Pecuária de Mato Grosso alcança preços históricos e lidera exportações

Fonte: CenárioMT

Pecuária de Mato Grosso
Pecuária de Mato Grosso - Canva

A pecuária de Mato Grosso vive uma fase de ouro, marcada pela valorização sem precedentes da arroba e pelo domínio nas exportações globais de carne bovina. Este cenário positivo foi o foco central do 4º Encontro Técnico de Pecuária, promovido pela Fundação MT (Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso) em Rondonópolis no último sábado (4), onde especialistas apontaram a ciência, a tecnologia e a alta demanda internacional como os pilares desse crescimento.

Um dos dados mais notáveis do mercado foi a equiparidade do preço da arroba em Mato Grosso com o valor praticado em São Paulo, historicamente o estado referência para o setor no Brasil.

O analista de mercado Felipe Fabbri, da Scot Consultoria, destacou a raridade desse fenômeno: “O preço da arroba chegou a trabalhar próximo de R$ 300 em Mato Grosso, igualando-se a São Paulo em certos momentos. Isso é algo incomum na história da pecuária brasileira.”

A principal razão para essa alta atípica é o poder das exportações. Nos últimos dois anos, o Brasil viu um aumento massivo no número de frigoríficos habilitados para vender carne à China. Esse movimento aumentou a demanda por boiadas precoces (animais de até 30 meses) nos estados exportadores, como MT, MS, PA e RO, sustentando o preço da arroba em patamares elevados.

Apesar das tarifas de exportação mais altas impostas pelos Estados Unidos — até então o segundo maior comprador — o mercado internacional respondeu com força. A China adquiriu um dos maiores volumes de carne bovina da história do Brasil nos últimos três meses, e a demanda de países como Rússia e México também cresceu, permitindo que o país batesse recordes de exportação em julho, agosto e setembro.

  • Liderança de MT: De janeiro a agosto de 2025, Mato Grosso foi o principal exportador de carne bovina do Brasil, respondendo por 23% do total nacional. O estado exportou 451,4 mil toneladas, gerando uma receita de U$S 2,303 bilhões.
  • Destino Principal: A China foi o maior destino da carne mato-grossense, absorvendo 62,57% das exportações.

Ciência e Tecnologia Impulsionam a Produtividade

A valorização do mercado está intrinsecamente ligada à necessidade de produzir mais e melhor. A exigência chinesa por precocidade (animais mais jovens) força os pecuaristas a investirem em técnica, produtividade e maior giro de produção.

Thiago Trento, pesquisador de pecuária da Fundação MT, reforçou que os resultados da ciência são decisivos para a rentabilidade:

  • Melhora no Desempenho: Estudos em nutrição, genética, manejo e sanidade otimizam a produtividade. Animais geneticamente adaptados e bem alimentados apresentam melhor desempenho, resultando em maior ganho de peso e redução do custo por quilo produzido.
  • Sustentabilidade e Receita: Pesquisas em práticas sustentáveis abrem portas para mercados diferenciados, certificações e programas de crédito de carbono, criando novas fontes de receita para as fazendas.

O pecuarista Marcelo Vendrame, presidente do conselho curador da Fundação MT, complementou que o ganho de eficiência da pecuária mato-grossense nas últimas duas décadas, evidenciado na relação entre área de pastagem e produção de carne, só foi possível graças à utilização intensiva de pesquisas.

A Revolução da Análise de Dados

A tecnologia de dados também se consolida como aliada estratégica. O analista Pedro Thiago apresentou como a ciência de dados transforma informações em decisões táticas:

  • Previsão e Classificação: O uso de métodos estatísticos e algoritmos computacionais permite estimar com antecedência, por exemplo, perdas de eficiência produtiva em confinamentos.
  • Inteligência Artificial (IA): O cruzamento de grandes volumes de dados (clima, preços e mercado) com a Inteligência Artificial deve revolucionar o modelo de gestão da pecuária, mas exige que os algoritmos sejam alimentados com dados robustos e de alta qualidade.

Desafios e Perspectivas Futuras

Apesar do excelente momento, o setor enfrenta desafios. O principal deles é o custo de reposição, já que o preço do bezerro subiu mais que o da arroba do boi gordo.

Felipe Fabbri orienta que os produtores aproveitem o cenário atual de preços firmes para fazer caixa e investir na infraestrutura da fazenda.

Depois de dois anos desafiadores, 2025 tem sido de recuperação. A perspectiva para 2026 é de preços estáveis, mas com margens de lucro mais apertadas devido aos custos de reposição. Conflitos geopolíticos e medidas protecionistas continuarão exigindo serenidade e resiliência dos pecuaristas, reforçando que “todo ano na agropecuária é um ano atípico.”

Gabriela Cordeiro Revirth, independente jornalista e escritora, é uma pesquisadora apaixonada de astrologia, filmes, curiosidades. Ela escreve diariamente para o Portal de Notícias CenárioMT para partilhar as suas descobertas e orientar outras pessoas sobre esses assuntos. A autora está sempre à procura de novas descobertas para se manter atualizada.