Rede criminosa formada por reeducandos e ex-detentos de Charqueadas usava perfis falsos, montagens e ameaças para extorquir vítimas
A Polícia Civil de Mato Grosso desencadeou nesta manhã uma operação interestadual para desarticular uma quadrilha especializada em extorsão virtual que atuava a partir do Rio Grande do Sul. O grupo, composto por reeducandos, ex-reeducandos e pessoas ligadas à Penitenciária Estadual de Charqueadas, forjava imagens íntimas falsas de vítimas e exigia pagamentos que chegavam a R$ 100 mil sob a ameaça de supostas investigações envolvendo menores de idade.
Batizada de Operação Falso Contato, a ação mobiliza equipes mato-grossenses em Porto Alegre e em outras cinco cidades da Região Metropolitana. As ordens judiciais — 16 mandados de busca e apreensão, além de medidas que incluem afastamento de sigilo telefônico — foram expedidas pelo Juízo 4.0 de Garantias de Cuiabá. A investigação, que começou há dois anos, revelou uma estrutura organizada dedicada ao golpe conhecido como “sextorsão”.
Como funcionava o golpe aplicado contra vítimas de MT
Os suspeitos criavam perfis falsos nas redes sociais, especialmente no Instagram, simulando ser uma adolescente. O contato inicial era construído de maneira aparentemente inocente, geralmente com perguntas sobre trabalho, indicações profissionais ou curiosidades da área de atuação da vítima. Em seguida, a conversa era migrada para o WhatsApp, onde a abordagem se tornava mais direta.
Nessa etapa, os criminosos capturavam a foto de rosto da vítima e produziam montagens que simulavam imagens ou vídeos íntimos. Com o material pronto, entrava em cena um segundo integrante da quadrilha, que se passava por “pai da adolescente” ou “policial civil”. Esse falso interlocutor acusava a vítima de conversar sexualmente com uma menor e ameaçava prisão, exposição pública e abertura de inquérito por pedofilia.
Para evitar a suposta investigação, os extorsionadores exigiam pagamentos que variavam conforme a vulnerabilidade percebida da vítima, chegando a cobrar até R$ 100 mil em casos analisados pela Polícia Civil. Em algumas situações, os criminosos diziam pertencer a facções criminosas, aumentando a pressão psicológica.
Rede criminosa tinha origem comum em penitenciária gaúcha
O delegado Guilherme Campomar da Rocha explica que a investigação identificou 16 envolvidos diretamente ligados à execução do golpe. Entre eles, há detentos e ex-detentos da Penitenciária Estadual de Charqueadas, além de familiares e visitantes que atuavam como intermediários logísticos, responsáveis por celulares, chips, movimentações e suporte externo.
Segundo ele, a operação demonstra o avanço das técnicas de investigação digital empregadas pela Polícia Civil de Mato Grosso, que utilizou análises telemáticas complexas e cruzamento de dados para chegar à estrutura da quadrilha. O delegado destaca que, apesar de crimes virtuais parecerem anônimos, os rastros deixados no ambiente digital permitiram o mapeamento da rede de extorsão.
O trabalho investigativo também identificou aparelhos usados para criar, armazenar e distribuir as montagens falsas. Por isso, um dos objetivos centrais da operação desta terça-feira é apreender smartphones, notebooks e tablets usados pelos criminosos — dispositivos fundamentais para a manipulação de imagens e para o contato com as vítimas.
Impacto da operação e continuidade das investigações
A Polícia Civil aponta que a quadrilha tinha atuação interestadual e foco em vítimas de Mato Grosso, embora existam suspeitas de que a rede tenha alcançado outras localidades. A análise do material apreendido deve revelar conexões adicionais, histórico de golpes anteriores e possíveis novos integrantes.
A ação também reforça os alertas sobre segurança digital, tema que frequentemente integra debates e orientações em editorias de cidadania, já que golpistas utilizam engenharia social e técnicas de manipulação emocional para coagir vítimas. A investigação deve avançar nos próximos dias para concluir o rastreamento das contas usadas para receber valores e identificar eventuais ramificações.
A Operação Falso Contato representa um avanço significativo no enfrentamento à extorsão virtual e demonstra a capacidade técnica da Polícia Civil de Mato Grosso em desarticular redes criminosas mesmo quando operam a partir de outros estados. A expectativa é que a análise do material recolhido permita responsabilizar todos os envolvidos e evitar que novas vítimas sejam atingidas pela quadrilha.


















