Com preços firmes, uso de tecnologia e demanda internacional aquecida, a pecuária mato-grossense vive um dos melhores momentos da década, liderando exportações e produtividade.
Com valorização da arroba e aumento na demanda global, a pecuária de Mato Grosso vive uma das fases mais promissoras dos últimos anos. O bom momento foi tema central do 4º Encontro Técnico de Pecuária da Fundação MT, realizado em Rondonópolis no último sábado (4). Especialistas destacaram que ciência, tecnologia e alta procura internacional têm impulsionado o crescimento do setor.
O coordenador de inteligência de mercado da Scot Consultoria, Felipe Fabbri, observou que o preço da arroba em Mato Grosso se igualou ao de São Paulo, referência nacional.
“O preço da arroba trabalhou próximo de R$ 300 em 2025, igualando-se a São Paulo em alguns momentos — algo raro na história da pecuária brasileira”, afirmou.
Segundo Fabbri, o principal fator desse comportamento de mercado é a força das exportações.
“Tivemos uma habilitação massiva de frigoríficos para exportar à China nos últimos dois anos, envolvendo MT, MS, PA e RO. Isso aumentou a demanda por boiadas mais jovens e manteve os preços elevados”, explicou.
Exportações batem recordes com protagonismo chinês
Mesmo com o aumento das tarifas americanas sobre a carne bovina, o desempenho do Brasil surpreendeu.
“Tivemos a China comprando um dos maiores volumes da história e outros países, como México e Rússia, ampliando suas compras. Isso compensou o impacto do tarifaço americano”, destacou Fabbri.
De acordo com dados do Comex Stat, reunidos pelo Sistema FIEMT, entre janeiro e agosto de 2025 a China respondeu por 62,57% das exportações de carne bovina de Mato Grosso, seguida por Rússia (7,39%) e Estados Unidos (6,12%).
O estado segue como líder nacional em exportações de carne bovina, responsável por 23% do total exportado pelo Brasil. No mesmo período, foram embarcadas 451,4 mil toneladas, gerando US$ 2,3 bilhões em receita. Mato Grosso também mantém o maior rebanho bovino do país, com 32,1 milhões de cabeças.
Ciência e tecnologia ampliam produtividade
Além do bom momento de mercado, o evento reforçou o papel da ciência como aliada da produtividade.
O pesquisador Thiago Trento, da Fundação MT, explicou que avanços em nutrição, genética e manejo são fundamentais para aumentar a rentabilidade.
“Animais geneticamente adaptados e bem nutridos apresentam melhor desempenho, gerando mais produto por unidade e reduzindo o custo por quilo produzido”, afirmou.
Ele destacou ainda que o uso de práticas sustentáveis possibilita acesso a mercados diferenciados, certificações e programas de crédito de carbono, abrindo novas fontes de receita.
O pecuarista Marcelo Vendrame, presidente do conselho curador da Fundação MT, reforçou o papel da pesquisa:
“Nos últimos 20 anos, os dados mostram um ganho de eficiência gigantesco na relação entre área de pastagem e produção de carne — resultado direto da aplicação de ciência e tecnologia.”
Inteligência de dados e IA no campo
O analista de Data Science da Fundação MT, Pedro Thiago, apresentou no evento como algoritmos e estatística estão sendo aplicados na pecuária moderna.
“Hoje já é possível estimar antecipadamente perdas de eficiência produtiva e econômica durante o confinamento, graças à coleta de dados por sensores e dispositivos embarcados”, explicou.
Segundo ele, a inteligência artificial (IA) está transformando o modelo de gestão do setor.
“O cruzamento de dados com previsão de clima, preços e mercado vai revolucionar a forma de tomar decisões no campo”, completou Vendrame.
Custos de produção e perspectivas para 2026
Mesmo com o cenário positivo, o custo de reposição segue como ponto de atenção.
“O bezerro subiu mais que a arroba do boi gordo. É hora de aproveitar o bom momento para fazer caixa e investir na estrutura da fazenda”, alertou Fabbri.
Depois de dois anos desafiadores, 2025 tem sido de recuperação. A perspectiva para 2026 é de preços firmes, porém margens mais apertadas, devido aos custos de reposição. Conflitos geopolíticos e medidas protecionistas devem continuar exigindo atenção e resiliência dos produtores.
“Todo ano na agropecuária é atípico. É preciso serenidade e boas ferramentas de gestão para lidar com um cenário sempre desafiador”, concluiu o analista.
Fontes: Fundação MT, Scot Consultoria, FIEMT, Comex Stat (2025)