Desaparecimento de onça-pintada símbolo da conservação na Argentina levanta suspeita de caça ilegal

Fêmea chamada Acaí fazia parte de um projeto pioneiro para restaurar a espécie no norte do país

Fonte: Redação

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Foto ilustrativa: CenárioMT

Uma das principais representantes do programa de reintrodução da onça-pintada (Panthera onca) na Argentina desapareceu misteriosamente no Parque Nacional El Impenetrable, na província de Chaco, reacendendo o alerta sobre a caça ilegal e os desafios para a conservação da espécie.
A fêmea, batizada de Acaí, havia sido libertada em outubro como parte de um esforço histórico para repovoar a região — onde não se registravam onças selvagens há mais de três décadas.

De acordo com a Administração de Parques Nacionais (APN), o colar de rastreamento por GPS e rádio usado por Acaí foi encontrado danificado e submerso no rio Bermejo, o que reforça a hipótese de sabotagem humana. A autoridade ambiental acionou imediatamente a Justiça e forças de segurança para investigar o caso.

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“O dano no equipamento foi intencional e indica interferência externa. Estamos tratando o caso como suspeita de caça ilegal”, informou a APN em comunicado.

Um retrocesso para a conservação da espécie

O desaparecimento de Acaí é considerado um golpe devastador para o programa de reintrodução da onça-pintada, conduzido pela APN, o governo do Chaco e a Fundación Rewilding Argentina.
O projeto visa reestabelecer uma população reprodutiva no ecossistema do Gran Chaco, um dos mais ameaçados da América do Sul, onde o desmatamento e os incêndios florestais reduziram drasticamente o habitat natural da espécie.

A presença de Acaí simbolizava um marco na restauração ecológica da região, pois o retorno do predador de topo é essencial para controlar populações herbívoras e preservar o equilíbrio das florestas.
Nas primeiras semanas após a soltura, a onça foi monitorada com sucesso, deslocando-se pela zona de Los Manantiales, até que os sinais de seu colar desapareceram repentinamente.

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O papel ecológico da onça-pintada

Reconhecida como um dos maiores predadores das Américas, a onça-pintada exerce um papel fundamental na manutenção da biodiversidade. Sua presença regula cadeias alimentares e contribui para a regeneração natural de biomas degradados.

“Cada indivíduo reintroduzido representa anos de pesquisa e esperança. A perda de Acaí não é apenas simbólica — ela afeta diretamente a viabilidade de toda a população”, lamentou um dos biólogos do programa, sob anonimato.

Sem a fêmea, cientistas temem um atraso de vários anos nos planos de reprodução e na consolidação da população estável no norte argentino.

Conservação ameaçada e impunidade

O caso de Acaí expõe um dos maiores desafios da conservação na América do Sul: o combate à caça furtiva em áreas protegidas. Mesmo em parques nacionais, a presença de caçadores e criadores de gado ainda representa riscos constantes para a fauna silvestre.

A legislação argentina protege a onça-pintada por meio da Lei Nacional nº 25.463, que a declara Monumento Natural Nacional, tornando crime qualquer forma de caça, captura ou dano ao animal.
Ainda assim, especialistas afirmam que a fiscalização é limitada e as sanções raramente são aplicadas com rigor.

“Enquanto não houver um compromisso social e político real, os programas de reintrodução continuarão vulneráveis. Precisamos unir ciência, educação e justiça ambiental”, declarou a Fundación Rewilding Argentina em nota.

Menos de 250 onças restam no país

Hoje, estima-se que menos de 250 onças-pintadas vivam em estado selvagem na Argentina, concentradas principalmente nas florestas de Misiones, nas Yungas do noroeste e nas regiões remanescentes do Chaco.
A fragmentação do habitat, os incêndios e os conflitos com a pecuária seguem como as principais ameaças à espécie.

O projeto de reintrodução de El Impenetrable é um dos poucos da América do Sul dedicados à restauração de grandes felinos, e vem sendo acompanhado por organizações ambientais internacionais como a WWF e a IUCN.

Um chamado à ação

Apesar do impacto emocional e científico, a APN afirmou que o programa de restauração não será interrompido.
Equipes técnicas já planejam reforçar a vigilância na área e aprimorar os sistemas de monitoramento remoto.

“Acaí representa anos de dedicação e cooperação entre pesquisadores, comunidades e voluntários. Sua perda é dolorosa, mas reforça nossa determinação em proteger o que resta do Chaco”, disse a nota da Rewilding Argentina.

O desaparecimento da onça-pintada é mais do que um caso isolado — é um alerta sobre o futuro da vida selvagem no continente.
Proteger cada exemplar é preservar não apenas uma espécie, mas todo um ecossistema ameaçado pela ação humana.

Reportagem: CenárioMT Internacional – Redação Ambiental
Com informações de: Rewilding Argentina, APN, Clarín, BBC Mundo

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