Moradores dos complexos da Penha e do Alemão e de outras favelas do Rio de Janeiro promoveram um protesto na tarde desta sexta-feira (1º) em reação à Operação Contenção, realizada na última terça-feira, que resultou na morte de 121 pessoas. Apesar da chuva, milhares se reuniram em um campo de futebol da Vila Cruzeiro e seguiram em caminhada até a Avenida Brasil.
Mães de jovens mortos em ações anteriores se destacaram na manifestação. Liliane Santos Rodrigues, do Complexo do Alemão, perdeu seu filho Gabriel Santos Vieira, de 17 anos, há seis meses, durante perseguição policial enquanto estava na garupa de uma moto por aplicativo a caminho do trabalho.
“Sinto a dor dessas mães. Ver um rapaz morrer no mesmo local que meu filho foi um baque enorme. É algo que só quem vive entende”, disse Liliane, que ainda teme pela segurança de sua filha de 9 anos.
Outro caso é o de Nádia Santos, do Complexo do Chapadão, que perdeu dois filhos em operações policiais, em 2015 e 2022, e denuncia que o governo estadual não oferece oportunidades para os jovens, reforçando que o tráfico se torna uma alternativa.
Adriana Santana de Araujo, mãe de Marlon Santana de Araujo, vítima da operação do Jacarezinho em 2021, também participou. Ela relatou ter sofrido com fake news que atribuíram a ela fotos de violência, obrigando-a a se mudar do Jacarezinho após quase 40 anos vivendo na comunidade.
Membros de movimentos sociais e trabalhistas marcaram presença, como a dirigente sindical Raimunda de Jesus, que destacou a desigualdade no tratamento do Estado entre áreas periféricas e ricas: “O Estado não pode nos ver como inimigos, deve cuidar de toda a população”.
O governo do estado informou que a Operação Contenção teve o objetivo de cumprir 100 mandados de prisão e 180 de busca e apreensão contra a facção criminosa Comando Vermelho. A ação mobilizou cerca de 2,5 mil agentes, tornando-se a maior operação em 15 anos, com alta letalidade.
Dos 121 mortos, quatro eram policiais e 117 civis. Até o momento, 99 vítimas foram identificadas, 89 corpos liberados pelo Instituto Médico Legal, 78 tinham histórico criminal e 42 possuíam mandados de prisão pendentes.
Entidades de direitos humanos qualificaram a operação como “massacre” e criticaram o elevado número de mortes, enquanto moradores relatam ter encontrado sinais de tortura e mutilações em corpos retirados de áreas de mata após a operação.















