a todos esses objetivos nos seguintes aspectos:
ODS 1 – Erradicação da Pobreza
O Sisteminha Comunidades contribui diretamente para a erradicação da pobreza ao promover a autonomia produtiva das famílias em situação de vulnerabilidade. Ao oferecer uma plataforma para a produção de alimentos de forma sustentável e com baixo custo, o Sisteminha permite que as famílias gerem sua própria renda por meio da venda de excedentes da produção. Isso melhora as condições de vida e combate à pobreza extrema, principalmente em comunidades tradicionais que enfrentam dificuldades de acesso a recursos e oportunidades.
ODS 2 – Fome Zero e Agricultura Sustentável
O Sisteminha Comunidades promove a segurança alimentar ao possibilitar a produção local de alimentos – como peixes, aves e vegetais, hortaliças e grãos -, garantindo uma dieta variada e nutritiva para as famílias. Além disso, o modelo estimula práticas de agricultura sustentável preservando os recursos naturais e favorecendo o equilíbrio ambiental. Também contribui para a eliminação da fome em comunidades vulneráveis ao aumentar a disponibilidade de alimentos de forma contínua e acessível.
ODS 3 – Saúde e bem estar
Ao combater a fome e garantir segurança alimentar, o Sisteminha Comunidades contribui para uma saúde de qualidade, pois atende às necessidades nutricionais diárias de uma pessoa, fornecendo proteínas, vitaminas, minerais, carboidratos e lipídios essenciais. Isso melhora a saúde e diminui a ocorrência de doenças causadas pela má nutrição. Além disso, a tecnologia da Embrapa eleva a qualidade de vida das famílias, promovendo bem-estar físico e mental, já que a capacidade de produzir seu próprio alimento reduz o estresse causado pela insegurança alimentar.
ODS 4 – Educação de qualidade
Os parceiros do Sisteminha Comunidades aprendem, em oficinas e treinamentos práticos, sobre a importância da sustentabilidade, do gerenciamento de recursos e do empreendedorismo local. Esses conhecimentos fortalecem o aprendizado contínuo e incentivam a educação. Após a implantação do Sisteminha, muitos parceiros se dedicaram mais aos estudos, voltando para a escola, concluindo o Ensino Médio, Graduação e até Mestrado. Além disso, por meio de parcerias com instituições de ensino, a exemplo dos Institutos Federais, possibilitou a utilização da tecnologia no ensino multiinterdisciplinar da Matemática, Biologia, Química, Física e ainda outras disciplinas.
ODS 5 – Igualdade de Gênero
O Sisteminha Comunidades contribui para a igualdade de gênero ao promover o envolvimento de mulheres em atividades produtivas e na gestão dos módulos de produção. Ele oferece oportunidades para que mulheres, especialmente em comunidades tradicionais, possam gerar renda, ter autonomia e melhorar a qualidade de vida de suas famílias, ajudando a diminuir as disparidades de gênero ao facilitar acesso a tecnologias, conhecimentos produtivos e recursos financeiros. Isso fortalece o papel das mulheres como líderes e empreendedoras nas comunidades, promovendo sua participação ativa no desenvolvimento sustentável e na segurança alimentar de suas famílias e comunidades.
ODS 6 – Água potável e saneamento
Ao implantar o Sisteminha Comunidades, os parceiros aprendem a importância de evitar esgoto a céu aberto, prevenindo a contaminação do solo e da água, que são recursos essenciais para sua sobrevivência. Isso também ajuda a evitar doenças causadas pela falta de saneamento básico. Além disso, eles aprendem a tratar e reutilizar a água cinza, que pode ser usada na irrigação de algumas frutíferas, promovendo o uso sustentável dos recursos hídricos.
ODS 7 – Energia limpa e acessível
Com a implantação do Sisteminha Comunidades, em alguns casos, pequenas usinas fotovoltaicas são instaladas. No futuro, essas usinas poderão gerar crédito de energia limpa para beneficiar a comunidade.
ODS 8 – Trabalho decente e crescimento econômico
Após atingirem a segurança alimentar e saciarem a fome, a maioria das famílias começa a vender o excedente da produção, melhorando a renda familiar e, consequentemente, a autoestima dos envolvidos. Além disso, o Sisteminha Comunidades tem contribuído para impulsionar o desenvolvimento regional.
ODS 9 – Indústria, inovação e infraestruturas
O Sisteminha Comunidades é uma tecnologia social inovadora que utiliza recursos disponíveis para sua implementação. O tanque pode ser construído com materiais como placas de concreto, plástico, papelão, alvenaria ou taipa, entre outros. O biofiltro tem um custo baixo, tornando-o acessível para pessoas em situação de vulnerabilidade social. Além disso, os excedentes da produção no Sisteminha são vendidos como fonte de renda, incluindo o beneficiamento de frutas em produtos como polpas e doces.
ODS 10 – Redução das Desigualdades
O Sisteminha Comunidades contribui diretamente para a redução das desigualdades ao facilitar o acesso a tecnologias produtivas e conhecimentos para grupos vulneráveis, como comunidades indígenas, quilombolas e outros povos tradicionais. Ao promover o desenvolvimento econômico sustentável por meio da produção local de alimentos, o Sisteminha aumenta a autonomia produtiva dessas comunidades, fortalece suas economias e cria oportunidades de geração de renda e segurança alimentar. Isso contribui para a inclusão social e econômica de grupos vulneráveis.
ODS 11 – Cidades e comunidades sustentáveis
O Sisteminha Comunidades promove a sustentabilidade em comunidades urbanas e rurais, incentivando o uso eficiente de recursos como água e energia solar. Ele melhora a qualidade de vida ao garantir segurança alimentar, redução de desigualdades por meio da geração de renda e ambientes mais limpos e saudáveis. Além disso, a sua implementação a um custo acessível permite que pessoas das regiões urbanas e periurbanas em situação de vulnerabilidade social adotem práticas sustentáveis, ajudando a construir cidades e comunidades mais inclusivas e resilientes.
ODS 12 – Consumo e Produção Responsável
O Sisteminha Comunidades promove o consumo e a produção responsável por integrar o cultivo de vegetais e a criação de pequenos animais, utilizando técnicas de colheita seletiva e manejo sustentável de recursos naturais, como água e solo. O sistema garante o uso eficiente de recursos, como o reuso de água e promove a reciclagem de nutrientes através da compostagem. Ao reduzir o desperdício e maximizar a produção em áreas limitadas, contribui para práticas agroecológicas e sustentáveis.
ODS 13 – Ação contra mudança global do clima
O Sisteminha Comunidades, ao evitar o desmatamento e o uso indiscriminado da água, promove práticas sustentáveis que minimizam os impactos no ambiente. Ao reaproveitar resíduos e produzir alimentos de forma eficiente, contribui para a conservação dos recursos naturais e a redução das emissões de carbono, ajudando a combater as mudanças climáticas.
ODS 14 – Vida na água
O Sisteminha Comunidades produz peixes em tanques isolados de recursos aquáticos naturais, como rio, lagoas e represas, preservando esses ecossistemas. Por meio de práticas sustentáveis de manejo, o Sisteminha contribui para a conservação da qualidade da água, prevenindo a poluição e a degradação dos habitats aquáticos. Isso não só protege a biodiversidade local, mas também assegura recursos hídricos saudáveis para o sustento das comunidades, promovendo um equilíbrio entre a atividade humana e a conservação dos ambientes aquáticos.
ODS 15 – Vida Terrestre
O Sisteminha Comunidades contribui para a preservação e restauração dos ecossistemas terrestres ao promover práticas agrícolas sustentáveis que melhoram a qualidade do solo e incentivam a biodiversidade. O uso de técnicas como compostagem, minhocários e a integração de diferentes espécies de plantas e animais melhora a fertilidade do solo e evita o desmatamento para novas áreas de cultivo. Além disso, o sistema promove o uso sustentável dos recursos naturais e contribui para a conservação da biodiversidade local, evitando os impactos ambientais.
ODS 16 – Paz, Justiça e Instituições Eficazes
O Sisteminha Comunidades promove justiça social e fortalece instituições comunitárias ao incentivar a participação ativa de comunidades vulneráveis na gestão de seus recursos. Fomentando a autonomia produtiva, o sistema cria ambientes pacíficos e inclusivos, onde as decisões são tomadas coletivamente e os recursos são compartilhados de forma equitativa, reduzindo conflitos internos e promovendo o bem-estar social. Além disso, estimula práticas transparentes e colaboração com instituições locais, fortalecendo redes de apoio comunitário.
ODS 17 – Parcerias e Meios de Implementação
O Sisteminha Comunidades fomenta parcerias entre diferentes setores, como governos, organizações não governamentais, universidades e comunidades locais. Essas parcerias são essenciais para o compartilhamento de conhecimentos, tecnologias e recursos, permitindo a expansão da tecnologia em diferentes regiões do Brasil. Ao fortalecer a cooperação internacional e local, o Sisteminha demonstra a importância de alianças estratégicas para alcançar os objetivos de desenvolvimento sustentável, promovendo a inclusão e o desenvolvimento em comunidades vulneráveis.
Como funciona o Sisteminha
A tecnologia social é apropriada para produzir alimentos em pequenos espaços, em áreas urbanas e rurais, para atender às necessidades nutricionais de uma família de quatro a cinco pessoas, de acordo com as recomendações nutricionais da Organização Mundial da Saúde (OMS). Em um quintal de tamanho entre 100 e 1,5 mil metros quadrados, o Sisteminha expressa toda sua versatilidade, sendo possível a produção de peixes, ovos e carne de galinhas e codornas, suínos, porquinhos-da-índia, grãos, legumes, frutas, hortaliças, húmus de minhoca e composto orgânico, entre outros. Além de garantir a alimentação básica às famílias, possibilita também a geração de renda, pela comercialização do excedente da produção.
Toda a implantação do projeto é voltada para a redução de custos e seguindo modelo agrícola sustentável. “É uma metodologia simples, de fácil construção, que não interfere culturalmente nas famílias e consegue retirar as pessoas da situação de pobreza e miséria, gerando segurança e soberania alimentar em menos de sete meses. E, o principal, ensina as famílias a conquistarem sua independência alimentar e nutricional, melhorando sua autoestima e capacidade de resolver problemas relacionados à execução das atividades”, explica o criador do Sisteminha, o zootecnista Luiz Carlos Guilherme, pesquisador da Embrapa.

O coração do Sisteminha
O Sisteminha utiliza a piscicultura intensiva praticada em pequenos tanques construídos com materiais diversos, como papelão, argila e plástico. O tanque para a produção de peixes (tilápias) tem capacidade de 8 mil a 10 mil litros de água. Todos os módulos se beneficiam em algum momento da produção de nutrientes oriundos do tanque de peixes, capaz de produzir entre 100 e 120 quilos de tilápia em três ciclos por ano. Ao fim de cada ciclo, os peixes chegam a pesar entre 200 e 300 gramas.
A partir da recirculação dos nutrientes provenientes do tanque de peixes, é possível obter um sistema de produção integrado de frutas e hortaliças – irrigados com efluentes e resíduos sólidos gerados do tanque –, aves e pequenos animais, que beneficia todos os módulos do sistema, organizados de acordo com a disponibilidade e interesse do produtor.
A água residual da criação dos peixes, rica em sólidos orgânicos, é usada na alimentação das minhocas e irrigação dos canteiros convencionais de horticultura e hidroponia. É um biofertilizante que contém macronutrientes como nitrogênio e potássio, além de fósforo, magnésio, enxofre e cálcio. O esterco das aves e pequenos animais, por meio da compostagem, é curtido e se transforma em húmus com auxílio das minhocas. Em seguida esse adubo natural retorna ao cultivo dos vegetais.
Segundo Luiz Guilherme, o Sisteminha permite o uso de fontes alternativas de energia e garante às famílias alimentação equilibrada durante o ano todo. A plantação é escalonada, ou seja, o plantio é feito aos poucos; assim a colheita é gradual, para não faltar nem sobrar muitos alimentos. Em cada fase, algo é acrescentado.
“São soluções tecnológicas integradas que consiste na integração do tripé peixe, aves e húmus, em associação ou rodízio com outras atividades da cadeia alimentar, tendo, como ponto central da produção integrada, a piscicultura intensiva. Outro diferencial do Sisteminha é que, por exemplo, a própria produção de peixes em tanques sequestra mais de 60% do carbono que poderia ir para a atmosfera. Tecnologia sustentável social, econômica e ambientalmente”, resume o pesquisador.
A inovação desenvolvida e que viabilizou a tecnologia foi a simplificação do biofiltro utilizado no sistema de recirculação da água do tanque de criação de peixes. Ele permite a degradação da amônia (tóxica para os peixes), que é transformada em nitrato pela ação bacteriana. Por isso, o tanque, que consegue oferecer água rica em nutrientes para as plantações, é o módulo principal, considerado o “coração” do Sisteminha.
“Conseguimos simplificar o material do biofiltro, o que reduziu em mais de 99% o custo: um balde, cordas de nylon desfiadas, um cano de PVC, uma mangueira de limpeza de piscina e uma garrafa pet. Essa redução dos custos permitiu fazer a criação dos peixes em pequenos espaços com garantia de qualidade”, explica Guilherme.
O tanque rústico de peixes pode ser composto de madeiras, bambu e talos disponíveis na própria propriedade, amarrados por fios de garrafa pet ou afins, podendo ser revestido por papelão como parede e usando a argila como acabamento. Em alguns casos, pode ser revestido com plástico para melhorar a impermeabilização e, por fim, recoberto com a lona plástica para a retenção de água.
Dentro do tanque, a água com restos de ração e fezes passa por um sedimentador que retém o material sólido. Antes de voltar para o tanque, a água passa pelo biofiltro. No interior, centenas de fios de nylon cheios de bactérias que decompõem a amônia. Com a evolução dos trabalhos em campo, foram sendo construídos tanques de tijolos e de placas de concreto.
Respeitadas as dimensões de um tanque circular, que resultem em armazenamento de 10 mil litros de água, em uma lâmina de 70 cm a 80 cm, muitas alternativas construtivas são viáveis. Embora o formato retangular seja possível, o tanque redondo com raio de 2,2 m e 0,7 m de profundidade é o mais indicado, por facilitar a circulação da água, concentrando resíduos sólidos no centro do tanque, de onde são sugados.
 
     
     
     
     
     
							













 

