Ouvir um “piiiiiii”, “chiado” ou “assobio” repentino no ouvido é uma experiência comum, mas que muitas vezes gera confusão e até preocupação. Esse som fantasma, que surge sem nenhuma fonte sonora externa, tem um nome clínico: zumbido ou tinnitus.
Longe de ser uma doença em si, o zumbido é um sintoma, um sinal de que algo pode estar desregulado no sistema auditivo ou, surpreendentemente, em outras áreas do corpo. Embora possa ser um evento passageiro (como depois de um som muito alto), a persistência desse ruído exige atenção, pois ele é, na maioria das vezes, a forma como nosso cérebro reage a uma falta de informação sonora.
O que está acontecendo no seu ouvido e cérebro?
O zumbido é, essencialmente, uma falha de comunicação. A causa mais comum está ligada à perda auditiva, mesmo que em um nível muito sutil que você ainda não percebeu no dia a dia.
- Dano às Células Ciliadas: Dentro do ouvido interno (cóclea), existem minúsculas células ciliadas que vibram com o som e enviam sinais elétricos ao cérebro. A exposição a ruídos altos, o envelhecimento natural ou traumas podem danificar ou quebrar essas células.
- A Compensação Cerebral: Quando as células danificadas param de enviar sinais de certas frequências, o cérebro percebe um “vazio”. Em uma tentativa de compensar a falta de informação sonora, o cérebro aumenta a atividade neural na área auditiva correspondente. É essa atividade elétrica espontânea e desorganizada que é interpretada como um som constante – o famoso “piiiiiii”.
O zumbido é um excelente exemplo da neuroplasticidade do cérebro, ou seja, sua capacidade de se reorganizar e se adaptar. Infelizmente, essa adaptação nem sempre é confortável.
Oito causas mais comuns do zumbido (Tinnitus)
Embora o dano auditivo seja o fator principal na maioria dos casos, o zumbido pode ter uma variedade de gatilhos e agravantes.
- Exposição a Ruídos Altos: Esta é a causa mais fácil de identificar. Estar perto de uma caixa de som em um show, usar fones de ouvido em volume máximo ou trabalhar em ambientes barulhentos são as formas mais rápidas de causar um trauma acústico e um zumbido, que pode ser temporário ou permanente.
- Acúmulo de Cera (Cerume Impactado): Um bloqueio físico no canal auditivo causado pelo excesso de cera pode alterar a pressão no ouvido e levar ao zumbido. Este é um caso reversível, resolvido com a limpeza profissional feita pelo otorrinolaringologista.
- Envelhecimento (Presbiacusia): Com o avanço da idade, a perda auditiva nas frequências mais altas é natural, e o zumbido frequentemente acompanha essa perda.
- Disfunção da ATM: A Articulação Temporomandibular (ATM), que liga o maxilar ao crânio, fica muito próxima ao ouvido. Problemas como bruxismo (apertar os dentes) ou tensão muscular na mandíbula podem desencadear ou agravar o zumbido, muitas vezes com a sensação de estalo ao mastigar.
- Estresse e Ansiedade: Embora o estresse não crie o zumbido, ele atua como um amplificador. O sistema emocional do cérebro (sistema límbico) intensifica a percepção do ruído, tornando-o insuportável em momentos de ansiedade ou depressão.
- Problemas Vasculares: Em casos raros, o zumbido pode ser pulsátil (acompanha o ritmo do seu coração). Isso pode indicar um problema no fluxo sanguíneo, como hipertensão (pressão alta) ou aterosclerose em vasos próximos ao ouvido.
- Doenças Metabólicas e Hormonais: Condições crônicas como Diabetes, desregulação da Tireoide ou problemas de colesterol e triglicerídeos podem afetar a circulação e o metabolismo do ouvido interno, contribuindo para o sintoma.
- Medicamentos Ototóxicos: Alguns remédios, como certos antibióticos, diuréticos, quimioterápicos e até o uso excessivo de analgésicos comuns, podem ter o zumbido como um efeito colateral.
Quando o “Piii” se torna um alerta?
Se você experimentar um zumbido breve após um evento ruidoso, relaxar e evitar mais barulho pode ser suficiente. No entanto, é essencial não ignorar um zumbido persistente ou recorrente.
O zumbido é uma das principais razões para procurar um otorrinolaringologista (médico especialista em ouvido, nariz e garganta). O profissional fará um exame físico e, geralmente, solicitará uma audiometria para avaliar sua audição.
Você deve procurar ajuda médica se:
- O zumbido for constante ou recorrente (não desaparece após 48 horas).
- O som estiver aumentando de intensidade.
- O zumbido vier acompanhado de outros sintomas como tontura, vertigem ou perda auditiva perceptível.
- Estiver afetando sua qualidade de vida, sono, concentração ou humor.
Lembre-se: o zumbido pode ser tratado. O tratamento foca em identificar e gerenciar a causa subjacente (cera, pressão alta, estresse), e muitas vezes envolve terapias sonoras ou o uso de aparelhos auditivos, que ajudam a mascarar o som fantasma e a reativar as áreas auditivas do cérebro.