Expansão da soja em Mato Grosso cresce apesar de acordo ambiental, aponta estudo
De 2008 a 2023, cultivo saltou de 5,8 para 10,5 milhões de hectares no estado
Nas últimas décadas, a área de cultivo de soja em Mato Grosso praticamente dobrou. Entre 2008 e 2023, a extensão plantada avançou de 5,8 milhões para 10,5 milhões de hectares. Desse total, 97,5% estão em áreas abertas antes de agosto de 2008, mostrando que a Moratória da Soja não freou o avanço produtivo.
As informações são da plataforma MapBiomas. O pacto, criado em 2006, impede que grãos cultivados em áreas desmatadas da Amazônia após julho de 2008 sejam comprados ou financiados. A medida buscava reduzir a pressão da agricultura sobre a floresta.
Impactos ambientais e riscos do fim da Moratória
Para Ana Paula Valdiones, coordenadora do programa de Conservação e Clima do Instituto Centro de Vida (ICV), acabar com a Moratória seria um risco direto ao equilíbrio ambiental.
“O ataque a esse acordo é preocupante em um cenário de emergência climática e aumento de eventos extremos, que já afetam inclusive a produtividade agrícola. Sem ele, a única barreira passa a ser o Código Florestal, cuja aplicação ainda é insuficiente”, destacou.
Desmatamento e novas áreas de cultivo
Entre agosto de 2008 e julho de 2024, foram perdidos cerca de 2,2 milhões de hectares de vegetação nativa na Amazônia mato-grossense. Apenas 16,4% (aproximadamente 353 mil hectares) ocorreram com autorização oficial.
Mapas de aptidão agrícola mostram que 1,6 milhão de hectares desmatados (73% do total) têm condições favoráveis para cultivo, aumentando a pressão pela expansão da soja nessas áreas já abertas.
Perspectivas e pressão do mercado internacional
Hoje, 56,9% da vegetação nativa da Amazônia em Mato Grosso está em propriedades rurais registradas, somando 17,7 milhões de hectares. Dentro desse montante, 1,1 milhão de hectares representam excedentes de reserva legal que poderiam, em tese, ser desmatados legalmente.
A demanda global por soja pode dobrar até 2050, com a China absorvendo 60% das importações mundiais. O Brasil, maior produtor mundial, terá de equilibrar expansão produtiva e sustentabilidade para não perder competitividade nem sofrer sanções ambientais.