Nova plataforma digital reúne tecnologias e serviços para criadores de abelhas

O propósito da plataforma Infobee é auxiliar o processo de tomada de decisão dos criadores de abelhas

Fonte: CenárioMT com Assessoria

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O propósito da plataforma Infobee é auxiliar o processo de tomada de decisão dos criadores de abelhas (Foto: Ronaldo Rosa)

A Embrapa apresenta a plataforma Infobee, um espaço virtual que disponibiliza serviços inéditos aos criadores de abelhas de todo o Brasil. A iniciativa, que é fruto da parceria público-privada entre a Embrapa Amazônia Oriental (PA) e a empresa Equilibrium Web, reúne informações técnico-científicas, econômicas e de mercado sobre a apicultura e a meliponicultura. O novo espaço digital pode ser acessado por computador e equipamentos móveis, como smartphones e tablets.

A Infobee traz os resultados da pesquisa agropecuária nas áreas de apicultura e meliponicultura (atividade de criação de abelhas nativas sem ferrão, do gênero Melipona), na forma de publicações, cursos, vídeos, animações e aplicações web. “O propósito da solução é auxiliar o processo de tomada de decisão dos criadores de abelhas a partir do acesso a informações relevantes que possam promover a melhoria na gestão ou a superação de gargalos tecnológicos na atividade”, afirma o analista de sistemas Michell Costa, da Embrapa Amazônia Oriental.

Entre os destaques da nova plataforma estão: o Calendário Apícola Digital, que disponibiliza informações sobre o local de ocorrência e a época de floração das plantas mais visitadas pelas abelhas na região amazônica; o meliponário virtual, uma maquete em três dimensões da estrutura do ninho, das caixas de criação e da morfologia da abelha; e o serviço denominado “zapbee”, respostas com o uso de inteligência artificial para atender aos criadores a qualquer hora e lugar.

A ferramenta também disponibiliza painéis interativos sobre produção e exportação de mel e derivados no Brasil. “Essa funcionalidade permite conhecer a produção de mel por mesorregião do Brasil nos últimos dez anos, bem como acessar dados sobre a exportação do produto por ano nos estados brasileiros”, conta Costa.

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Foto: Ronaldo Rosa

Plataforma

Para Sebastião Júnior, proprietário e CEO da Equilibrium Web, responsável pelo codesenvolvimento do espaço digital, o desafio de criar uma plataforma para um segmento específico de mercado foi o propósito da empresa. “Quando trabalhamos com desenvolvimento de softwares, nosso foco é sempre chegar a uma ferramenta útil para a comunidade e que cumpra o seu objetivo”, afirma.

O mercado de mel e derivados no Brasil é um setor em crescimento, tanto na produção quanto na exportação. Segundo a Pesquisa Pecuária Municipal do IBGE, o País alcançou em 2022 um recorde de produção, com quase 70 mil toneladas, obtendo aumento de 9% em relação a 2021.

A plataforma é dinâmica e aberta a incorporar novas funcionalidades e informações, de acordo com o empresário. “A ferramenta foi desenvolvida a partir de um gerenciador de conteúdo intuitivo, maleável e de fácil utilização. Com isso, novos conteúdos podem ser criados e disponibilizados a partir da indicação e sugestão dos próprios usuários. Isso significa que a Infobee vai crescendo de acordo com as necessidades da comunidade”, ressalta.

O trabalho de escuta dos usuários é permanente, segundo os desenvolvedores. “O próprio desenvolvimento da plataforma é fruto de um trabalho de escuta realizado junto aos atores da cadeia produtiva do mel no estado do Pará, em 2019, que motivou o desenvolvimento de um projeto em parceria com a iniciativa privada”, lembra o agrônomo Daniel Santiago, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental.

Inteligência artificial na palma da mão

Uma das inovações da plataforma Infobee é o serviço chamado “zapbee”, que responde às dúvidas de criadores de abelhas e interessados no tema a qualquer hora e em qualquer lugar. O serviço está disponível na modalidade web e usa a tecnologia de inteligência artificial (IA) para interagir com os usuários.

“Não estamos criando uma tecnologia nova, estamos usando uma nova tecnologia para criar um serviço e a inteligência escolhida foi o ChatGPT”, explica Sebastião Júnior.

Para a apicultora Francidalva Monteiro, do município de Primavera, a possibilidade de ter um canal com informações confiáveis para o esclarecimento de dúvidas no celular é fantástica. “Na hora que eu tiver uma dúvida, eu acesso o aplicativo e resolvo. Vou dar um exemplo: eu perdi um enxame, se tivesse a informação naquela hora do manejo, eu não perderia”, destaca.

O processo de ensinar a IA sobre a criação de abelhas envolveu a conversão em dados de resultados da pesquisa agropecuária sobre o tema já publicados em texto, áudio e vídeo. A ferramenta transforma esses dados inseridos em conhecimento para que possa responder às perguntas dos usuários. “A primeira etapa do ‘zapbee’ já foi feita e está disponível na versão web. A segunda etapa será levar o serviço ao aplicativo de mensagem nos dispositivos móveis”, completa o CEO da Equilibrium Web.

Ciência e conhecimento popular

O Calendário Apícola Digital é um dos serviços desenvolvidos a partir da demanda dos criadores de abelhas no estado do Pará. O serviço traz a identificação correta das plantas mais relevantes para as abelhas, sejam elas do gênero Apis ou Melipona, a região de ocorrência e a época de floração, inicialmente para a região nordeste paraense. “O calendário é uma demanda antiga dos criadores. Com esse produto, eles conseguem visualizar claramente o período de floração de cada planta, a importância dessas plantas para a apicultura e a meliponicultura, e conseguem planejar o manejo das colônias para a produção de mel”, afirma Kamila Leão, agrônoma e gerente de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG Mel) do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar).

O calendário foi construído em oficinas realizadas pela Embrapa e pelo Senar em 11 municípios paraenses, nas regiões do Baixo Amazonas, nordeste e sudeste paraense, quando pesquisadores, técnicos e criadores de abelhas trocaram informações e conhecimentos sobre a flora local e a importância dela na alimentação das abelhas.

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O primeiro passo na construção desse produto, como explica a agrônoma, foi o levantamento, na literatura, das plantas mais importantes para as abelhas no estado do Pará, que levou à identificação de cerca de 400 plantas. “O passo seguinte foi ir a campo e conhecer a experiência dos criadores. Os próprios produtores indicaram as plantas mais importantes em cada município para a sua produção de mel”, conta a especialista.

As plantas citadas pelas comunidades foram identificadas no herbário da Embrapa Amazônia Oriental, validadas junto ao levantamento científico e incluídas no calendário. “Isso gerou um produto no qual é possível acessar o nome popular, de acordo com a localidade, o nome científico e o período de floração de cada planta na região”, finaliza Leão.

Diversidade de plantas

A apicultora e meliponicultora Joelma Nunes, de Primavera, município localizado no nordeste do Pará, afirma que a região possui um vasto pasto apícola, muitas vezes desconhecido pelos produtores e que pode ser melhor aproveitado. O pasto ou flora apícola é o conjunto de plantas interessantes para as abelhas na coleta de recursos, principalmente pólen e néctar.

“Sabemos que temos um pasto apícola muito rico, mas não temos conhecimento de como explorar isso. Com o calendário e a época das floradas do mês, conseguimos nos organizar para capturar os enxames. Além de identificar o melhor local para colocar o nosso apiário”, destaca a criadora.

“Nem nós mesmos sabíamos que conhecíamos tantas plantas apícolas e o potencial que têm na nossa região. É um vasto conhecimento popular”, afirma Andréa Sena, meliponicultora da zona rural do município de São João de Pirabas, no nordeste paraense.

Ela, que trabalha com o mel das abelhas-sem-ferrão e a produção de bebidas e licores, disse que só descobriu o tamanho do conhecimento que tinha a partir do trabalho realizado com técnicos e outros produtores. “Conseguimos enxergar a diversidade da nossa região e o nosso conhecimento em um material palpável para nos apoiar. O calendário contribui diretamente para o nosso dia a dia, permitindo conhecer os períodos de florada e quando precisamos alimentar as abelhas”, avalia.

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Foto: Ronaldo Rosa

Inclusão social e conservação ambiental

A meliponicultura é uma atividade exercida em diferentes regiões do Brasil. O País tem 244 espécies de abelhas sociais nativas conhecidas pela ciência. Dessas, 215 estão na Amazônia Legal.

A criação dessas abelhas, segundo o pesquisador Daniel Santiago, é desenvolvida em complemento à renda e conciliada com outras atividades agrícolas, especialmente na agricultura familiar. “É uma atividade inclusiva, geradora de renda e que contribui muito para a conservação ambiental”, pontua.

Santiago ainda cita que, geralmente, a atividade de criação das abelhas exóticas africanizadas (Apis melífera L.) tem sido a que gera renda de forma mais rápida, em volume de mel. “A partir dessa experiência, o produtor passa a conhecer mais sobre as abelhas e, muitas vezes, se torna meliponicultor. Porém, o contrário também pode ocorrer”, acrescenta.

Joaquim de Aviz Silva e a esposa Leuciléa Dias Silva foram morar no interior do Pará, em Quatipuru, região nordeste do estado, depois que se aposentaram e, desde 2007, começaram a criar abelhas. O casal iniciou na apicultura e, mais recentemente, começou a manejar as abelhas-sem-ferrão. “Tudo começou como um hobby, mas a atividade se transformou em renda e, quanto mais aprendemos, mais conhecemos e gostamos das abelhas”, comemora Aviz.

Eles são produtores de mel e estão se dedicando principalmente às abelhas-sem-ferrão. “É uma atividade terapêutica, qualquer pessoa pode criar as abelhas e faz bem para a mente”, conta Lea. “As abelhas só fazem bem, melhoram a agricultura, o meio ambiente e ainda deixam o mel. É um complemento muito importante da renda do agricultor familiar”, garante Aviz.

“Nos últimos anos, a atividade vem crescendo nos estados do Amazonas, Rondônia e Pará, em função da existência de abelhas nativas especialistas na polinização do guaraná, do cafeeiro, e do açaizeiro”, complementa Santiago.

As espécies de abelhas-sem-ferrão (meliponicultura) são de ocorrência ecorregional, mesmo considerando um bioma único, como no amazônico. Por exemplo, no Pará, a jupará (Melipona interrupta) é encontrada com dominância no oeste do estado, a uruçu (M. seminigra), na região sudeste paraense, e as uruçus amarela (M. flavolineata) e cinzenta (M. fasciculata), no nordeste do estado.

Desafios da atividade

“Apesar do enorme potencial, a atividade ainda é limitada devido a diversos fatores, como volume, homogeneidade e qualidade da produção, além da falta de organização do segmento produtivo”, analisa o pesquisador.

Já a apicultura, afirma Santiago, consegue potencializar a organização dos produtores em associações, seja pelo uso dos equipamentos, pela mão de obra compartilhada e pelo volume de produção, que é maior em relação à produção da meliponicultura.

“Considerando que as atividades de criação racional de abelhas sócias são tipicamente exercidas por agricultores familiares, cada uma delas possui especificidades próprias, sejam relativas aos seus produtos ou ao comportamento das espécies de abelhas com relação ao ambiente”, analisa o pesquisador.

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O propósito da plataforma Infobee é auxiliar o processo de tomada de decisão dos criadores de abelhas (Foto: Ronaldo Rosa)

A presidente da Cooperativa de Trabalho dos Agricultores Familiares do Município de Primavera (Cooprima), Joelma Nunes, afirma que um dos maiores entraves à meliponicultura na região é a dificuldade em torno da legislação. “Para vender a produção, os meliponários precisam estar registrados juntos aos órgãos responsáveis e a produção deve atender às boas práticas. Esse tipo de informação precisa chegar na ponta para transformar a realidade”, explica.

Nos últimos anos, os estados do Amazonas e Pará implementaram legislações para potencializar a criação das abelhas nativas (Resolução Cemaam nº 34, de 27/12/2021) e a comercialização de produtos (Portaria n° 7.554/2021). “Essas legislações vêm fomentando a organização da cadeia produtiva em seus estados, porém a atividade ainda carece de subsídios”, avalia Santiago. Ele vê o pagamento por serviços ecossistêmicos como uma ferramenta importante para subsidiar os produtores e fortalecer a atividade na Amazônia.

É formado em Jornalismo. Possui experiência em produção textual e, atualmente, dedica-se à redação do CenárioMT produzindo conteúdo sobre política, economia e esporte regional.