No coração de Mato Grosso, avançam os preparativos para aquela que já é considerada a maior obra ferroviária em andamento no país. Trilhos empilhados, dormentes recém-fabricados e centenas de máquinas espalhadas pelo canteiro de obras revelam a dimensão da ferrovia estadual que ligará Rondonópolis, no Sul, a Lucas do Rio Verde, no Norte — um trajeto fundamental para impulsionar o transporte de grãos rumo ao porto de Santos.
A megaestrutura está sendo construída pela iniciativa privada e promete redesenhar o fluxo logístico do estado líder na produção de soja e milho. Até 2030, serão 743 quilômetros de trilhos, conectando de vez a região mais produtiva do país à malha ferroviária paulista.
Um corredor que nasce gigante
Mato Grosso responde por cerca de 40% dos grãos exportados pelo Brasil, segundo dados de 2024. E a nova ferrovia surge justamente para dar vazão ao avanço da fronteira agrícola rumo ao Norte do estado.
Na prática, ela permitirá que milhares de toneladas de soja e milho sigam de trem até São Paulo e, de lá, para o Porto de Santos. Isso representa:
- menor custo logístico,
- menor emissão de carbono,
- menos caminhões nas estradas,
- mais competitividade no mercado internacional.
Investimento bilionário e empregos
O investimento total deve ficar entre R$ 12 bilhões e R$ 15 bilhões — totalmente financiado pela concessionária responsável pela obra. A estimativa é que 145 mil empregos diretos e indiretos sejam gerados ao longo do projeto.
A infraestrutura impressiona:
- 22 pontes,
- 21 viadutos,
- 2 km de túneis,
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além de uma fábrica de dormentes produzindo peças de 400 kg cada.
Só o primeiro trecho, entre Rondonópolis e Campo Verde, consumirá R$ 5 bilhões e terá 211 km. A previsão é de que 160 km comecem a operar já em 2026.
Hoje, mais de 5 mil trabalhadores estão mobilizados no projeto — número que representa 60% das vagas de infraestrutura atualmente ativas no estado.
Rondonópolis: o ponto de partida
A base da operação fica em Rondonópolis, cidade que já abriga um dos maiores terminais ferroviários do país e recebe 1.600 caminhões por dia, movimentando mais de 22 milhões de toneladas de cargas por ano.
O novo terminal, em construção em Dom Aquino, terá capacidade para mais 10 milhões de toneladas por ano — reforçando o papel do estado como potência agrícola.
⚙ Um modelo que inaugura uma nova era
Esta é a primeira ferrovia no Brasil construída a partir de autorização estadual, um formato que permite que toda a infraestrutura pertença à empresa responsável por erguer os trilhos — com direito de operação por 100 anos.
O modelo abre caminho para outros projetos semelhantes e já atrai interesse de companhias de setores como papel e celulose.
Integração com uma malha nacional
Quando concluída, a Ferrovia Estadual de Mato Grosso se integrará aos mais de 13 mil km de trilhos operados pela concessionária, que controla cerca de 1.200 locomotivas e 33 mil vagões, em 10 terminais multimodais.
Isso também deve reduzir gargalos logísticos atuais — como a histórica fila de caminhões na região — agora controlada por sistema de agendamento digital.
Um futuro de cargas mais diversificado
A obra ainda acompanha uma mudança no comportamento do mercado. Tradicionalmente, a safra de soja seguia até julho, dando lugar ao milho até dezembro. Mas, em 2025, a soja segue chegando aos terminais mesmo em novembro — e a tendência é que o novo corredor ferroviário amplie ainda mais essa capacidade.
Enquanto isso, dormentes, trilhos e equipamentos se acumulam à espera da instalação definitiva. A paisagem de Mato Grosso já começa a mudar — e o impacto econômico promete ser profundo e duradouro.














