Com o objetivo de fortalecer e valorizar toda a cadeia produtiva da erva-mate no Paraná, foi lançado, no dia 03/11, na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, em Francisco Beltrão, o Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação (Napi) Erva-Mate: Inovação e Valorização. A proposta constitui-se como resultado de uma articulação estratégica e colaborativa entre representantes do setor produtivo, da sociedade civil, do poder público e de instituições de ensino e pesquisa. O objetivo é promover o fortalecimento e a valorização da cadeia produtiva da erva-mate no estado do Paraná, por meio da adoção de sistemas de cultivo mais sustentáveis e eficientes, da otimização de processos industriais e da diversificação dos usos da matéria-prima. O investimento, no valor de R$ 3,9 milhões, é do governo do estado do Paraná, por meio da Fundação Araucária.
A Embrapa Florestas irá colaborar com o fornecimento de genótipos com características sensoriais diferenciadas e a implantação de sistemas de cultivo de erva-mate inovadores com estudo de previsões econômicas. Além da produção primária, a equipe da Embrapa contribuirá para o desenvolvimento de protocolos para classificação sensorial e otimização de processos industriais.
Segundo a proposta geral dos trabalhos a serem realizados pela Embrapa Florestas serão realizados estudos clínicos e pesquisas com consumidores brasileiros e de países vizinhos, além do desenvolvimento de novos produtos. “É um projeto amplo com envolvimento do setor produtivo e industrial nas etapas de pesquisa, desenvolvimento e capacitação, promovendo o fortalecimento da bioeconomia da erva-mate em todos os segmentos”, afirma a pesquisadora da Embrapa Florestas Catie Godoy, que liderou os trabalhos no Centro de Pesquisa, com participação efetiva dos pesquisadores Ivar Wendling, José Mauro Moreira e Regina Quisen e do analista Ives Goulart.
Ao todo estão envolvidos 19 instituições: Institut National de la Recherche Agronomique – Unite de Nutrition Humaine-Auvergne/França; Universidade da Califórnia, Davis – Departamento de Nutrição – Faculdade de Ciências Agrárias e Ambientais; Universidade da República (UdelaR) – URUGUAI; Universidade Nacional de Assunção – PARAGUAI; Universidade Nacional de Rosário – Argentina; Associação dos produtores e industriais de erva-mate do Paraná – APIMATE; Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, Golden Tree Viveiro Florestal; Ervateira Verdelândia (Guarapuava-PR); Triunfo do Brasil (São João do Triunfo-PR); Associação de agricultores ecológicos São Francisco de Assis (Irati-PR).
O Paraná é o maior produtor nacional de erva-mate, que possui grande relevância econômica, social e cultural para o Estado. Segundo a professora Burgardt de Cássia Fonseca Burgardt, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e articuladora do NAPI, o projeto busca integrar toda a cadeia produtiva, da produção primária ao consumo final, promovendo inovação e maior competitividade.
“Queremos desenvolver formas de produção mais rentáveis, que permitam ao pequeno produtor obter um ganho maior. Além disso, buscamos reduzir contaminantes que dificultam a exportação, garantindo um produto de maior qualidade e valor agregado”, explica Burgardt.
Há também estudos em andamento sobre os possíveis benefícios da erva-mate para a saúde. “Podendo ser benéfico para o coração, para o metabolismo do nosso organismo. A partir desses estudos clínicos, a gente pode indicar o uso da erva-mate, por exemplo em medicamentos, na própria indústria farmacêutica”, comenta Burgardt.
Segundo o diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação da Fundação Araucária, Luiz Márcio Spinosa, o Napi Erva-Mate é mais um passo para fortalecer a relação entre a universidade e a sociedade. “Esse Napi em particular chama muita atenção pelo envolvimento da sociedade civil organizada na região. Ele conta com um grupo bem expressivo, o que para nós é uma satisfação, o fato dessa proximidade das universidades com quem utiliza as pesquisas, quem vai utilizar os resultados. Então para nós é uma satisfação, é um Napi diferenciado e específico para entregas bem tangíveis”, afirma o diretor.
Outro foco importante do projeto é o uso da erva-mate como alimento. A iniciativa prevê o desenvolvimento de novas receitas e produtos alimentares com potencial de ampla acessibilidade, inclusive para inserção na merenda escolar. “A erva-mate é extremamente rica e versátil. Queremos ampliar seu uso na alimentação e promover cursos de capacitação para produtores e merendeiras, difundindo conhecimento e boas práticas”, acrescenta Burgardt.
Setor Produtivo
A diretora da Associação das Indústrias do Mate do Paraná (Apimate) e CEO da startup “e aí, bora — erva-mate fora da cuia”, Dayana Lubian Jankowski, destacou os desafios e avanços necessários para que a cadeia produtiva da erva-mate conquiste novos mercados e maior valorização.
“Nosso desafio à frente da APIMATE é muito grande. Mais do que aproximar universidades e indústrias, precisamos fazer com que o setor olhe para a erva-mate sob uma nova perspectiva — com uma visão de negócio moderna e integrada”, afirmou Dayana. Ela ressaltou que o Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação (NAPI) Erva-Mate representa um importante avanço nesse processo, especialmente para fomentar a padronização e a identidade do produto.
“O Napi vem para nos fortalecer, principalmente quando tratamos de padrões de qualidade e identidade da erva-mate. Hoje, cada indústria produz à sua maneira, e o consumidor acaba sem referência. Eu, que vim da indústria e hoje atuo no campo da inovação, com a minha startup, vejo que é essencial estabelecer padrões e garantir uma identidade clara. O consumidor tem o direito de saber o que está consumindo e de ter acesso a todos os novos produtos com os seus benefícios”, defendeu a empresária.
Eixos de atuação
O Napi Erva-Mate será estruturado em quatro eixos temáticos principais. No eixo de produção primária, coordenado pela Embrapa Florestas, serão validados genótipos com características químicas e sensoriais diferenciadas. Serão realizadas a implantação de sistemas de cultivo inovadores e estudo de perspectivas econômicas.
Já o eixo de processamento é coordenado pela Unioeste e conta com apoio da UTFPR e Embrapa Florestas, e visa melhorar processos industriais e desenvolver protocolos para classificação sensorial da matéria-prima.
“Hoje a erva mate chega na indústria e não tem um direcionamento adequado de acordo com a qualidade que ela apresenta. Então a gente também quer desenvolver protocolos para a indústria conseguir fazer essa classificação e direcionar, de forma mais assertiva, a nossa matéria-prima. Por exemplo, essa matéria-prima que chegou nesse lote é melhor para chimarrão, é melhor para tererê. Enfim, isso também é um avanço muito significativo que vai agregar muito valor ao produto”, destaca a professora Burgardt.
O terceiro eixo de trabalho diz respeito ao produto e consumidor: Esse Eixo é coordenado pela UTFPR e Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) em cooperação com a Sustentec (instituição que agrupa produtores, técnicos e profissionais ligados ao desenvolvimento sustentável) e universidades internacionais, que realizarão estudos clínicos, caracterização sensorial, pesquisa com consumidores e desenvolvimento de novos produtos.
O último eixo coordenado pela UTFPR, com apoio técnico do IDR-Paraná, envolve a realização de treinamentos e ações devolutivas a diversos segmentos da cadeia produtiva, além da elaboração do plano de comunicação do NAPI, voltadas à divulgação dos resultados e inovações tecnológicas.
O setor produtivo, representado pela Associação de Produtores e Industriais de Erva-Mate (Apimate), atuará de forma colaborativa em todos os eixos, contribuindo com a validação prática das ações e com a transferência de tecnologia para o mercado.













