Mato Grosso está se posicionando para se tornar um exemplo internacional de desenvolvimento sustentável, mesmo diante da perspectiva de redução hídrica no Pantanal. Este foi o foco da audiência pública conjunta realizada nesta segunda-feira (20) entre a Comissão de Meio Ambiente (CMA) do Senado e a comissão correlata da Assembleia Legislativa de Mato Grosso.
As propostas discutidas serão levadas à COP 30 (Conferência da ONU sobre Mudança do Clima), em Belém, em novembro. Segundo o senador Wellington Fagundes (PL-MT), que presidiu o debate, o estado apresentará a países propostas de financiamento climático, uso do solo e infraestrutura de baixo impacto de carbono, baseadas na sua experiência regional.
O senador Wellington Fagundes enfatizou a importância do conhecimento local nas políticas públicas. Ele destacou que o Estatuto do Pantanal, sancionado em setembro, cria regras apropriadas para a agropecuária responsável, valorizando a tradição.
“É fundamental conhecer a vivência do homem pantaneiro na sua tradição, que sabe o momento [adequado de fazer o manejo de fogo] muito mais do que, às vezes, quem está lá em Brasília e que nunca pisou o pé aqui dentro do Pantanal,” disse o senador.
Queimadas controladas e sucesso no combate ao fogo
O comandante do Corpo de Bombeiros, coronel Flávio Vieira Bezerra, celebrou o recorde na redução de incêndios florestais em 2025, apesar da pouca chuva. Ele atribuiu o mérito à atuação integrada entre as entidades e produtores rurais.
“A gente bateu o recorde na série histórica de 27 anos em redução no número de incêndios, justamente nos três meses onde há o maior período de registros de incêndios florestais. O maior parceiro do Corpo de Bombeiros é o pantaneiro.”
O programa Fazenda Pantaneira Sustentável, uma parceria entre Famato e Embrapa, foi citado por Marcos Carvalho (Famato) como um modelo de crescimento sustentável. O projeto instrui produtores a preservar o ambiente enquanto aumenta a eficiência da pecuária, como a elevação da taxa de prenhez de 41% para 70,92% no projeto-piloto (2019-2023).
O risco hídrico e a meta de neutralidade de carbono
O cenário de longo prazo para o Pantanal, que ocupa cerca de 7% de Mato Grosso, não é promissor em termos de recursos hídricos. Leandro Denis Battirola, diretor do Instituto Nacional de Pesquisa do Pantanal, afirmou que a projeção para 2050 é de menos chuva, o que deve prejudicar a atividade econômica e o ecoturismo.
“Alguns pontos [de perda de água] são irreversíveis. O Pantanal sem água deixa de ser Pantanal.”
O debate também abordou a necessidade de financiamento climático internacional, com o promotor de Justiça Marcelo Caetano Vacchiano argumentando que países ricos devem “pagar a conta” pelos serviços ambientais prestados pela floresta, que beneficia o mundo inteiro.
Neste contexto, o diretor-executivo do Instituto PCI, Richard Smith, destacou que Mato Grosso busca a ambiciosa meta de neutralidade de carbono até 2035, alinhando-se às expectativas da COP 30, que é considerada a “COP da implementação”.