O número de vítimas de sextorsão vem crescendo de forma preocupante em Mato Grosso. Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública, os registros de golpes virtuais envolvendo chantagem com imagens íntimas aumentaram 27% em 2024 — um reflexo direto do avanço das interações em redes sociais e aplicativos de relacionamento. Esse tipo de crime, popularmente conhecido como “golpe do novinho ou novinha”, tem provocado prejuízos financeiros e emocionais às vítimas em todo o estado.
O esquema se inicia com conversas aparentemente inocentes em plataformas como Instagram ou WhatsApp. A vítima acredita estar conhecendo alguém com interesses amorosos, mas o diálogo evolui para a troca de mensagens íntimas. A partir daí, os criminosos capturam as imagens — muitas vezes por meio de outro celular — e passam a exigir dinheiro para não divulgá-las.
Em um dos casos recentes, uma mulher relatou que um suposto delegado entrou em contato afirmando que familiares de um jovem, com quem ela teria trocado fotos, haviam procurado a polícia. O homem dizia que o garoto estava em crise e pedia uma transferência de R$ 1,5 mil para custear um “tratamento psicológico”. Quando a vítima recusou, começaram as ameaças: “Quero o dinheiro em meia hora, senão mando tudo para sua família”, escreveu o golpista.
Investigações revelaram que os estelionatários chegaram a usar a foto real de um policial do Rio Grande do Sul, cuja imagem vinha sendo falsamente associada ao esquema para dar credibilidade à chantagem. Conforme informou a Polícia Civil, essa prática é comum em redes criminosas que atuam em vários estados, utilizando identidades de agentes públicos e até advogados como fachada.
Operações conjuntas e vítimas de alto prejuízo
Em março deste ano, a Operação Phantom desarticulou uma das quadrilhas mais ativas desse tipo de golpe, prendendo 13 suspeitos em ação coordenada entre Mato Grosso e Rio Grande do Sul. As investigações apontam que o grupo faturou mais de R$ 3 milhões em extorsões, tendo entre as vítimas um empresário cuiabano que perdeu cerca de R$ 2 milhões após cair nas ameaças.
Especialistas em crimes cibernéticos observam que a sofisticação dos golpes digitais acompanha o avanço tecnológico. Segundo o delegado Guilherme Berto Nascimento Fachinelli, da Delegacia de Crimes Informáticos (DRCI), esses criminosos utilizam técnicas de engenharia social para manipular o emocional das vítimas. “Eles sabem explorar vulnerabilidades psicológicas, criam narrativas convincentes e se aproveitam do medo da exposição pública. É fundamental desconfiar de perfis que pedem intimidade precoce”, alertou.
Prevenção e orientação às vítimas
O fenômeno não é novo, mas vem ganhando novas formas e maior alcance. Um levantamento da Polícia Civil aponta que 64% dos casos recentes ocorreram em cidades médias, como Sinop, Rondonópolis e Cáceres, onde há crescente adesão a aplicativos de namoro. O artigo 158 do Código Penal enquadra a prática como extorsão, com pena que pode chegar a 10 anos de prisão.
As autoridades reforçam que nenhuma quantia deve ser enviada aos criminosos e que as vítimas devem registrar boletim de ocorrência o mais rápido possível. Mesmo imagens enviadas com o recurso de “visualização única” podem ser copiadas com outro aparelho — o que desmonta a falsa sensação de segurança oferecida pelas plataformas. A Polícia Civil mantém canais de denúncia anônima e atendimento especializado para casos de sextorsão e crimes virtuais.
As informações foram confirmadas pela assessoria da Polícia Civil de Mato Grosso.