Plantação comercial de árvores nativas será objeto de pesquisa para produção de madeira legal

Fonte: Assessoria/Manuela Bergamim

arvores silvicultura
Foto: Divulgação Ufscar

O Programa de Pesquisa e Desenvolvimento em Silvicultura de Espécies Nativas (PPD&SEN) receberá o aporte de R$ 30,8 milhões do BNDES, e será coordenado pela Embrapa e UFSCar, com o objetivo de sistematizar o conhecimento e desenvolver tecnologia para o plantio comercial de espécies nativas, como pau-brasil, jacarandá-da-bahia, mogno, ipê e cumaru, entre outras. A busca iniciativa do país para se tornar protagonista no mercado internacional de madeira tropical, garantindo uma produção estável e sustentável a longo prazo, reflorestando áreas degradadas e gerando empregos, além de proporcionar benefícios econômicos e sociais à população.

O projeto foi proposto pelo Conselho Diretivo do programa, lançado em 2021 pelo movimento “Coalizão Brasil”, composto por mais de 400 representantes do setor privado, setor financeiro, academia e sociedade civil e, além da UFSCar, contará com a cooperação da Embrapa.

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A silvicultura é uma ciência dedicada ao cultivo, manejo e conservação de florestas e áreas arborizadas. Ela abrange desde o planejamento e o planejamento até a colheita e o processamento de produtos florestais, como madeira e celulose. A finalidade do projeto é desenvolver e divulgar inovações tecnológicas, contribuindo para que a silvicultura de espécies nativas ganhe escala no Brasil, um exemplo do que ocorre com a silvicultura de eucalipto. A expectativa é de que o país possa ocupar uma posição de liderança na produção sustentável de madeira tropical.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) concedeu apoio financeiro de R$ 24,9 milhões provenientes do Fundo Tecnológico do Banco (BNDES Funtec). O apoio do BNDES responde por 80,8% dos recursos demandados. Como contrapartida, o volume total dos investimentos chega a R$ 30,8 milhões. A iniciativa conta, ainda, com suporte administrativo, financeiro e logístico da Fundação de Apoio Institucional ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FAI UFSCar).

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Segundo a diretora Socioambiental do BNDES, Tereza Campello, atualmente, no Brasil, a província de madeira tropical principalmente de florestas naturais já existentes e o crescimento da silvicultura de espécies nativas pode se somar, por exemplo, ao que já é obtido com manejo florestal sustentável em concessões de florestas nacionais.

“Com isso, promovemos a conservação da biodiversidade, o sequestro de carbono e a geração de emprego e renda. Mas esse crescimento só é possível com aplicação do conhecimento e da tecnologia, essencial para atrair novos investimentos e expandir o mercado para atender parte significativa da demanda global. O objetivo é criar um setor pujante, assim como oferecido com aviação, energias renováveis ​​e com o próprio setor de silvicultura, com base em pínus e eucalipto, onde fomos decisivos para o Brasil despontar como um dos líderes mundiais”, afirmou a diretora.

Pesquisas na Amazônia e na Mata Atlântica

Cinco temas serão trabalhados: sementes e mudanças, melhoramento genético, propagação vegetativa, manejo florestal e tecnologia da madeira. O projeto abrange pesquisas para um total de 30 espécies nativas prioritárias nos biomas Amazônia e Mata Atlântica. As atividades serão desenvolvidas por meio de subprojetos, nossas quais instituições de pesquisa atuarão como parceiros executores, que ainda poderão contar com a participação de empresas privadas, as quais responderão por contrapartidas financeiras e não financeiras.

Os plantios das espécies serão prioritariamente mistos (várias espécies), com colheitas em diferentes escalas temporais, sem implicar necessariamente no corte total das árvores. As atividades ocorrerão em 20 sítios em áreas de universidades, centros de pesquisa e empresas parceiras, dos quais 14 disponibilizarão um total aproximado de 160 hectares para o plantio das espécies selecionadas. Outras seis, onde já existem plantios com idades que variam entre 15 e 45 anos, serão polos de referência.

O projeto tem duração de cinco anos, mas é encarado como uma primeira fase de um programa mais amplo que pode chegar a 30 anos. Devido à sua abrangência de conhecimento e aplicação de muitas espécies, a expectativa é que o projeto apresente diversos resultados, um exemplo de clones melhorados de espécies madeireiras, protocolos de tratamento de sementes, arranjos de espécies de melhor adaptados às regiões e tecnologias para produtos de madeira de pequena dimensão.

Ao propor o projeto, a Coalizão Brasil indicou a UFSCar para desenvolver ações na Mata Atlântica pela diversidade e experiência de seu corpo técnico. A coordenação das atividades no bioma será dos professores Fátima Conceição Marquez Piña-Rodrigues, do Departamento de Ciências Ambientais do Campus Sorocaba, e Ricardo Augusto Gorne Viani, do Departamento de Biotecnologia e Produção Vegetal e Animal do Campus Araras.

“Vamos atuar com pesquisadores dos quatro campi da UFSCar, com experiência na região da Mata Atlântica e nas parcerias com vários órgãos governamentais e empresas, não somente no Estado de São Paulo, mas em outras regiões do país. A nossa iniciativa visa mudar um paradigma: deixaremos de cortar para plantar, estimularemos o planejamento sustentável em detrimento da tração ilegal”, ressalta Fátima.

Na Amazônia, o programa será prolongado pela Embrapa Amazônia Oriental, sob responsabilidade da pesquisadora Noemi Leão, e pela Embrapa Florestas, sob responsabilidade do pesquisador Silvio Brienza Junior.

“A Embrapa foi a escolhida para atuar na Amazônia pelo histórico de pesquisas realizadas neste bioma e pela permeabilidade na região amazônica, já que possui unidades em todos os estados cobertos pela floresta”, explica o pesquisador.

A estrutura do conhecimento: de laboratórios vivos à madeira engenheirada

Conforme explica Brienza, o programa foi desenhado de forma inteligente para acelerar a geração de resultados. Ele não tirou zero. Uma parte crucial do trabalho será a qualificação de “polos de referência” ou “laboratórios vivos ” – áreas onde experimentos com nativos já foram plantados há 15, 30 ou até 45 anos. “Nós já temos alguns “laboratórios vivos”, para gerar conhecimento e que não será necessário esperar 45 anos. Esse tempo a gente já tem amadurecido. Só precisamos qualificar”, explica o pesquisador.

Já nos locais novos de plantio a serem implantados na Amazônia e na Mata Atlântica foram testados arranjos de espécies, melhoramento genético e sistemas de manejo. Um desses sítios fica sob responsabilidade da própria Embrapa Florestas.

A inovação não para nenhum campo. Brienza destaca que a “tecnologia da madeira” será uma aliada fundamental. O conceito de madeira engenheirada (como a madeira laminada cruzada) permite o uso de toras de menores diâmetros, colhidas em desbastes ou em ciclos mais curtos. “Ao fazermos o manejo dessas áreas, com os cortes de algumas para permitir o desenvolvimento das demais, estaremos colhendo toras de menor diâmetro, que com a tecnologia de madeira engenheirada, permitiremos darmos um fim nobre e renda mais cedo para quem vai investir nesse segmento”, detalhando. O objetivo é criar um “cardápio” mais amplo de produtos de madeira, com núcleos e veios naturais, concorrendo com as opções atuais de pínus, eucalipto e MDF.

Benefícios ecológicos e comerciais

As madeiras das espécies de árvores nativas do Brasil estão entre as mais valiosas do mundo e são adequadas para diversos usos e setores. Por esta razão, elas são alvo de exploração ilegal. Para mudar esse cenário, é preciso ampliar o conhecimento envolvido na silvicultura de árvores nativas, que ainda é dispersa e não sistematizada no Brasil.

“O país tem 50 milhões de hectares de áreas de pastagens degradadas com baixa demanda agrícola. Elas poderiam ser beneficiadas por atividades de reflorestamento para a produção de madeira. Isso corresponde a cerca de metade da área necessária para atender à crescente demanda global por madeira até 2050. Hoje, apesar dessa vantagem competitiva, o Brasil responde por menos de 10% da produção mundial de madeira tropical”, explicou Tereza Campello.

O projeto da UFSCar e da Embrapa está alinhado aos esforços do BNDES de promoção da bioeconomia. Além disso, a silvicultura de árvores nativas é vista como uma atividade que pode contribuir com a restauração produtiva ecológica em todos os biomas, inclusive no Arco da Restauração da Amazônia, que está no centro de estratégia ambiental do Banco. A meta é recuperar 6 milhões de hectares até 2030, alcançando 24 milhões de hectares até 2050, mudando assim a paisagem do que hoje é conhecida como Arco do Desmatamento, área fortemente degradada que vai do oeste do Maranhão e sul do Pará em direção a oeste, passando por Mato Grosso, Rondônia e Acre. Esse esforço vai exigir iniciativas variadas e parcerias entre setores nacionais e internacionais, privados e públicos, para garantir os investimentos necessários.

“A expectativa é que, em 30 anos, o Brasil possa se consolidar como referência global em silvicultura tropical – um legado que começa agora, com a união de empresas, instituições como Embrapa, UFSCar e BNDES em torno de um mesmo objetivo: fazer da floresta em pé um ativo estratégico do país”, frisa o pesquisador da Embrapa Florestas.

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Formado em Jornalismo, possui sólida experiência em produção textual. Atualmente, dedica-se à redação do CenárioMT, onde é responsável por criar conteúdos sobre política, economia e esporte regional. Além disso, foca em temas relacionados ao setor agro, contribuindo com análises e reportagens que abordam a importância e os desafios desse segmento essencial para Mato Grosso. Cargo: Jornalista, DRT: 0001781-MT