Especialistas apontam aquicultura como pilar da bioeconomia e combate à crise climática

Fonte: Assessoria/Larissa Morais

Tambaqui - Foto: Jefferson Christofoletti

A aquicultura é uma solução promissora e de baixa pegada de carbono para os desafios da segurança alimentar e das mudanças climáticas. Esse foi o consenso durante o painel “Sistemas agroalimentares aquáticos: benefícios climáticos e socioambientais da aquicultura”, realizado na tarde de segunda-feira (17) pelo Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) na AgriZone, a Casa da Agricultura Sustentável na COP30.

Moderada pela secretária Nacional de Aquicultura, Fernanda Gomes de Paula, o debate reuniu especialistas que destacaram a eficiência produtiva do setor e seu potencial regenerativo.

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Baixa pegada de carbono e alta produtividade

Felipe Bodens, coordenador-geral de Desenvolvimento da Aquicultura em Águas da União do MPA, apresentou um panorama que posiciona a aquicultura com a menor pegada de carbono entre as cadeias de produção de proteína animal. Enquanto a agropecuária é responsável por 20% a 37% das emissões globais de gases de efeito estufa, a aquicultura contribuiu com apenas 0,5% dessas emissões em 2017.

O especialista apresentou dados de que a produtividade da piscicultura é 27 vezes maior do que a da bovinocultura em Rondônia. A atividade também se destaca pela utilização de recursos hídricos existentes, como rios e reservatórios, causando pressão por desmatamento e uso da terra.

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Bodens também trouxe os benefícios sociais da aquicultura, especialmente para comunidades costeiras e ribeirinhas.

Patrícia Valenti, professora do Centro de Aquicultura da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), ilustrou com exemplos práticos as oportunidades no Brasil. Ela citou o uso de 15 milhões de hectares de pastagens degradadas na Amazônia para viveiros de aquicultura como uma alternativa viável e de impacto ambiental muito menor que o da bovinocultura extensiva. Além disso, destacou o cultivo de macroalgas na Bahia e a produção de espirulina para a indústria farmacêutica no interior de São Paulo, que geram renda e atração para alguns dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Aposta nas algas

Um dos pontos de maior destaque do painel foi o potencial de cultivo de moluscos bivalves (ostras e mariscos) e algas. Esses organismos são considerados neutros ou quase neutros em carbono e desempenham um papel crucial na melhoria da qualidade da água, mitigando a eutrofização e a acidificação de ambientes costeiros.

A algicultura, em particular, foi apontada como uma “grande aposta” para enfrentar a crise climática. As algas já são utilizadas para a alimentação humana, cosméticos e embalagens biodegradáveis, entre outros, mas também oferecem alternativas sustentáveis ​​ao plástico, aos insumos derivados do petróleo e aos produtos químicos sintéticos.

Oportunidades na bioeconomia brasileira

Chantal Line Carpentier, chefe do departamento de comércio da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), endossou o potencial das algas, que já representam 30% do volume da aquicultura global. “Algas não são apenas um recurso, são uma plataforma para a bioeconomia”, afirmou.
Ela disse ainda que espera a participação do Brasil na Iniciativa Global das Nações Unidas para as Algas Marinhas (UNGSI). A plataforma colaborativa já reúne organismos da ONU e os governos de Madagascar, Indonésia e França.

Desafios climáticos na Amazônia

Alzira Miranda de Oliveira, professora do Instituto Federal do Amazonas (Ifam) e presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Amazonas (Crea-AM), trouxe a realidade amazônica para o debate, focando no tambaqui, a segunda espécie de pescado mais cultivada no Brasil e a mais consumida na região Norte.

A pesquisadora mostrou como as mudanças de temperatura da água afetam diretamente o metabolismo, a alimentação e, consequentemente, a produção do peixe. “Quanto mais quente o ambiente, mais comida terei que dar para o animal e menos produção terei”, explicou. Uma das adaptações no manejo tem sido o aumento da profundidade dos tanques para reduzir a temperatura da água.

A preocupação com as mudanças climáticas não é apenas econômica e ambiental. De toda proteína animal consumida no Norte, 70% advêm dos peixes. “A falta do tambaqui no mercado por levar a um problema social, pois o consumo de pescado para nós é cultural”, disse Alzira.

A professora falou também sobre alguns produtos de bioeconomia que vêm sendo desenvolvidos com resíduos do tambaqui, como uma farinha de peixe desenvolvida no Ifam para substituir a farinha de trigo e biojoias. “A Amazônia é vitrine de soluções em aquicultura, e nosso modelo pode ser exportado para outros países tropicais”, concluiu Alzira.

A coordenadora de Acessibilidade do MPA, Natália Lins, falou por vídeo sobre um projeto de aquaponia inclusiva lançado em 2024, na zona rural de Vitória de Santo Antão, em Pernambuco. Com um investimento de quase R$ 500 mil, a iniciativa visa integrar pessoas com deficiência na aquicultura e na aquaponia, promovendo o desenvolvimento sustentável e a segurança alimentar da comunidade local.

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Jornalista formado (DRT 0001781-MT), atua no CenárioMT na produção de conteúdos sobre política, economia, esportes e temas do agronegócio em Mato Grosso. Com experiência consolidada na redação e apuração regional, busca entregar informação clara e contextualizada ao leitor. Aberto a pautas e sugestões. Contato: [email protected] .