Dados inéditos sobre a cobertura e o uso da terra nos biomas Amazônia e Cerrado foram apresentados nesta quinta-feira (20) durante evento na AgriZone, o espaço da Embrapa na COP30, em Belém (PA). Os resultados foram gerados pelo mapeamento mais recente do projeto TerraClass , referente ao ano de 2024, que traz um retrato da dinâmica de expansão e retração de áreas utilizadas para agricultura, pastagem e também áreas em processos de regeneração natural, com trechos secundários.
Com execução iniciada em 2011 na Amazônia e depois expandida para o Cerrado, o projeto é coordenado pela Embrapa e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e ajuda a qualificar o desmatamento, mostrando quais atividades foram implantadas nos locais onde houve supressão de vegetação, detectada pelo programa de monitoramento do desmatamento por satélite (Prodes).
O pesquisador Alexandre Coutinho, da Embrapa Agricultura Digital, apresentou os principais resultados sobre a dinâmica da agricultura no bioma Cerrado e dados preliminares do mapeamento para a Amazônia. Segundo ele, apresentamos informações essenciais para orientar as políticas de desenvolvimento sustentável no País.
A partir das séries históricas produzidas pelo projeto, é possível analisar as transições ocorridas ao longo do tempo e melhorar o entendimento sobre os fatores determinantes dos processos de desflorestamento e a dinâmica no território. “Existe uma série de políticas públicas que utilizam dados do TerraClass, tanto para avaliações de conformidade quanto para orientar programas como, por exemplo, o Caminho Verde Brasil, voltado à recuperação de pastagens degradadas”, afirmou.
Os dados para os dois biomas somados mostram que de 2022 a 2024 o temporário agrícola cresceu 9%. Mais de 91% dessa expansão foi sobre áreas já consolidadas com usos agropecuários, 2% sobre terrenos secundários, 5% sobre áreas desflorestadas em 2022 e 2% sobre vegetação primária.
O evento na AgriZone contou também com a mediação da pesquisadora Alessandra Gomes, coordenadora do INPE Amazônia.
Acesso aos dados
Os resultados das séries históricas podem ser acessados no GeoPortal TerraClass , que também oferece ferramentas analíticas interativas, permitindo gerar gráficos e análises integradas. Os produtos gerados pelo TerraClass são bianuais. Os dados completos mais recentes para o bioma Cerrado já estão disponíveis na plataforma e compõem a série histórica que vai de 2018 a 2024. Os dados completos para a Amazônia serão disponibilizados até o final deste ano, integrando a série iniciada em 2008.
Bioma Amazônia
O mapeamento de 2024 aponta que o bioma Amazônia, com seus mais de 4 milhões de km², tem cerca de 78% de sua área coberta por formações naturais, que incluem o vegetação natural primária e outros ecossistemas não florestais típicos da região. O mapeamento Prodes de 2024 mostra que houve uma redução de aproximadamente 54% no desflorestamento do bioma em comparação com 2022.
O projeto TerraClass mapeia qual tipo de atividade ocupa as áreas desmatadas e, em linhas gerais, enfoca três categorias principais: agricultura – incluindo cultivos temporários, semiperenes, perenes e silvicultura – pastagem e trechos secundários.
Durante o painel na AgriZone, Coutinho apresentou dados preliminares para a agricultura no bioma Amazônia. Eles mostram que, das áreas que já foram alteradas pela ação humana até 2024, aquelas destinadas aos usos agrícolas específicos são de 12%, sendo que o temporário agrícola (trabalhos de ciclo curto) é predominante (10,5%). Entre esses cultivos temporários, 20% das áreas produzem uma safra anual. Na prática de mais de um ciclo de produção agrícola, sobretudo o sistema soja/milho (safra e safrinha) representa 80%. Em 2022 era 88%. “A análise da agricultura mostrou um dado inédito. Pela primeira vez a frequência de cultivos de mais de um ciclo anual recuaram, entre 2022 e 2024”, explicou o investigador.
A comparação com o último período da série histórica mostra que, em termos absolutos, as culturas agrícolas de um ciclo tiveram, em 2024, um aumento de 95% em relação à área registrada em 2022. Essa expansão ocorreu em cima de áreas que antes tinham cultivos de mais de um ciclo (35%) ou sobre áreas de pastagens (30%). A expansão sobre o vegetação natural primária e sobre áreas desflorestadas em 2022 foi baixa, correspondendo a apenas 0,9% e 2% respectivamente. O trabalho de mapeamento do bioma Amazônia recebeu financiamento do Banco Mundial.
Cerrado teve redução de área com cultivos agrícolas de mais de um ciclo
Dos quase 2 milhões de km² compreendidos pelo bioma Cerrado, cerca de 47% concentram-se em áreas naturais primárias. Dos cerca de 52% de áreas antropizadas, quase 57% são ocupadas por pastagens, 33% por agricultura e 8% por aglomerado natural secundário. Dentro da classe agrícola, um quarto (25%) é formado por cultivos temporários, dos quais 64% apresentam áreas de safra e safrinha (mais de um ciclo anual).
A comparação entre os dois últimos mapeamentos do Cerrado, de 2022 e 2024, mostra que as culturas agrícolas temporárias tiveram um aumento total de área de 8%. A área de cultivos agrícolas de um ciclo aumentou 41%. Esse aumento aconteceu prioritariamente sobre áreas já consolidadas com cultura temporária de mais de um ciclo (31%) e também onde antes havia pastagens (20%). Apenas 0,5% resultaram de expansão sobre áreas de florestas naturais secundárias e 0,9% sobre áreas de florestas naturais primárias. Cerca de 42% da cultura agrícola de um ciclo manteve-se na mesma área.
No entanto, pela primeira vez a tendência de intensificação agrícola percebida nos últimos anos da série histórica, com a presença de mais de uma safra numa mesma área, mostrou sinal de retração. Os cultivos agrícolas de mais de um ciclo tiveram uma redução de área calculada em 11,5% ou 8 mil km². A razão pode estar relacionada ao clima, com a ocorrência de seca e calor extremo que comprometeram, principalmente, a janela de plantio da segunda safra.
De 2022 a 2024, houve um aumento de 7,5% (7,7 mil km²) de área com vegetação secundária natural, sendo que dos 81 mil km² existentes em 2024, 44% (35,5 mil km²) se encontram há pelo menos seis anos em processo contínuo de regeneração.
Os produtos do TerraClass para o Cerrado foram gerados no âmbito do projeto FIP Paisagens Rurais, financiados com recursos do Programa de Investimento Florestal, gerenciados pelo Banco Mundial. O FIP Paisagens Rurais envolve, entre outras instituições parceiras, o Serviço Florestal Brasileiro (SFB/MMA), o Ministério da Agricultura e Pecuária, a Agência de Cooperação Técnica Alemã (GIZ) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar).
Tecnologia nacional
O projeto TerraClass fornece informações estratégicas sobre os biomas Amazônia e Cerrado, que juntos cobrem mais de 70% da superfície do território brasileiro. É a fonte oficial do Estado brasileiro e utiliza tecnologia 100% nacional, garantindo independência e soberania na capacidade de monitorar, gerenciar e divulgar as informações sobre a dinâmica de cobertura e uso da terra no Brasil, além de apresentar conformidade com outros dados oficiais, como o próprio Prodes e o Cadastro Ambiental Rural (CAR). Ao longo dos anos, o projeto vem investindo na evolução metodológica e na infraestrutura de processamento de dados, adotando tecnologias de ponta como Brazil Data Cube e metodologias baseadas em classificação de séries temporais a partir de algoritmos de aprendizagem de máquina, incluindo aprendizado profundo, contidas no pacote computacional SITS desenvolvido pelo Inpe.














