A tragédia provocada pelo rompimento da barragem em Mariana (MG), em 2015, completa uma década e ainda marca a vida de comunidades afetadas ao longo do Rio Doce. Entre essas cidades está Governador Valadares, onde o quadrinista João Marcos Mendonça lançou a graphic novel Doce Amargo, que narra em 186 páginas o cotidiano local durante a crise causada pela chegada da lama contaminada.
A obra funciona como uma reportagem em quadrinhos, revelando a rotina das famílias que dependiam do Rio Doce para abastecimento. Dias após o rompimento, a lama avançou pelo rio e comprometeu completamente o fornecimento de água, atingindo uma cidade que já enfrentava racionamento devido à seca.
João aparece como protagonista ao lado de sua família. As cenas registram desde o uso de caminhões-pipa até filas para conseguir água. O autor conta que manteve um diário durante o período, observando o ambiente de tensão e insegurança vivido pela população.
As anotações se tornaram o roteiro da HQ, que acompanha não apenas a história de sua casa, mas de outras pessoas afetadas, mostrando as dificuldades cotidianas que não apareciam na cobertura mais ampla da tragédia.
A narrativa busca ser didática e acessível, aproximando o leitor dos desdobramentos do desastre. A obra também destaca as consequências ambientais e sociais da contaminação: morte de peixes, mau cheiro, restrições para higiene básica e o impacto emocional diante da incerteza sobre o futuro.
Segundo o autor, o processo criativo levou anos, pois revisitar o episódio exigiu lidar novamente com lembranças difíceis. O recorte escolhido para o álbum abrange o primeiro ano da crise, apresentando uma visão direta e humana do que ocorreu.
















