Polícia mira líder de esquema de apostas clandestinas em MT

Investigação da Polícia Civil e FICCO cumpre mais de 100 ordens judiciais e bloqueia R$ 1,1 milhão ligados ao esquema de raspadinhas ilegais em Mato Grosso.

Fonte: CenárioMT

Polícia mira líder de esquema de apostas clandestinas em MT
Foto: PMMT

O impacto financeiro das apostas clandestinas em Mato Grosso volta a ser sentido. As investigações mostram que parte do lucro desses jogos, longe de ser inofensiva diversão, abastecia a estrutura da facção Comando Vermelho no estado. A nova fase da operação deflagrada nesta terça-feira (14) mira novamente em Ederson Xavier de Lima, o “Boré”, apontado como um dos articuladores do esquema.

O grupo comandado por Boré mantinha uma rede de apostas de raspadinhas totalmente fora do sistema financeiro legal, gerenciada por aplicativos de mensagens e intermediários. A polícia identificou que o investigado controlava o fluxo de dinheiro gerado pelas vendas, inclusive o pagamento de prêmios com contas de terceiros – estratégia comum para mascarar a origem dos valores.

[Continua depois da Publicidade]

De acordo com o delegado Antenor Pimentel, da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), a estrutura criminosa era organizada e contava com o apoio de colaboradores em diversos municípios. “Não havia site, não havia portal. Tudo era feito pelo WhatsApp, com repasses imediatos e disfarçados”, explicou o investigador. A análise dos dados mostrou movimentações de alto valor realizadas entre contas abertas com nomes falsos, o que levou à solicitação de bloqueios judiciais e à quebra de sigilos bancários.

Operação se estende por 30 cidades e bloqueia mais de R$ 1 milhão

Com mandados expedidos pela 5ª Vara Criminal de Sinop, a ação conjunta da GCCO, DRACO e FICCO resultou em 21 prisões preventivas, 54 buscas e apreensões, 25 ordens de quebra de sigilo e 11 bloqueios judiciais. Os valores sequestrados superam R$ 1,1 milhão, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública. Além disso, centenas de bilhetes, banners e materiais de divulgação das raspadinhas foram recolhidos para descarte, encerrando parte das operações visíveis do grupo.

[Continua depois da Publicidade]

Os mandados foram cumpridos simultaneamente em mais de 30 municípios, entre eles Sinop, Cuiabá, Rondonópolis, Tangará da Serra e Alta Floresta. A extensão da operação reflete o alcance que o jogo ilegal havia ganhado nos últimos anos. Somente entre 2022 e 2024, o estado registrou aumento de 27% nas investigações ligadas a jogos de azar digitais, segundo levantamento da Sesp-MT — número que ajuda a dimensionar o tamanho do problema.

Conexões com facções e o desafio do controle financeiro

O caso de Boré expõe uma tendência recente observada por investigadores: o uso de plataformas de mensagens para movimentar recursos ilícitos. O formato permite que as transações ocorram sem rastreabilidade imediata, dificultando o trabalho da polícia e ampliando o lucro das organizações. “As facções estão migrando para modelos de apostas que não deixam rastro digital formal, mas que geram muito dinheiro rápido”, analisou um membro da FICCO, sob reserva.

Em Mato Grosso, o crime de exploração de jogos de azar é previsto no artigo 50 da Lei de Contravenções Penais, mas a associação a organizações criminosas e a lavagem de dinheiro agravam as penas. É nesse ponto que o caso de Boré se diferencia: a Justiça entende que o jogo ilegal servia como meio de financiamento para o crime organizado, o que eleva o potencial de dano social.

A Justiça determinou ainda o descarte do material apreendido e a continuidade das diligências para rastrear os lucros desviados para fora do estado. As informações foram confirmadas pela assessoria da Polícia Civil. Cidadãos podem encaminhar denúncias anônimas relacionadas a esquemas semelhantes pelo canal 197 ou pelo site oficial da Sesp-MT.

Para receber nossas notícias em primeira mão, adicione CenárioMT às suas fontes preferenciais no Google Notícias .