O Conexão Abisolo 2025, realizado nos dias 22 e 23 de outubro na Expo Dom Pedro, em Campinas (SP), consolida-se como espaço de articulação entre indústria, universidades e instituições públicas de pesquisa. Promovido pela Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal (Abisolo), o evento integrou o II Fórum de Fertilizantes de Matriz Orgânica e o III Simpósio de Biofertilizantes, com debates centrados em inovação, economia circular e aplicação de bioinsumos na mitigação de estresses abióticos.
Pesquisadores da Embrapa apresentaram resultados aplicáveis ao campo e tecnologias que ampliam a sustentabilidade da produção agrícola nacional.
Logo no primeiro dia, o painel sobre insumos de base orgânica trouxe a apresentação de Wagner Bettiol (Embrapa), que pontuou a relação entre saúde do solo e controle biológico: “Quando há um solo saudável, o controle biológico se faz sozinho”, disse, projetando ampla adoção de microrganismos pelos grandes produtores e estimando que produtos biológicos ganharão parcela significativa do mercado de pesticidas nas próximas décadas.
Em seguida, Fabiano Daniel De Bona, da Embrapa Trigo, defendeu o manejo técnico dos fertilizantes organominerais: “Fonte, dose, local e época corretas são determinantes para sustentabilidade e produtividade”, explicou.
A ênfase na pesquisa aplicada ao problema da seca foi ampliada pela presença e fala do pesquisador Itamar Soares de Melo (Embrapa Meio Ambiente), que abriu o painel “Bioinsumos e seus efeitos fisiológicos”. Especialista em microbiologia agrícola e controle biológico, Itamar convidou resultados de estudos sobre microrganismos promotores do crescimento que prejudicam os impactos da seca — problema que afeta cerca de 45% dos solos agricultáveis do país. “A produção de biofilme é uma seleção-chave na seleção dos isolados: essa camada protege raízes e folhas, melhora a agregação do solo, aumenta a biomassa microbiana e favorece a retenção de água nas plantas inoculadas”, afirmou.
Melo destacou que a integração entre seleção microbiana, manejo do solo e práticas de aplicação é essencial para transformar descobertas de laboratórios em soluções de campo.
Outro resultado prático foi de Ladislau Martin Neto, da Embrapa Instrumentação, que tratou a matéria orgânica do solo como elemento central para o sequestro de carbono e para geração de renda via créditos. Ele declarou uma tecnologia a laser, certificada pela Verra, capaz de medir carbono no solo com precisão e menor custo — um avanço para ampliar o acesso dos produtores ao mercado de créditos e práticas conservadoras. “Aumentar a teoria da matéria orgânica significa mais produtividade, mais resiliência e novas oportunidades de mercado”, afirmou Martin Neto.
As contribuições acadêmicas complementaram a visão aplicada: pesquisadores de universidades expuseram trabalhos sobre o uso de macroalgas, aminoácidos, substâncias húmicas e extratos vegetais como estratégias para mitigar estresses térmicos, hídricos e salinos. Palestras demonstraram que bioestimulantes e extratos vegetais atuam na fisiologia da planta, estimulando enraização, absorção de nutrientes e maior tolerância a condições adversas — resultados que dialogam diretamente com as propostas de pesquisa desenvolvidas na Embrapa.
O evento também debateu políticas públicas e cadeia produtiva. Autoridades e especialistas destacam iniciativas como o Centro de Excelência em Fertilizantes e Nutrição de Plantas (Cefenp) e o Plano Nacional de Fertilizantes, que visam reduzir a dependência de fertilizantes e fomentar centros regionais de pesquisa e inovação. Juristas e representantes do setor comentaram ainda desafios financeiros vívidos por produtores e a necessidade de alternativas de crédito e de maior capacitação do Judiciário para questões de recuperação rural.
Entre os destaques práticos do Conexão Abisolo 2025 esteve a premiação do III Simpósio de Biofertilizantes: entre 57 trabalhos inscritos, quatro foram premiados nas categorias Mérito Acadêmico e Mérito Inovação, registrando avanços em microalgas, extratos vegetais e produtos orgânicos. As iniciativas premiadas reforçam a conexão entre pesquisas feitas em universidades e institutos públicos (como a Embrapa) e a indústria de insumos, acelerando a entrega de tecnologias ao produtor.
Ao final do encontro, ficou evidente que a pesquisa pública tem papel central na transição para uma agricultura de menor impacto ambiental e mais resiliente: seja identificando microrganismos benéficos, desenvolvendo métodos de mensuração de carbono ou testando insumos orgânicos, os pesquisadores apresentaram soluções concretas que aproximam a ciência e a prática agrícola. Para muitos participantes, a mensagem foi clara: inovação e sustentabilidade caminham melhor quando pesquisa, indústria e políticas públicas atuam de forma integrada.















